Fotografia

Eles devolvem a beleza às vítimas de morte violenta

Fotogaleria

ATENÇÃO: esta fotogaleria contém imagens que podem perturbar os leitores mais sensíveis

 

Em 2017, na Colômbia, foram registados cerca de 11 mil homicídios, de acordo com dados apontados pelo Ministério da Defesa do país — em média, 32 mortes violentas por dia. Em 2016, os números eram 10% mais elevados. Nas últimas décadas, tem sido registada uma tendência de decréscimo do número de crimes, o que não coloca — nem de longe — a Colômbia na lista dos países mais seguros do mundo (ou sequer da América Latina).

 

Reflectindo sobre estes dados, o fotógrafo colombiano Henry Agudelo decidiu debruçar-se sobre o tema através de uma perspectiva pouco usual. Existem, no país, jovens estudantes que se dedicam a devolver a paz aos rostos e corpos de vítimas de crimes violentos. "O seu trabalho é uma espécie de poção mágica contra o ódio", pode ler-se na descrição do projecto Young People Who Beautify Death — recentemente distinguido com o segundo prémio na categoria Actualidade do concurso Sony World Photography Awards. "Recuperam a carne que foi destruída pela barbárie, apagam os esgares de dor fixados nos lábios e sobrolhos dos falecidos, resgatam sorrisos de pilhas de carne e dor. Recuperam a beleza e naturalidade do morto, para que possa ser recordado tal como era em vida."

 

"Há mais de 30 anos que pensava realizar este projecto", disse ao P3 o fotógrafo, em entrevista. "Desde a data da morte de um dos meus melhores amigos, que foi assassinado", esclarece. Henry interessou-se, sobretudo durante os últimos anos, pelos casos de pessoas desaparecidas, não identificadas, que entram anónimas nos laboratórios de medicina legal e que saem marcadas com um número. "Ninguém quer saber deles" e por esse motivo são utilizados pelos estudantes para a prática da tanatoestética. "Eles estudam cada fibra do corpo e a forma como foi infligida a morte. Alguns dos corpos conservam-se durante todo um ano lectivo; quando começam a decompor-se, procede-se a uma cerimónia religiosa e a um enterro digno, em que lhes é atribuido um número de identificação."

 

Não foi difícil para o fotógrafo trabalhar este tema. "Eu já nasci no meio da violência, da morte, da destruição, e o meu trabalho de fotojornalismo ainda me aproximou mais de tudo isso", explica. "Desejo mostrar ao mundo, de uma perspectiva documental, que a paz não se negoceia apenas com os vivos; que os mortos também merecem ser identificados e enterrados condignamente. Que também essa poderá ser uma forma de plantar a paz nas cidades do meu país."

 

Henry Agudelo é considerado por muitos um fotojornalista de referência, na Colômbia, três vezes premiado pelo World Press Photo em 2004, 2006 e 2008.