Um festival sem fronteiras musicais em Idanha-a-Nova

O trio polaco Kapela Maliszów, Les Kapsber'girls com canções populares francesas do século XVIII e o canto em língua occitana de Lo Còr de la Plana são alguns dos destaques da sétima edição do Festival Fora do Lugar.

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O trio polaco Kapela Maliszów DR

Idanha-a-Nova, classificada em 2015 como Cidade da Música no âmbito da Rede de Cidades Criativas da UNESCO, recebe a partir desta sexta-feira a sétima edição do Festival Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas. Passeios no campo, a acção pedagógica “O músico vai à escola” e o concerto do trio polaco Kapela Maliszów na antiga Sé de Idanha-a-Velha (às 21h30) preenchem o primeiro dia de uma programação diversificada que até 8 de Dezembro inclui concertos, workshops, projectos educativos, exposições e actividades no âmbito da gastronomia, da natureza e do desenho.

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Idanha-a-Nova, classificada em 2015 como Cidade da Música no âmbito da Rede de Cidades Criativas da UNESCO, recebe a partir desta sexta-feira a sétima edição do Festival Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas. Passeios no campo, a acção pedagógica “O músico vai à escola” e o concerto do trio polaco Kapela Maliszów na antiga Sé de Idanha-a-Velha (às 21h30) preenchem o primeiro dia de uma programação diversificada que até 8 de Dezembro inclui concertos, workshops, projectos educativos, exposições e actividades no âmbito da gastronomia, da natureza e do desenho.

Resultado da colaboração entre a produtora Arte das Musas e o Município de Idanha-a-Nova (com o apoio da Direcção-Geral das Artes), o Festival Fora do Lugar é apresentado pelos seus organizadores como “uma proposta do mundo rural virada para o país, para a Península Ibérica e para a Europa”. Para o tenor Filipe Faria, director artístico do festival e um dos fundadores do conhecido agrupamento Sete Lágrimas, trata-se de “provar que é possível inovar evitando fórmulas demasiado sedimentadas”.

O programa aborda “diferentes formas e tempos da música” e promove diálogos entre o erudito e o popular e entre o antigo e contemporâneo. Idanha-a-Nova, sublinha, é um dos concelhos portugueses com maior área e menor população (menos de dez mil habitantes), pelo que o Festival Fora do Lugar constitui um exemplo da “capacidade de produzir cultura num cenário onde muitos não concebem pensá-la neste moldes: o país perdido das pequenas aldeias quase desertas”. Daqui decorre “uma das virtudes maiores do projecto, a possibilidade de chegar até onde mais ninguém se deu ao trabalho de ir”.

Tendo em conta que, “ao longo da história da música, passado e presente cruzam caminhos incessantemente”, e que as habituais classificações estão longe de ser lineares, a programação procura ultrapassar fronteiras entre géneros musicais e contempla quer a tradição escrita, quer a tradição oral.

Além do programa de abertura Jazz de aldeia, pela já referida Kapela Maliszów – um trio formado por elementos de uma mesma família oriunda da região montanhosa de Beskides, que inclui violino, basolia (instrumento semelhante ao violoncelo usado na música folclórica da Polónia e da Ucrânia) e baraban (tambor) –, será possível assistir ainda este fim-de-semana aos Bailes para ouvir sentado de Eva Parmenter (concertina), Denys Stetsenko (violino) e Juan de la Fuente (percussão), com danças italianas, francesas, suecas e portuguesas em versões herdadas da tradição ou reinventadas (sábado, às 21h30, em Proença-a-Velha).

No dia 30, o agrupamento francês Les Kapsber'girls apresenta um aliciante programa dedicado às Brunettes do século XVIII, por vezes também designadas como Airs. As Brunettes eram originalmente melodias populares de tradição oral às quais o impressor parisiense Christophe Ballard (1641-1715) acrescentou outras vozes, uma linha de baixo e harmonizações ao gosto da época. Este repertório adquiriu grande sucesso nas práticas musicais privadas da classe média alta e da nobreza.

Mestres da gaita de foles como Anxo Lorenzo (Galiza) e Blackie O'Connell (Irlanda) actuam a 1 de Dezembro no Centro Cultural Raiano de Idanha-a-Nova no âmbito da Noite Cheia, cujo programa inclui o lançamento do livro/filme Do Ramo de uma Árvore, um projecto de Filipe Faria e do oboísta Pedro Castro com os mestres construtores de instrumentos Mário Estanislau e Vítor Félix, e várias exposições: Encantal, o Mundo Natural da Beira Baixa, de Luísa Ferreira Nunes; Catorze Histórias Incríveis ou o Fabuloso Imaginário das Lendas da Beira Baixa, de José Manuel Castanheira, Fernando Paulouro e Filipe Faria; e Cadernos, de Eduardo Salavisa. Haverá também na mesma noite uma Tertúlia com sopa.

Destaca-se ainda o projecto Aella, encomendado pelo festival ao cantor e instrumentista irlandês Dave Boyd, com as vozes de Karoliina Kantelinen (Finlândia), Simona Gatto (Itália), Montserrat Ruiz (Espanha/UK) e Laetitia Marcangeli (França), intérpretes contemporâneas de canções para mulheres das tradições carélia, corsa, grega, italiana e ibérica (7 de Dezembro). O concerto de encerramento (dia 8) cabe a Manu Theron e Lo Còr de la Plana, carismático grupo de vozes masculinas e percussões da região de Marselha, que canta em língua occitana e tem realizado uma vibrante carreira internacional.

Todos os concertos são de entrada gratuita, sujeita à lotação das salas. As restantes actividades também são gratuitas, mas requerem inscrição prévia, que pode ser feita em artedasmusas.com/foradolugar.