Cuidado com o que desejas

Bruno de Carvalho acabou este mandato sem honra nem glória. Em quatro meses, pouco restou ao “presidente-adepto”.

Quase 15 mil sócios do Sporting Clube de Portugal foram ao Altice Arena para decidir o futuro do seu clube. Tinham passado os meses mais tristes da história do Sporting, talvez mesmo as páginas mais tristes das páginas do desporto português (das que vimos até agora). Tinham passado apenas quatro meses sobre uma outra Assembleia Geral, com seis mil sócios do Sporting que reforçaram o mandato e os poderes de um presidente em evidente descontrolo - sabemos agora, a mandar sms aos jogadores exigindo resultados porque “este ano já não temos mais desculpas para perder”.

Nesta Assembleia Bruno de Carvalho acabou este mandato sem honra nem glória. Votaram quase três vezes mais sócios, dois terços dos quais pela demissão do presidente. Em quatro meses, pouco restou ao “presidente-adepto”.

A força da votação e a tranquilidade com que os sócios (pelo menos os vencedores) encararam o dia decisivo garantem ao Sporting pelo menos uma oportunidade. Verdade que restam muitas dúvidas sobre como o clube vai ultrapassar esta ponte até às eleições de Setembro: saber se fica com um treinador com má fama, contratado pelo presidente destituído; saber se consegue o retorno de alguns dos jogadores e se consegue manter alguns em Alvalade; saber se as contas aguentam e como se constrói um plantel; saber se acabou a guerra nos tribunais. Mas a grande interrogação é saber, sobretudo, se o Sporting aprendeu a grande lição dos últimos meses: a de que um clube não é de um homem só e que a única coisa que nunca pode perder de vista é a dignificação do seu bom nome.

Bruno de Carvalho apareceu no Sporting por perceber onde o clube tinha falhado antes, com uma sequência de presidentes que se viram como donos por direito divino de um clube que, à medida que os sucessos ficavam para trás, perderam a coerência do que uma vez defendiam - a profissionalização do futebol. Foi por isso que os sócios - até muitos da dita “elite” - puseram a sua cruz num boletim por um presidente-adepto, aquele que sentia como eles o clube, que se desligava dos interesses financeiros, que tratava os jogadores e os da bancada da mesma forma. Puseram uma cruz e acabaram a carregar com ela. Porque Bruno de Carvalho acabou como os antecessores (sem resultados no futebol) e a fazer como eles: a pensar em si próprio como presidente-Rei e a tratar todos no clube como seus súbitos sem direitos.

A lição de Bruno, o presidente que ameaçou rasgar o cartão horas antes de assumir uma nova candidatura, é esta: um líder nunca fez nem fará uma instituição. E um presidente-adepto nunca chegará para garantir resultado algum. Passado tudo isto, talvez a lição nos sirva para além do Sporting, do futebol e do desporto.

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