Alguém é beneficiado se Lula, o favorito, for empurrado para fora da corrida eleitoral?

Não é claro que alguém tire partido da saída de Lula da Silva do jogo eleitoral. O xadrez da política brasileira é complexo

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Jair Bolsonaro, candidato de extrema-direita,Jair Bolsonaro, candidato de extrema-direita Ueslei Marcelino/REUTERS,Ueslei Marcelino/REUTERS
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Marina Silva, candidata da Rede,Marina Silva, candidata da Rede Nacho Doce/REUTERS,Nacho Doce/REUTERS
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Geraldo Alckmin, candidato do PSDB Bruno Domingos/REUTERS

Se Lula da Silva for afastado compulsivamente do jogo eleitoral haverá algum candidato que beneficie da saída do homem a quem as sondagens dão até agora o favoritismo? E quem pode substituí-lo como candidato do Partido dos Trabalhadores (PT)? Os indefectíveis de Lula, que se ergueram acima da pobreza com os governos do PT, que investiram na redistribuição da riqueza, dificilmente votarão noutro candidato que não o indicado pelo líder do PT. “Se Lula mandar eu votar em um cachorro, eu voto”, disse a um repórter do El País Brasil Sandoval Dantas, 36 anos, sargento dos Bombeiros de Mossoró, no Rio Grande do Norte, que conta ter-se formado em Direito e construído a casa com a ajuda de programas da governação petista.

Haddad, Wagner — quem vai substituir Lula?

O nome de Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, tem sido mencionado como o possível substituto de Lula na candidatura do PT à presidência. Em 2013, esteve na berlinda ao anunciar o aumento do preço dos transportes que desencadou os grandes protestos em várias cidades que foram o primeiro abalo sísmico para a governação de Dilma Rousseff. Mas o PT talvez preferisse Jaques Wagner, ex-governador da Bahía — que dá indicações de não o querer, diz a Globo. Além disso, Wagner é suspeito de ter recebido subornos das empresas Odebrecht e OAS. “Também pode ser Gleisi Hoffmann, a presidenta do partido, ou outro nome que o Lula pode tirar da manga”, disse Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo, especialista na história do PT.

Bolsonaro fica a rir-se?

As sondagens indicam que Jair Bolsonaro, candidato da extrema-direita, ficaria a liderar as intenções de voto com a saída de Lula. Mas não é provável que os eleitores de Lula se transferissem para este ex-militar, que disse que os tiros contra a caravana eleitoral do ex-Presidente no Sul do país foram disparados pelo próprio PT. O capitão na reserva do Exército constrói sua candidatura em oposição a Lula e à esquerda, sublinhou à BBC Brasil o cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais, Fábio Wanderley Reis. Sem Lula na corrida, o candidato perde um dos motivos da sua existência. “A força de Bolsonaro tem mais a ver com o antagonismo de Lula; com Lula fora, tende a perder força”, diz Wanderley Reis.

O que ganha Ciro Gomes?

É para Ciro Gomes que poderia haver uma transferência mais directa de votos. Há alguns meses, tentou convencer Haddad a candidatar-se com ele a vice-presidente. Mas o mecanismo de transferência de votos na esquerda está longe de ser perfeito, ainda que Lula desse indicação de voto específica num candidato, disse à BBC o cientista político Rui Tavares Maluf. Gomes tem 7% de intenções de voto, e tem criticado Lula. ”É muito difícil imaginar um apoio ao Ciro Gomes, especialmente depois da hesitação dele em apoiar Lula no julgamento”, disse Lincoln Secco ao El País Brasil. “Ficou muito claro que Ciro Gomes, este sim, torce quase que explicitamente para que o Lula não seja candidato, já que ele seria diretamente beneficiado por isso. O PT terá outro candidato.”

Há outros candidatos viáveis à esquerda?

Manuela D’Ávila, do Partido Comunista do Brasil, e Guilherme Boulos, do Partido Socialismo e Liberdade, têm defendido o direito de Lula da Silva a candidatar-se. “Só uma pequena franja dos eleitores do Lula está disposto a votar em alguém tão à esquerda” como D’Ávila e Boulos, disse o analista Rui Tavares Maluf à BBC Brasil.

Quais são as hipóteses de Marina Silva?

Nas últimas presidenciais, a ambientalista teve um bom resultado. E tem passado sem mancha pela tempestade de acusações de corrupção na política brasileira. Há quem considere a ex-ministra do Ambiente de Lula a maior herdeira do seu eleitorado. Mas ela saiu do Governo em choque com o PT. “Ela afastou-se muito do petismo”, comentou Tavares Maluf. Em 2014, apoiou Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Tem defendido a renovação da política. Marina “não representa um posicionamento relevante hoje na sociedade”, disse Lincoln Secco. E defendeu a condenação de Lula.

Geraldo Alckmin vai tentar furar pela esquerda?

O governador do estado de São Paulo e pré-candidato do PSDB tem cortejado a esquerda, para captar alguns votos de Lula da Silva — embora o seu partido tenha disputado a segunda volta em 2014 com Dilma Rousseff. Mas cometeu um erro grande, ao comentar os tiros contra a caravana de Lula. Disse que os seguidores do ex-Presidente estavam a “colher o que plantaram.” Teve de se desdizer.

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