Oposição lamenta o “dia da morte da democracia no Camboja”

Primeiro-ministro Hun Sen vence com esmagadora maioria, em curso de se tornar partido único. A oposição pede que comunidade internacional não reconheça os resultados.

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Hun Sen está no poder há 33 anos SAMRANG PRING/Reuters

O primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, venceu as eleições de domingo com uma esmagadora maioria depois de, no ano passado, o maior partido da oposição ter sido ilegalizado por complot para derrubar o Governo e traição.

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O primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen, venceu as eleições de domingo com uma esmagadora maioria depois de, no ano passado, o maior partido da oposição ter sido ilegalizado por complot para derrubar o Governo e traição.

Hun Sen, 65 anos, está no poder há 33 anos – é o chefe de Governo há mais tempo na Ásia e um dos políticos que há mais tempo lidera um país em todo o mundo – e já declarou que pretende manter-se pelo menos mais dois mandatos de cinco anos. 

A oposição ficou muito enfraquecida depois da ilegalização do Partido de Salvação do Camboja, o principal adversário do Partido do Povo do Camboja, de Hun Sen. Apesar de haver outros 19 partidos na corrida, a sua representatividade deverá ser mínima ou mesmo inexistente no Parlamento.

Os resultados oficiais só serão divulgados a 15 de Agosto, mas um porta-voz do Partido do Povo do Camboja disse que este venceu a totalidade dos 125 lugares do Parlamento. Em Fevereiro, o partido ocupou, após uma eleição (indirecta), os 58 lugares do Senado, lembra o diário francês Le Monde.

“O dia 29 de Julho de 2018 marcou a morte da democracia no Camboja, um novo dia negro na história recente”, disse Mu Sochua, vice-presidente do banido Partido de Salvação do Camboja, em Jacarta. “A comunidade internacional tem de rejeitar este resultado.”

Os Estados Unidos têm vindo a criticar o Governo de Hun Sen por perseguição aos críticos e nem os EUA nem a UE enviaram observadores.

A China vem a fazer o movimento contrário: deu verbas para equipamento eleitoral (incluindo assembleias de voto e computadores) e nos últimos cinco anos, investiu 4,6 mil milhões de dólares no país. E o Camboja, apesar de pequeno, tem sido um grande aliado da China, vetando por exemplo propostas de protestos diplomáticos de outros países contra Pequim na ASEAN (Associação dos Países do Sudeste Asiático), diz o jornal Le Monde.

A oposição apelou a uma campanha de abstenção “dedo limpo” como a única forma segura de protesto. É chamada assim porque os abstencionistas não ficam com o dedo marcado pela tinta indelével que marca o voto para evitar voto duplo. Mas esta não resultou e a participação foi maior do que nas legislativas anteriores: 82,2% votaram, por oposição a 68,5% nas últimas eleições.

Mas a revista norte-americana Time explicava que quem não tivesse a marca no dedo arriscava represálias dos representantes locais do Governo, especialmente nas localidades mais pequenas. E, no jornal Straits Times, de Singapura, o professor na Universidade de Griffith (Austrália) Lee Morgenbesser notava que “em regimes de partido único, a participação eleitoral é geralmente mais alta, e não mais baixa, porque o partido, neste caso o Partido do Povo do Camboja, está mais dependente de intimidação de eleitores, de compra de votos, e assim a participação é inflacionada”.

Dois terços da população do Camboja tem menos de 30 anos – o que quer dizer que nasceram já com Hun Sen no poder. A sua popularidade enquanto líder que trouxe uma certa prosperidade a um país finalmente em paz foi suficiente para vencer eleições.

Mas depois do bom resultado da oposição em 2013, Hun Sen começou a levar a cabo medidas para se assegurar que isso não acontecia, fechando jornais e “fechando o espaço político”, como diz ao Monde Soeung Saroen, da ONG Comissão da Cooperação do Camboja.