Uma revolução é uma revolução

Rui Gaudêncio
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Rui Gaudêncio

Diz o dicionário: “Revolução: Mudança brusca e violenta na estrutura económica, social ou política de um Estado.” Uma revolução é uma revolução e foi isso que aconteceu há 44 anos em Portugal, dia 25 de Abril de 1974, quando os capitães do Movimento das Forças Armadas depuseram a ditadura que vigorou no país durante longuíssimas quatro décadas. Uma revolução é uma revolução e manifesta-se bem além da tal mudança brusca nas estruturas de Estado.

Uma revolução, esta revolução, a dos Cravos, a que pôs o mundo inteiro de olhos em Portugal, manifesta-se nas pequenas coisas, nessas coisas picuinhas em que se especializam as ditaduras – e eis que, finalmente, passou a ser possível ter isqueiro sem requerer ao Estado licença para o seu porte, e eis que não haveria um polícia a cometer a baixeza de multar um casal que se beijasse na rua. Uma revolução, a nossa revolução, manifesta-se nas grandes coisas, na vitória para a população trabalhadora que foi o direito real a gozar férias, o direito a ler, ou seja, o fim da proibição de livros “incómodos” ou “perigosos” e da censura prévia na imprensa, e o direito a um ensino que, num país que a ditadura condenara a um analfabetismo de dimensão inconcebível na Europa do século XX, chegasse a todos e que todos formasse.

Uma revolução é uma revolução e esta abriu caminho para muito mais. A modernização das arcaicas e perigosas artes da pesca, um exemplo entre tantos, uma rede viária que aproximasse o país de si próprio, outro exemplo, concretizado após a entrada na União Europeia – e seria impossível entrar na UE antes do 25 de Abril.

Mas mergulhemos mais fundo. Atente-se bem na ignomínia do antes: até 1969, uma mulher não podia ausentar-se do país sem autorização do marido; até à revolução de 1974, uma mulher analfabeta não podia votar (um homem analfabeto também não); antes do 25 de Abril, um marido que matasse a mulher adúltera seria julgado pelo respectivo “crime de honra”, devidamente consagrado na lei – pena máxima: seis meses de expulsão da comarca respectiva. Uma revolução é uma revolução. Ainda. Sempre. Mário Lopes

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