Cancro do pulmão: tratamentos personalizados e cada vez mais eficazes

A incidência e taxa de mortalidade do cancro do pulmão não descansam os especialistas. Por outro lado, os avanços da Medicina têm permitido oferecer alternativas terapêuticas dirigidas a cada doente possibilitando maior qualidade de vida mesmo que não se consiga a cura.

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Continua a ser um dos cancros mais incidentes na Europa e ainda que não lidere as taxas de mortalidade, pode ter um prognóstico mais reservado muito devido à fase em que é detectado. “Em Portugal, o cancro do pulmão é o quarto mais incidente e o segundo que mais mata, a seguir ao cancro colo-rectal”, afirma António Araújo, médico oncologista e director do Serviço de Oncologia Médica no Centro Hospitalar do Porto (CHP).

As estimativas da Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), pertencente à Organização Mundial de Saúde, apontam para o surgimento de mais de dois milhões de novos casos de cancro do pulmão em 2018, a nível global, representando quase 12% da incidência total da doença oncológica. Ao mesmo tempo, a IARC prevê que este tipo de cancro seja responsável por mais de 1,7 milhões até ao final deste ano.

No mês em que se assinala a sensibilização para o cancro do pulmão, não é demais relembrar que o tabaco é directa ou indirectamente responsável por 80% dos tumores. Um dos grandes desafios da comunidade médica assenta no diagnóstico precoce já que os fumadores tendem a desvalorizar os sintomas [tosse, falta de ar e expectoração] associando-os ao consumo de tabaco. “É por isso que a maioria dos doentes já chega em estádios muito avançados da sua doença”, alerta António Araújo. O facto de os casos chegarem mais tarde às consultas de especialidade vai condicionar as opções terapêuticas que têm de ser adequadas a cada caso. “Cada doente é um doente que tem um tumor específico que não é igual ao de outro paciente”, explica o médico.

A evolução da ciência tem vindo a permitir identificar cada vez mais as características dos tumores de forma individual. “Estamos cada vez mais a individualizar o tratamento do cancro do pulmão, através do desenvolvimento de terapias dirigidas a alvos, de precisão, que já constituem uma prática comum, todos os dias, em Portugal”, sublinha.

Inovação a caminho do futuro

Os avanços terapêuticos e as inovações têm sido crescentes ao longo dos anos, e se até ao início do séc. XXI, era a quimioterapia que liderava os tratamentos, matando células saudáveis e malignas em simultâneo, a partir do ano 2000, foram descobertas mutações genéticas nas células tumorais que eram responsáveis pelo desenvolvimento do tumor. “Portanto, se começássemos a utilizar medicamentos que bloqueassem o produto dessas mutações, iríamos travar o desenvolvimento do cancro, através da Medicina Personalizada”, explica António Araújo.

Há cerca de cinco anos, surgiu uma mudança de paradigma no tratamento do cancro do pulmão com a utilização de imunoterapia que é benéfica “para 30 a 40% dos doentes, através da modulação do sistema imunológico dos doentes para tratar as células cancerígenas”, acrescenta o médico.

Em tumores precoces, em fase muito inicial, ou muito localizados, a indicação é cirúrgica, garante o director de serviço do CHP. A própria cirurgia sofreu alguma evolução ao longo dos anos “com o desenvolvimento do que se chama ‘vídeotoracoscopia’, menos invasiva e com uma recuperação mais fácil e rápida para os doentes”.

A quimioterapia, as terapias dirigidas a alvos e a imunoterapia destinam-se a cancros do pulmão avançados ou metastizados [aparecimento de tumores secundários], e a indicação não é cirúrgica. “Nos tumores localmente avançados, que não são precoces, mas que também não têm metástases, não podemos propor cirurgia, mas sim, radioterapia com quimioterapia concomitante. Conseguimos depois sugerir imunoterapia de manutenção, que pode ser para o longo da vida, desde que o doente tolere e o tumor esteja controlado”, explica o médico. Esta medicação “para sempre” não é curativa, mas permite transformar o cancro do pulmão numa doença crónica. “O desenvolvimento de medicamentos mais ‘amigos do doente’ tem-nos permitido conferir mais quantidade com melhor qualidade de vida aos nossos doentes”, garante o director de serviço.

Há que ter esperança no futuro, sugere o médico oncologista. “A Medicina está a evoluir muito rapidamente e estão a ser descobertos medicamentos cada vez mais eficazes para controlar esta doença.” O futuro pode passar por medicamentos dirigidos a alvos terapêuticos, mais eficazes, por um lado, e com menos efeitos colaterais, por outro.

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