Um crânio feito de coletes salva-vidas para causar debate

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São 140 coletes salva-vidas a formar um crânio de 2,5 metros, que pertenceram a um grupo de refugiados e estão envolvidos com uma borracha preta proveniente do barco que os transportou até à ilha de Lesbos, na Grécia.

A escultura está instalada na Mata do Fontelo, em Viseu, no âmbito do festival de arte pública Poldra. É da autoria de Pedro Pires, que recolheu os materiais em 2016, quando esteve em Lesbos como voluntário, 12 anos depois da primeira visita à ilha grega. Quando começou a ver notícias sobre os migrantes que procuravam alcançar a ilha, sentiu que tinha de regressar. “Tinha de ir ajudar, precisava de ver a realidade crua com os meus próprios olhos”, explica ao P3.

Coletes salva-vidas, pedaços de barcos, cobertores, lanternas: Pedro trouxe vários materiais que abundavam nas praias do local que continua a ser um dos principais pontos de chegada de refugiados à Europa. “Eram objectos efémeros para os migrantes, que os usavam apenas durante meia hora, mas do ponto vista simbólico tinham um enorme potencial”, diz. Trouxe-os sem saber no que poderiam resultar, até porque estava habituado a trabalhar com outros materiais, como o ferro. Ficaram fechados no estúdio durante um ano. “Estiveram a marinar”, confessa. Agora, decidiu transformá-los num crânio gigante que “representa a morte”, feito com recurso a objectos que têm como função salvar vidas.

O objectivo é provocar o debate. “É como se fosse um alien na cidade, queria trazer o assunto para um sítio que não o vivesse directamente.” Um alien cor-de-laranja que contrasta com a paisagem bucólica do parque do Fontelo, onde está montado. “Quis realçar a morte como oposição à vida do parque”, diz, esperando que a discussão se estenda a toda a comunidade. “Este assunto diz respeito a todos nós.”

O título — 14.000 Newtons — é uma referência à capacidade de flutuação do conjunto dos coletes que constituem a peça. “Queria incluir um valor concreto para complementar a informação”. É também uma forma de despertar a curiosidade das pessoas. “Estou à espera que as pessoas pesquisem sobre o que é um newton”, justifica.

A peça vai estar em exposição, ao ar livre, durante dois anos. Com o tempo irá degradar-se, para agrado do artista. “Para além de tornar a mensagem mais eficaz, é sinal que está absorver o que se passa à sua volta”, conclui.