O realismo mágico já não é o que era

Mesmo com a música de Chico Buarque e Edu Lobo, o regresso do brasileiro Carlos Diegues é um filme serôdio, fora de tempo, “cinéma de papa” que nem o charme Ruiziano de alguns momentos resgata.

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O brasileiro Carlos Diegues foi um dos alunos do Cinema Novo brasileiro e cineasta com alguma importância nos anos 1960/1970. Primeira longa-metragem de ficção de Diegues em doze anos, projecto ambicioso erguido em co-produção com Portugal e França, O Grande Circo Místico é uma peça de “realismo mágico” serôdio e extemporâneo, acompanhando ao longo de uma centena de anos a ascensão e queda de um circo familiar nascido à luz do cometa de Halley.

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O brasileiro Carlos Diegues foi um dos alunos do Cinema Novo brasileiro e cineasta com alguma importância nos anos 1960/1970. Primeira longa-metragem de ficção de Diegues em doze anos, projecto ambicioso erguido em co-produção com Portugal e França, O Grande Circo Místico é uma peça de “realismo mágico” serôdio e extemporâneo, acompanhando ao longo de uma centena de anos a ascensão e queda de um circo familiar nascido à luz do cometa de Halley.

É um guião original, inspirado pelo poema de 1938 de Jorge de Lima que já tinha por seu lado inspirado o espectáculo musical do mesmo nome com canções de Chico Buarque e Edu Lobo — e que partilha, por exemplo, uma ideia de “realismo mágico” com obras anteriores como Bye Bye Brasil (1980) ou Orfeu (1999). Mas, embora esta não seja uma adaptação do musical, o filme usa as canções de Chico e Edu (entre as quais algumas das pérolas maiores do cancioneiro Buarque de Hollanda, como Beatriz, Meu Namorado ou A Bela e a Fera) como âncoras, ora nas versões originais do disco de 1983 ora em novas gravações feitas para o cinema.

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O resultado é um filme que nunca é tão interessante nem tão original como gostaria de ser. Parece limitar-se a reproduzir os padrões tradicionais da saga familiar novelesca, com dramas do coração a ditar os altos e baixos do Grande Circo Místico montado por um jovem médico em homenagem ao amor da sua vida em 1910, à medida que os descendentes do casal vão enfrentando a mudança dos tempos. Pelo meio dessa narrativa com o seu quê de chapa-quatro, filmada quase sempre de maneira banalmente ilustrativa, há ainda assim alguns bonitos rasgos de inspiração. Como os floreados visuais que dão a passagem do tempo ou elidem momentos dramáticos com um embalo ondulante Ruiziano; ou a presença constante e cativante de Jesuíta Barbosa como Célavi, o mestre-de-cerimónias/anjo da guarda do circo, única personagem que transpira a dimensão mística, de fábula, que Diegues tenta mas não consegue fazer passar. E, sobretudo, há a música de Chico e Edu, “arame” que mantém preso um filme muito desequilibrado, pontualmente de mau gosto e sem os meios para a ambição que quer ter, que parece dar a O Grande Circo Místico a “espinha dorsal” que de outro modo não teria.