De Gutenberg ao digital, a Casa do Design ensina como se faz um livro

Até Novembro, em Matosinhos, a exposição Imprimere é uma porta aberta para os processos e técnicas usados em vários séculos da história da imprensa. Do papel à encadernação, esta exibição faz uma viagem pelos 250 anos da Imprensa Nacional.

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Na China, no século II, a partir de trapo de fibras vegetais como bambu ou palha de arroz, foram feitas as primeiras folhas de papel, recorrendo a este tipo de materiais. Pelo menos, é lá que são encontrados os primeiros registos que indiciam que, naquela época, os chineses já usavam este tipo de processo. Só no século XII, através dos árabes, é que este método chega à Europa. A Portugal terá chegado mais tarde, já no século XV, quando se crê ter surgido a primeira fábrica de papel nacional, em Leiria, decorria o ano de 1441.

São precisamente as técnicas de produção de papel o ponto de partida para a exposição Imprimere — Arte e Processo nos 250 Anos da Imprensa Nacional, inaugurada em Maio e patente na Casa do Design, em Matosinhos, até 3 de Novembro, para celebrar dois séculos e meio da instituição que em 1972 fundiu-se com a Casa da Moeda, o mais antigo estabelecimento industrial português, com 700 anos de história. 

É uma tina de produção manual de papel exposta à entrada da exposição que assinala o ponto de partida para uma viagem pela história da tecnologia que revolucionou a produção do livro e a democratização do saber. Deste ponto de partida percorre-se um caminho longo, separado pelos sete núcleos da exibição, que reúnem um espólio vasto composto por maquinaria rara e por alguns exemplares produzidos artesanalmente, cedidos por várias instituições que se aliaram à ESAD – Idea, Investigação em Design e Arte e à Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), responsáveis pela exposição com curadoria de Rúben Dias e Sofia Meira - o primeiro tipógrafo, designer de tipos e docente na ESAD, e a segunda designer gráfica e responsável pela Oficina de Tipografia da ESAD.

Do papel à encadernação, percorre-se um caminho evolutivo relacionado com as técnicas de tipografia, calcografia, serigrafia e litografia. Suportada por algumas explicações sobre todo o processo e desenvolvimento destas áreas, nos diferentes núcleos é possível ver in loco máquinas como prelos de impressão tipográfica, aparelhos de impressão offset, prensas de impressão ou os primeiros computadores usados durante a introdução da tecnologia digital na indústria gráfica, como é exemplo o Macintosh SE30, do final dos anos 1980.

Da Bíblia de Gutenberg ao Pentateuco de Gacon

Se a China tem um lugar de destaque no desenvolvimento do papel, é ao alemão Johannes Gutenberg que é atribuída a designação de inventor da imprensa, no século XV.  Na verdade, é também na China do século XI, pela mão de Bi Sheng, que os primeiros passos são dados para o desenvolvimento desta técnica. É com a impressão da Bíblia em 1450 que os desenvolvimentos do alemão se expandem pela Europa. Em 30 anos, difunde-se por grande parte dos países europeus.

Em Portugal chega em 1487, por Samuel Gacon, um judeu que em Faro imprime uma versão hebraica do Pentateuco (compilação dos primeiros cinco livros da Bíblia). O único exemplar daquela que é conhecida como a primeira obra impressa em solo nacional está actualmente na British Library, a biblioteca nacional do Reino Unido, apesar dos esforços realizados pela Associação Faro 1540, que reclama o regresso da biblioteca do bispo do Algarve, D. Fernando Martins Mascarenhas, saqueada do Paço Episcopal, em 1596, pelo aristocrata e corsário inglês Robert Devereux, 2.º conde de Essex. Acredita esta associação que o livro faria parte desta colecção, ainda que não existam provas que confirmem essa hipótese

Queda e ascensão do livro

De acordo com um painel explicativo da exposição, após um período próspero para a tipografia durante o século XV, a tipografia entra em decadência no século XVII – uma altura de “fraca produção e de baixa qualidade”. É na sequência desta realidade que no século XVIII, o poder real impulsiona a arte tipográfica que “resulta numa melhoria do livro.

Com Alvará de 24 de Dezembro de 1768, nasce a Impressão Régia, designada também por Régia Oficina Tipográfica, que a partir de 1833 passa a chamar-se Imprensa Nacional. De acordo com a página oficial da instituição, para que os trabalhos pudessem arrancar foi comprada uma oficina tipográfica, propriedade de Miguel Manescal da Costa, e alugado o palácio de D. Fernando Soares de Noronha, na então rua Direita da Fábrica das Sedas, em Lisboa, frente ao Colégio dos Nobres, mas com entrada pela Travessa do Pombal, actual Rua da Imprensa Nacional. Diz o alvará que à Impressão Régia uniu-se a fábrica de caracteres que até 1768 estava a cargo da Junta do Commercio, fundada em 1732, onde trabalhava Jean de Villeneuve, um francês que a pedido de D. João V veio para Portugal para ensinar a sua arte. É o francês que nessa altura lá continua a ensinar novos aprendizes.  Dessa altura até hoje construi-se uma história de evolução e adaptação.

Diz o presidente da INCM, Gonçalo Caseiro, por altura da inauguração da exposição, que quando Marquês de Pombal criou a Imprensa Régia decidiu fazê-lo frente à Escola dos Nobres precisamente para que quem lá estudasse tivesse acesso aos livros. Esta é apenas uma curiosidade de uma instituição que afirma ter “uma história que a prepara para os próximos 250 anos”. Exemplo disso é o trabalho que actualmente leva a cabo no desenvolvimento dos chips que fazem parte do Cartão do Cidadão ou do passaporte electrónico. 

A curadora, Sofia Meira, diz que esta exposição não é “estanque” e que por isso mesmo terá uma programação paralela com workshops abertos ao público para que possam experimentar as técnicas usadas noutros tempos: “Queremos ensinar estas técnicas e estes processos considerados obsoletos e envolver todos os que quiserem participar”.

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