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Uma visita a Tianducheng, a “falsa” Paris da China

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Existe, na China, uma réplica à escala real do centro da capital francesa chamada Tianducheng, que contém uma cópia da Torre Eiffel, das ruas, edifícios e parques que a circundam. Seria surpreendente se este fosse caso único na China. Porém, além de uma réplica do centro de Paris, a China tem no seu território uma cópia do centro das cidades italianas de Florença e Veneza e de Hallstatt, uma vila na Áustria. Existem também reproduções da Torre de Londres (Inglaterra), da Casa Branca (Washington D.C., nos Estados Unidos), das estátuas da Ilha de Páscoa (Chile), da Grande Esfinge de Gizé (Egipto), entre muitas outras.

 

Este hábito chinês de apropriação cultural não passou despercebido ao fotógrafo François Prost. "Já todos vimos parques de atracções que contêm miniaturas de monumentos ou edifícios famosos", disse ao P3, em entrevista, dando o exemplo de Las Vegas e do Dubai. "Mas este caso parece mais extremo, mais obsessivo, porque estes lugares, na China, são muito maiores, são feitos à escala real, e planeados para serem habitados."

 

Quando chegou a Tianducheng, onde permaneceria durante sete dias, o fotógrafo parisiense teve uma estranha sensação de familiaridade. Parecia reconhecer o local sem nunca o ter visitado. Sentiu alguma comoção. "Imagino que seja aquilo que muitos japoneses sentem quando visitam Paris ou Florença." Mas, para François Prost, à parte a arquitectura, nada faz lembrar Paris na réplica chinesa. "As pessoas vivem em Tianducheng como viveriam em qualquer outro lugar da China. Está cheia de famílias de classe média, o que a torna num lugar muito calmo. As pessoas recolhem cedo, acordam cedo. Durante o dia, a maioria trabalha no centro da cidade. Em seguida, caminham pela cidade ou dançam em grupo na praça principal, ao pôr do sol."

 

No que diz respeito à comida, também existem poucos vestígios de Paris: "Pensei que talvez tentassem recriar um restaurante francês, mas não." Existem, pela cidade, vários restaurantes e cantinas que servem pratos típicos chineses: sopas, noodles, arroz frito. "Vi apenas um lugar onde se vendiam brioches, mas pareciam mais os brioches que são feitos no Starbucks do que os tradicionais franceses", comentou Prost. "Mas eram muito bons."

 

O fotógrafo e designer parisiense não sabe dizer se, afinal, gosta ou não da réplica chinesa da sua cidade. "Tento não julgar", disse ao P3. "As pessoas de lá não parecem ser mais felizes ou infelizes do que noutros lugares do mundo. Para mim, que vivo em Paris, foi, obviamente, muito estranho estar ali, mas tentei manter uma atitude positiva." A única coisa que incomodou Prost foi "sentir que existe uma admiração excessiva pela cultura europeia, sobretudo por um cliché que já se encontra desligado da Europa actual". "Estas representações parecem sobrestimadas", concluiu. "A Ásia tem uma história e herança cultural muito fortes e não deveria ter, sobre ela, qualquer tipo de complexo."