Uma remodelação com peso político

António Costa aproveita saída de Azeredo Lopes para remodelar o Governo. Saem também Campos Fernandes, Caldeira Cabral e Castro Mendes.

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João Gomes Cravinho é o novo ministro da Defesa. Tem 54 anos. Rui Gaudêncio
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Marta Temido é a nova ministra da Saúde. Tem 44 anos Pedro Granadeiro/Nfactos
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Graça Fonseca é a nova ministra da Cultura. Tem 47 anos miguel manso
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Pedro Siza Vieira é o novo ministro adjunto e da Economia. Tem 54 anos Nuno Ferreira Santos

O embaixador João Gomes Cravinho é o novo ministro da Defesa, numa remodelação do Governo aceite pelo Presidente da República este domingo, em que o primeiro-ministro, António Costa, aproveita para mudar mais três responsáveis ministeriais. Assim, Marta Temido é a nova ministra da Saúde, Graça Fonseca passa a responsável pela Cultura e Pedro Siza Vieira pela Economia, mantendo a função de ministro adjunto do primeiro-ministro. Este último ministério perde a secretaria de Estado da Energia, que passa para a tutela do ministro do Ambiente e da Transição Energética, devendo em breve ser anunciado o nome que substitui o secretário de Estado Jorge Seguro Sanches. A posse dos novos ministros será dada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na segunda-feira ao meio dia.

Após a demissão do ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, na sexta-feira ao fim da tarde, na sequência do caso do roubo do armamento em Tancos em Junho de 2017, António Costa aproveitou para mudar ministros que tinham pedido para sair. É o caso de Adalberto Campos Fernandes, que deixa a Saúde, de Manuel Caldeira Cabral, que sai do Ministério da Economia, e de Luís Filipe Castro Mendes, que sai da Cultura.

Peso político

A remodelação agora feita por António Costa traz ao Governo duas novas caras: João Gomes Cravinho e Marta Temido. O novo ministro da Defesa era desde 2015 embaixador da União Europeia no Brasil e anteriormente desempenhou o mesmo cargo na Índia, entre 2011 e 2015. Foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação entre 2005 e 2011.

A entrada de Gomes Cravinho no Governo para tutelar a Defesa, aos 54 anos, surge como uma surpresa e como uma aposta de força de António Costa numa personalidade com currículo de Estado e peso político. E pode ser vista como uma saída por cima de uma crise em que a autoridade do Governo face às Forças Armadas esteve posta em causa devido às suspeições que recaem sobre um eventual conhecimento pelo ministro Azeredo Lopes da existência de encobrimento por parte da estrutura do Exército do roubo de armamento em Tancos.

Surpresa é também a substituição de Adalberto Campos Fernandes por Marta Temido, de 44 anos. A nova ministra da Saúde foi presidente do Conselho Directivo da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), entre 2016 e 2017, e era desde Janeiro deste ano subdirectora do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, lugar que acumulava com o de presidente não executiva do conselho de administração do Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa.

A remodelação passa também pela promoção dentro do Governo de Graça Fonseca. Aos 47 anos, a ministra da Cultura deixa assim de ser secretária de Estado adjunta e da Modernização Administrativa, onde foi responsável nos últimos três anos pela concretização do Simplex e dos Orçamentos Participativos.

Graça Fonseca foi anteriormente adjunta de Costa no Ministério da Justiça entre 2000 e 2002, sua chefe de Gabinete no Ministério da Administração Interna entre 2005 e 2008 e vereadora da Câmara Municipal de Lisboa com os pelouros da economia, inovação, reforma administrativa e educação entre 2009 e 2015, quando Costa presidiu ao município.

Siza sem energia

Pedro Siza Vieira, com 54 anos, transita para ministro adjunto e da Economia, deixando o lugar de ministro adjunto do primeiro-ministro com poderes de coordenação na área da Economia, cargo para que entrou há um ano para substituir Eduardo Cabrita, quando este transitou para ministro da Administração Interna, após a demissão de Constança Urbano de Sousa, na sequência dos incêndios de Junho e Outubro de 2017.

A nomeação de Pedro Siza Vieira como ministro da Economia vem assim dar sinal de que o primeiro-ministro está convicto de que haverá luz verde do Tribunal Constitucional em relação à análise que está a proceder para saber se há incompatibilidade entre a sua entrada para o Governo há um ano e o facto de simultaneamente manter a posição de sócio-gerente da empresa imobiliária familiar, a Prática Magenta, que tinha criado pouco antes de subir ao executivo.

Já em Maio, o primeiro-ministro defendeu a permanência de Siza Vieira no Governo como ministro adjunto com a coordenação da economia durante um debate quinzenal, em que foi questionado sobre o facto de este ministro ter sido advogado da empresa China Three Gorges, como sócio da sociedade de advogados Linklaters LLP. Isto depois de no mesmo mês, Siza Vieira ter pedido escusa de qualquer responsabilidade e tutela sobre o sector eléctrico, já que a China Three Gorges tinha lançado uma oferta pública de aquisição sobre a totalidade do capital social da EDP e da sua subsidiária EDP Renováveis.

Agora, para que não haja dúvidas sobre eventuais conflitos de interesses, a secretaria de Estado da Energia passa para a tutela do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes. O Ministério passa a chamar-se do Ambiente e da Transição Energética, mas a nova secretaria de Estado, até agora ocupada por Jorge Seguro Sanches, deverá ter um novo responsável.

Não se sabe também quem serão os secretários de Estado da Defesa, Saúde, da Economia, da Cultura e da Modernização Administrativa. A posse dos secretários de Estado está marcada para quarta-feira.

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