Henrique Borges ou os voos de uma guitarra entre ruínas

Um guitarrista deu rosto à sua música em sucessivas viagens de exploração urbana por vários países: Bélgica, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo, Namíbia e Portugal. Incursão, disco e livro, chega esta sexta-feira às lojas.

Fotogaleria

Na capa vê-se um homem de costas, com um estojo de guitarra na mão direita, no interior do que parece uma central nuclear deserta. Não parece, é. É mesmo uma torre de refrigeração de uma central nuclear na Bélgica e, por causa dessa imagem, Henrique Borges, guitarrista, adiou o lançamento de um disco que já tinha pronto, transformando-o num projecto maior, um disco e um livro, onde os dez instrumentais que gravara procuraram identificação em lugares abandonados, em ruínas de outras épocas. Disco e livro, juntos, chegam esta sexta-feira às lojas e constituem uma proposta sonora e visual que durou três anos a concretizar.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Na capa vê-se um homem de costas, com um estojo de guitarra na mão direita, no interior do que parece uma central nuclear deserta. Não parece, é. É mesmo uma torre de refrigeração de uma central nuclear na Bélgica e, por causa dessa imagem, Henrique Borges, guitarrista, adiou o lançamento de um disco que já tinha pronto, transformando-o num projecto maior, um disco e um livro, onde os dez instrumentais que gravara procuraram identificação em lugares abandonados, em ruínas de outras épocas. Disco e livro, juntos, chegam esta sexta-feira às lojas e constituem uma proposta sonora e visual que durou três anos a concretizar.

“Eu fiz primeiro o disco, as músicas”, diz Henrique Borges. “Depois tentei arranjar imagens que se adaptassem à música que eu tinha feito. Como não consegui encontrar, acabou por surgir de forma espontânea uma fotografia de uma central na Bélgica que eu pensei que encaixava bem com uma das músicas.” Mas ir à Bélgica só para fazer uma fotografia? Primeiro pensou que “era de loucos”; mas depois, como costuma viajar bastante, arriscou. Foi com a sua mulher, Paula, e essa visita extraordinária foi o passo para uma busca que durou três anos e alastrou a diversas localidades e países: Bélgica, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo, Namíbia e Portugal.  Sempre na senda da exploração urbana (abreviada, em inglês, para Urbex), que se materializou em muitas fotografia e alguns vídeos. No livro que acompanha o disco, Henrique escreveu: “Urbex é a exploração de espaços esquecidos, deixados ao abandono. É a incursão por locais entregues à natureza e por ela transformados. Locais onde não se deveria estar. Onde a imaginação acontece. Onde a música que componho se concretiza. Naquele silêncio, naqueles locais.” Que tanto podem ser antigos palácios como hospitais abandonados, carruagens desactivadas, até centrais nucleares.

Complemento perfeito

“O que me atraiu foi achar mesmo que eles conjugavam com a minha música e que seriam o complemento perfeito para a parte gráfica e visual do projecto”, diz Henrique. Incursão, nome que deu ao disco e ao livro, não é o seu primeiro trabalho. Nascido em Moçambique, em 22 de Julho de 1974, e vindo para Portugal com dois meses, começou a aprender música aos 15 anos, guitarra clássica e depois eléctrica. Mas só quando começou ele próprio a ensinar e um aluno lhe mostrou uma guitarra portuguesa é que abraçou essa via. “Achei que era um instrumento espectacular, com um som único, e estar só ligado ao fado fez-me um bocado de confusão. Então compus alguns temas e concorri ao Jovens Criadores.” Isso foi em 1997, com o grupo Henrique e Sinfonia, e valeu-lhe o Prémio de Banda Revelação, o que o incentivou a continuar a explorar novas sonoridades na guitarra portuguesa. O seu primeiro álbum, Concerto, foi lançado dois anos depois, em 1999. E, a par das actuações, Henrique criou uma escola, Lugar da Música, dedicada ao ensino de vários instrumentos.

Coisas perigosas

Voltando à aventura de Incursão e aos lugares abandonados que lhe foram dando rosto: “Aconteceram várias coisas, algumas perigosas, porque muitos destes sítios são difíceis de fotografar e filmar. Há sítios por onde se passa por um espaço mínimo, cheio de lama, tive de trazer de Lisboa uma galochas e uns plásticos para poder entrar.” Num dos locais tiveram de fugir dos tiros de aviso dos guardas, noutro tentaram assaltá-los. “Era sempre a correr.”

Os temas de Incursão têm nomes que reflectem algo das paisagens inóspitas visitadas: Incursão, Lua, Amanhecer, Diminuindo, Memórias, Tango em Lisboa, Marioneta, Ciclo da vida, Ruínas e Corrido. E três deles têm vídeos associados, disponíveis no site do músico e também no Youtube. Além de Henrique Borges (guitarra portuguesa), participam Pedro Santos (acordeão), Vânia Moreira (violoncelo) e Luís Teixeira (guitarra clássica). Ao vivo, porém, serão sete: guitarra portuguesa, clássica, baixo, acordeão, violoncelo e duas vozes. Dia 19 de Maio actuarão em Lisboa, no Auditório Camões (ao Saldanha, às 21h30), dia 30 de Junho no Claustro Real do Mosteiro da Batalha e dia 17 de Julho em Braga, no Centro Histórico. Depois, a Incursão continuará noutros palcos.