Bolsonaro parte sozinho para a corrida ao Planalto mas não desarma

PSL oficializou a candidatura do deputado ultraconservador mas ainda não conseguiu arranjar-lhe um companheiro de “chapa”. Bolsonaro diz que é “o patinho feio” da política brasileira.

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Jair Bolsonaro apresentou oficialmente a sua candidatura às eleições presidenciais do Brasil descrevendo-se como o “patinho feio” da política nacional. O ultraconservador chega à corrida eleitoral sem alianças, nem mesmo um nome para candidato a vice, mas está convicto de que as suas tiradas violentas contra a desacreditada classe política e o seu programa radical serão suficientes para chegar ao Palácio do Planalto.

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Jair Bolsonaro apresentou oficialmente a sua candidatura às eleições presidenciais do Brasil descrevendo-se como o “patinho feio” da política nacional. O ultraconservador chega à corrida eleitoral sem alianças, nem mesmo um nome para candidato a vice, mas está convicto de que as suas tiradas violentas contra a desacreditada classe política e o seu programa radical serão suficientes para chegar ao Palácio do Planalto.

Num comício que juntou três mil apoiantes, muitos dos quais empunhando bandeiras do Brasil e camisolas da selecção de futebol, numa arena no Rio de Janeiro, o Partido Social Liberal (PSL) oficializou a candidatura de Bolsonaro, um capitão do Exército na reserva que tem agitado as águas da política brasileira. A crise desencadeada pela Operação Lava-Jato – que desde 2014 envolveu praticamente todos os quadrantes da vida política e empresarial do país, culminando com a prisão do ex-Presidente Lula da Silva – tem servido como rampa de lançamento de Bolsonaro que, apesar de ser deputado federal há quase 30 anos, se apresenta como um outsider.

No seu discurso, Bolsonaro explicou que a mãe escolheu Messias como seu segundo nome por ser muito religiosa, mas afastou a ideia de ser um “salvador da pátria”. Ainda assim, o deputado federal não deixou de dramatizar o momento actual: “O que está em jogo neste momento que se aproxima – disse referindo-se às eleições de Outubro – é o destino dessa grande nação chamada Brasil”.

Foram poucas as políticas concretas que Bolsonaro apresentou, embora tenha sugerido que, se for eleito, o Brasil poderá seguir o exemplo dos EUA e abandonar o Acordo de Paris para as alterações climáticas, que o candidato diz ser responsável por uma perda de soberania na região da Amazónia. Também prometeu privatizar e até extinguir algumas empresas públicas, sem nomear nenhuma em específico. Confrontado com uma crítica frequente de que as políticas económicas não são o seu forte, Bolsonaro respondeu com uma citação bíblica: “Deus não escolhe os capazes, capacita os escolhidos.”

Bolsonaro também defendeu a manutenção da intervenção do Exército nas operações policiais no Rio de Janeiro contra o tráfico de droga e a exclusão de sanções para os agentes que matem civis durante as rusgas. “Se estamos em guerra, os dois lados podem atirar”, justificou.

Ódio ao “centrão”

Grande parte do seu discurso foi preenchido por críticas ferozes aos seus adversários políticos, ao mesmo tempo que tentava desvalorizar o isolamento da sua candidatura. “Não temos um grande partido, não temos um fundo partidário, não temos tempo de televisão, mas temos vocês”, declarou Bolsonaro, dirigindo-se aos apoiantes. “Eu sei o desconforto que tenho causado. Eu sou o patinho feio nessa história, mas tenho a certeza que seremos bonitos navegantes”, acrescentou.

Um dos seus alvos foi o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que será o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e que reúne o apoio do chamado “centrão”, composto pelos partidos moderados e mais representativos, que garantem mais tempo de antena e mais financiamento. “Quero agradecer ao Alckmin por reunir a nata do que há de pior do Brasil ao seu lado”, afirmou o ultraconservador.

Ao longo da sua carreira como deputado, Bolsonaro ficou conhecido pelas declarações incendiárias. Em 2014, dirigiu-se a uma deputada dizendo-lhe que ela não merecia ser violada por ele – o ex-militar foi condenado pelo Supremo Tribunal de Justiça, mas recorreu da decisão que está actualmente a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro chegou também a defender o recurso à tortura e são conhecidos os seus elogios à Ditadura Militar brasileira, que definiu como anos de “ordem e progresso”. Na sessão em que foi aberto o processo de destituição de Dilma, Bolsonaro prestou homenagem ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos principais responsáveis pela repressão e pela tortura de presos políticos durante o regime.

O ex-militar enfrenta um forte isolamento político que, no complexo sistema de alianças brasileiro, o deixa numa situação de fragilidade. Um dos principais exemplos é a dificuldade que Bolsonaro tem tido para encontrar um candidato a vice-presidente para figurar na sua “chapa”. Nas últimas semanas, dois nomes foram vetados pelos próprios partidos, que não se quiseram aliar ao PSL de Bolsonaro. A terceira escolha recaiu em Janaína Paschoal, uma advogada que se notabilizou por ter apresentado a queixa formal que acabou por determinar a destituição de Dilma Rousseff da presidência.

Ao lado de Bolsonaro durante a convenção, a jurista mostrou-se hesitante em aceitar o convite para “número dois” de uma futura Administração do ultraconservador e fez um discurso desalinhado face à unanimidade dominante. “Muitas vezes os seguidores do deputado Jair Bolsonaro têm uma ânsia de ouvir um discurso inteiramente uniformizado”, declarou Paschoal, deixando um aviso: “Não se ganham eleições com pensamento único.”

Nove segundos de campanha

A falta de alianças políticas pode ter impacto já na campanha eleitoral. O cálculo do tempo de direito de antena na televisão é feito de acordo com a dimensão das bancadas parlamentares dos partidos que apoiam as candidaturas. Sem outros apoios que não o do PSL, que tem apenas nove deputados federais, a campanha de Bolsonaro teria direito a menos de dez segundos em cada bloco publicitário, de acordo com o El País. O deputado está, porém, confiante de que a sua mensagem irá chegar aos 140 milhões de eleitores. "O Brasil não precisa de marqueteiros [especialistas em estratégia eleitoral], centrões, demagogos e populistas. O Brasil só quer uma coisa: a verdade”, afirmou.

Bolsonaro é o candidato que recolhe mais intenções de votos nas sondagens que não incluem Lula da Silva – o Partido dos Trabalhadores insiste que o ex-Presidente, que está preso, será o seu candidato em Outubro, mas este cenário parece cada vez mais improvável por causa da sua condenação num tribunal de segunda instância. No entanto, as sondagens também atribuem a Bolsonaro uma das taxas de rejeição mais elevadas por parte do eleitorado.

Esquerda e direita tentam encontrar figuras que possam servir de alternativa a Bolsonaro para impedir a sua chegada ao poder, na eventualidade de Lula não poder ser candidato. O “centrão” olha para Alckmin, embora as sondagens não lhe dêem mais de 7% das intenções de voto, fruto do desgaste do PSDB que está profundamente envolvido nas investigações da Lava-Jato.

Sem Lula, a esquerda tenta superar a orfandade. A estratégia do PT, diz a imprensa brasileira, é manter o ex-Presidente como candidato enquanto for teoricamente possível para tentar usufruir de uma potencial transferência de votos para outro candidato. O “plano B” mais falado é o de Fernando Haddad, ex-presidente da câmara de São Paulo.