Sim, é consigo

Flauta de Luz é uma revista imensa que precisa de ser lida e encarada como antídoto dos vários venenos complacentes e confortáveis com que nos drogam - e nos drogamos.

Quando chega a revista Flauta de Luz, editada por Júlio Henriques, largo tudo para lê-la toda. É um prazer e é um choque. Custa aprender certas coisas. Custa sentir-me tão culpado. Custa sentir-me tão ignorante. E, sobretudo, custa sentir tanta vergonha.

Saiu agora o número 5. Está cheio de bombas, vítimas, monstros. Há indicações concretas do genocídio dos povos indígenas do Brasil, fornecidas por Felipe Milanez. Há um ensaio magnífico de Eduardo Viveiros de Castro que nos abre os olhos com generosidade. Tem o título "Involuntários da Pátria" e deveria ser leitura obrigatória em todos os liceus do mundo. Vale a pena ver o vídeo no YouTube, gravado no sempre admirável Teatro Maria Matos, para ouvir as respostas do autor às boas perguntas que se fizeram.

Faça o mesmo com "Do Sonho e da Terra" de Ailton Krenak. Lê-se como quem acorda. Vê-lo depois no Maria Matos, parece, de facto, um sonho.

Jack D. Forbes visitou Lisboa em Maio de 1982 e escreveu contundentemente sobre os portugueses e Portugal no poema "Iluminações no Rio Tejo". Custa ler e reconhecer que é verdade. A honestidade é a única consolação.

Flauta de Luz é uma revista imensa que precisa de ser lida e encarada como antídoto dos vários venenos complacentes e confortáveis com que nos drogam - e nos drogamos. A começar pelo Portugal ridículo que está na moda e que nos traz todos a garantirmos uns aos outros que somos os maiores.

É preciso coragem para ganharmos juízo e arrepiarmos caminho, se é que ainda vamos a tempo.

 

 

 

 

Sugerir correcção
Ler 9 comentários