Um festival Fora do Lugar para formar novos públicos de música antiga

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Filipe Faria concebeu o festival

O concelho de Idanha-a-Nova recebe a partir de hoje um novo festival que promove o diálogo entre a cultura erudita e popular

Fazer os artistas e o público acreditar novamente num diálogo entre "a arte da academia e as tradições populares" é o motivo pelo qual nasceu o Fora do Lugar - Festival Internacional de Músicas Antigas. Fora do Lugar é um novo festival dedicado às músicas antigas, eruditas e populares, com uma programação descentralizada, que começa esta noite em Idanha-a-Nova (às 21h, na Sé Catedral), prolongando-se até 15 de Dezembro em vários lugares emblemáticos deste concelho da Beira Interior.

O projecto foi concebido pelo tenor Filipe Faria, director musical do conhecido agrupamento Sete Lágrimas e responsável pela produtora Arte das Musas. "Vivemos um momento de grande incerteza e perplexidade, no qual tudo parece estar fora do lugar", diz Filipe Faria ao PÚBLICO. E é então objectivo do festival "desafiar a comunidade artística e o público a encontrar na arte uma renovada esperança de diálogo entre a ancestralidade e a contemporaneidade, entre a arte da academia e a as tradições populares." Essa ponte entre o passado e o presente e entre várias culturas tem dominado o percurso dos Sete Lágrimas, expresso numa discografia variada que acaba de ser enriquecida com mais um volume (Península) da série Diáspora.pt, dedicada a repertórios dos países do cinco continentes visitados pelos portugueses.

A marca dos Sete Lágrimas na filosofia do festival é evidente, mas este foi pensado em função do meio onde se insere. Filipe Faria refere "a importância de valorizar as tradições regionais do país" e a aposta numa "programação descentralizada em contracorrente" em vez de impor modelos artificiais. "Procurámos desenvolver o diálogo da arte e da cultura com o património, as tradições e a ecologia humana e criar uma programação descomplexada mas preocupada com a formação de novos públicos para as artes antigas vistas como raízes do tempo presente."

O festival propõe um conjunto de seis concertos, uma conferência pelo musicólogo Rui Vieira Nery, dois workshops (Al-duff, do adufe tradicional ao mediterrâneo, por Rui Silva, e Danças europeias com Eva Parmenter) e programas de descoberta da região integrados na rede Naturtejo. No concerto inaugural será possível ouvir o agrupamento francês Les fon-amoureuses, que traz a Idanha-a-Nova o programa do CD Marion le Roses, editado com grande sucesso pela etiqueta Alpha na colecção Cantos da Terra e dedicado às canções francesas e sefarditas do tempo do Império Otomano. Outras ofertas musicais incluem o Natal ibérico, sagrado e devoção popular pelo coro polifónico Eborae Mvsica no dia 7; a estreia ao vivo do CD Península pelos Sete Lágrimas numa actuação que tem como convidadas as Adufeiras de Monsanto (dia 8); as Suites para Violoncelo solo de Bach por Diana Vinagre; o baile-concerto Danças Intemporais por Denis Stetsenko (violino) e Eva Parmenter (concertina); e o concerto Na rua e na corte: as influências da arte popular na música erudita do século XVIII pelo Concerto Campestre, dirigido pelo oboísta Pedro Castro. Serão interpretadas obras de Telemann, Forqueray, Marais, Delalande, Boismortier e Corelli.

As actividades do festival decorrem em espaços diversificados, alguns bastante inesperados. "Vamos abrir as portas de lagares ancestrais onde ainda se pode cheirar o azeite, capelas antigas de pedra e arte, casas particulares históricas, hangares de fábricas agrícolas desactivadas e palacetes oitocentistas", conta Filipe Faria. "Será um espaço onde a experimentação, a aprendizagem, a fruição musical e a promoção de novas linguagens são enquadradas pelos espaços patrimoniais da cultura erudita, da cultura popular ou da arqueologia industrial e agrícola."

O projecto tem o financiamento da Direcção-Geral das Artes/Secretaria de Estado da Cultura e o apoio do Município de Idanha-a-Nova.

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