O adeus de Missy Franklin às piscinas é o início de algo novo

Nadadora norte-americana de 23 anos coleccionou seis medalhas olímpicas, cinco delas de ouro.

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Missy Franklin viveu momentos de glória nos Jogos Olímpicos de 2012 David Gray/Reuters

Pelos padrões de qualquer outra modalidade, Missy Franklin seria, com 23 anos, uma jovem. Não necessariamente para a natação, à qual a norte-americana dedicou quase duas décadas da sua vida, tendo coleccionado títulos olímpicos e mundiais. Nesta quarta-feira, Missy Franklin anunciou publicamente o final da sua carreira devido aos problemas físicos que a atormentaram nos últimos anos.

Aos 13 anos Missy Franklin estava nos campeonatos de apuramento olímpico para os atletas norte-americanos, com vista aos Jogos de Pequim 2008. Não entraria na equipa, mas viveria no início da década de 2010 a fase mais brilhante da carreira. Chegou aos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, com 17 anos e conquistou cinco medalhas: quatro ouros (100m costas, 200m costas, 4x200m livres, e 4x100m estilos) e um bronze (4x100m livres). Na capital britânica estabeleceu também um recorde mundial que continua a deter: o dos 200m costas, em 2m04,06s. Nos Mundiais de 2011 arrebatara cinco medalhas (três ouros, uma prata e um bronze), e dois anos depois nos Mundiais de Barcelona conquistaria seis medalhas de ouro.

“Os primeiros 18 anos da minha carreira foram um autêntico conto de fadas. As coisas não podiam fazer mais sentido: trabalhas arduamente, tens uma atitude positiva, todos os dias fazes o teu melhor, e vais-te tornando mais rápida. Foi assim que funcionou comigo. Trabalhava arduamente, treinava arduamente, e nadava mais rapidamente, ano após ano após ano”, escreveu Missy Franklin na carta em que anunciou o final da carreira, publicada pelo site da ESPN.

As dificuldades viriam depois. A preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, foi marcada por problemas físicos. “2015 foi o ano em que comecei a aceitar o facto de que havia algo errado com o meu corpo, e que não estava a funcionar como era suposto”, prossegue a nadadora, destacando a “dor no ombro sempre que tentava treinar ou competir, depressão, ansiedade e insónias”.

“Treinei com tudo isso – a dor física e emocional – e fiz tudo o que podia para manter a cabeça erguida. Em retrospectiva, sobreviver àqueles oito dias no Rio foi o maior feito da minha carreira. Consegui manter-me fiel ao que sou no falhanço e desapontamento, como tinha conseguido no triunfo e ao ser a melhor do mundo”, recorda Missy Franklin.

“Na competição do Mesa Pro Series em Abril de 2016, tive de desistir devido a dores intensas nos ombros decorrentes de uma lesão sofrida no aquecimento. Nunca tinha sentido aquele tipo de dor antes e isso deixou-me desfeita. Faltavam quatro meses para os Jogos Olímpicos e muita gente esperava que fosse o maior momento da minha carreira desportiva. Após o sucesso dos meus primeiros Jogos, em Londres, as expectativas eram ainda maiores”, escreve a nadadora que no Rio de Janeiro se ficou por uma medalha de ouro na estafeta 4x200m livres.

Ia começar o calvário de Missy Franklin. “Tinha de enfrentar a dor que até aí me tinha esforçado por ignorar. Em Janeiro e Fevereiro de 2017 fui operada aos ombros esquerdo e direito”, escreveu a nadadora. Seguiu-se um longo processo de recuperação e fisioterapia, com vista ao regresso ao topo da natação mundial, mas os resultados não foram os esperados: “Todos os momentos que não estava a treinar eram passados a recuperar com gelo e descanso, enquanto tentava preparar-me para o próximo treino. Mas nada estava a funcionar.”

Foi-lhe diagnosticada tendinite crónica e as injecções não disfarçavam as dores. “Restava uma opção: outra cirurgia, e mesmo isso não era garantia de nada”, recordou Missy Franklin. “Comecei a aperceber-me que o maior sonho da minha vida, ainda maior que o ouro olímpico, era ser mãe. A natação foi uma grande parte da minha vida, desde que me lembro, mas não é toda a minha vida”, escreveu.

“Demorei muito tempo a dizer as palavras ‘Vou terminar a carreira’. Muito, muito tempo. Mas agora estou pronta. Estou pronta para não sentir dores todos os dias. Estou pronta para me tornar esposa e, um dia, mãe”, resume Missy Franklin. O seu adeus às piscinas é o início de algo novo: “Estou pronta para o resto da minha vida”, termina.

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