Marta Temido, a nova ministra que admitiu que o SNS está subfinanciado

A ex- presidente da Associação dos Administradores Hospitalares e da Administração Central do Sistema de Saúde, 44 anos, é a nova ministra da Saúde. Bastonário dos médicos diz que mudança de nome não chega e bastonária dos enfermeiros está apreensiva pelo momento em que esta substituição acontece.

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Pedro Granadeiro/NFactos

A nova ministra da Saúde, Marta Temido, 44 anos, conhece bem e por dentro a máquina do Ministério da Saúde. Afinal, esteve à frente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), o instituto público que é responsável pela concretização das atribuições do ministério, durante dois anos. Saiu em Dezembro de 2017, no final de um mandato marcado por uma relação tensa com Adalberto Campos Fernandes, o ministro que agora vai substituir e que a tinha convidado para liderar a ACSS. 

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A nova ministra da Saúde, Marta Temido, 44 anos, conhece bem e por dentro a máquina do Ministério da Saúde. Afinal, esteve à frente da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), o instituto público que é responsável pela concretização das atribuições do ministério, durante dois anos. Saiu em Dezembro de 2017, no final de um mandato marcado por uma relação tensa com Adalberto Campos Fernandes, o ministro que agora vai substituir e que a tinha convidado para liderar a ACSS. 

Licenciada em Direito, com especialização em administração hospitalar, um doutoramento em saúde internacional e uma tese dedicada à partilha de funções entre médicos e enfermeiros, ganhou alguma visibilidade quando presidiu à Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, entre 2013 e 2015.

Antes disso, tinha tido experiência de gestão em vários hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), como o IPO do Porto e o Centro Hospitalar de Coimbra. Integrou também o grupo da Gulbenkian que se dedicou, entre 2013 e 2014, a estudar a sustentabilidade e o futuro do SNS.

Actualmente, ocupava os cargos de subdirectora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou, e de presidente não executiva do conselho de administração do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa.

Na primeira entrevista que deu depois de deixado o cargo na ACSS, em Julho deste ano, Marta Temido admitiu ao PÚBLICO a extensão do problema do subfinanciamento do SNS e propôs algumas estratégias para solucionar o fenómeno do atraso no pagamento das dívidas dos hospitais. “Precisamos de mais verbas, mas precisamos de melhor gestão”, disse, ao mesmo tempo que destacou a necessidade de “uma estratégia clara, de um alinhamento entre os actores” e de medidas que “são muito impopulares”.

Sobre o valor do subfinanciamento, admitindo que temos cerca de mil milhões de pagamentos em atraso, reconheceu que essa poderá ser a medida das verbas que faltam ao sistema, mas sublinhou que há várias formas de ir buscar esse dinheiro: "Já se falou da questão dos subsistemas voltarem a pagar ao SNS. Já se falou da questão de repor os acordos com a indústria farmacêutica e reconduzir a despesa com medicamentos aos níveis de 1% do PIB".

Na entrevista, também lamentou a existência de um problema de “desconfiança mútua” no sector. “Não é possível dar autonomia sem termos uma relação de confiança. E o que se passa é que neste momento existe uma relação de desconfiança mútua. Das finanças em relação à saúde, da saúde em relação às finanças, da saúde em relação aos seus administradores, dos administradores em relação à saúde”, considerou. 

Médicos e enfermeiros na expectativa

Marta Temido herda uma pasta de facto muito complicada. Vai ter que continuar com o duro processo de negociações com médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, que têm feito múltiplas greves, e lidar com as denúncias sobre as carências no sector que deram origem já a demissões sucessivas ou ameaças de saída de directores de serviços e médicos de vários hospitais de Norte a Sul do país. 

As reacções dos representantes dos profissionais de saúde à escolha do seu nome para o cargo foram-se sucedendo. Para o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, a mudança de ministro, só por si, não é suficiente. "Sem um orçamento adequado nenhum ministro conseguirá ter um plano construtivo para a Saúde, que permita resolver as principais insuficiências e deficiências do SNS”, enfatizou, em comunicado, recordando que, com a "suborçamentação no sector, a maioria das medidas necessárias nunca foi além das palavras” com Adalberto Campos Fernandes. 

Já a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, mostrou-se muito apreensiva com a mudança pelo momento em que esta acontece, não pelo nome anunciado. Admitindo estar "completamente surpreendida" com a substituição numa altura em que há muitas negociações em curso, Ana Rita Cavaco disse à Lusa temer que a alteração ponha em causa este processo. “Entendemos até, no imediato, que não será uma boa decisão, porque há muitas negociações em curso. E teme-se que esta mudança deite abaixo as negociações”, justificou.

Ao mesmo tempo, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, disse ter a esperança de que a voz da nova ministra seja mais audível junto do primeiro-ministro e do ministro das Finanças, recordando que o processo negocial com os médicos está parado há mais de seis meses. "Esperamos que o processo negocial seja retomado", acentuou. E o presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), João Proença, considerou que a nomeação de Marta Temido para a pasta da saúde é "uma réstia de esperança" para o último ano do mandato do Governo, sublinhando que espera uma "postura diferente" da nova ministra. 

Quem também se apressou a reagir foi o deputado Moisés Ferreira, do Bloco de Esquerda. Moisés Ferreira, que integra a Comissão Parlamentar da Saúde, diz esperar que se possa agora "avançar numa Nova Lei de Bases que reforce o SNS e o resgate da predação dos privados". O deputado espera ainda que se possa "avançar em aspectos como os do aumento do financiamento", do "reforço da autonomia das unidades do SNS face ao Ministério das Finanças e da fixação de profissionais e valorização das suas carreiras".