Investigadora portuguesa premiada por trabalho sobre sexismo no ensino

Prémio Philip Leverhulme, no valor de 116 mil euros, foi atribuído a Maria do Mar Pereira. Investigadora mostra-se "radiante" por poder continuar a estudar um tema "central nas sociedades contemporâneas": o género

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A investigadora Maria do Mar Pereira Miguel Manso

A investigadora portuguesa Maria do Mar Pereira ganhou o Prémio Philip Leverhulme, no valor de 116 mil euros, por dois estudos pioneiros que realizou sobre sexismo em escolas e universidades portuguesas.

A socióloga Maria do Mar Pereira, que está a trabalhar na University of Warwick, no Reino Unido, divulgou em comunicado que foi distinguida pela investigação que realizou em Portugal entre 2006 e 2017 sobre estereótipos de género e sexismo. “Estou absolutamente radiante por ter recebido este prémio internacional tão prestigiado. O prémio dá-me a oportunidade de desenvolver mais investigação sobre género, um tema que é central nas sociedades contemporâneas e que é preciso continuar a estudar e debater em profundidade em Portugal”, afirma Maria do Mar Pereira no comunicado.

A investigadora adianta que se têm feito “muito avanços nos últimos anos, mas há ainda muito trabalho pela frente”. O prémio irá também permitir dar “mais visibilidade a Portugal no estrangeiro, e demonstrar que a realidade portuguesa pode servir de base para descobertas científicas com impacto internacional”, afirma a vice-presidente do Centre for the Study of Women and Gender da Universidade de Warwick e investigadora na Universidade Aberta e no Centro Interdisciplinar de Estudos de Género na Universidade de Lisboa.

O primeiro estudo de Maria do Mar Pereira analisou formas de sexismo e homofobia numa escola de segundo ciclo em Lisboa e deu origem ao livro Fazendo Género no Recreio: a Negociação do Género em Espaço Escolar, que vencera já em 2014 o Prémio Internacional ICQI para o Melhor Livro em Investigação Qualitativa. O estudo concluiu que os estereótipos de género e sexualidade que circulam nas escolas portuguesas, e na sociedade portuguesa em geral, dão origem a fenómenos complexos de desigualdade, marginalização e bullying, que têm impactos muito nocivos nas crianças e jovens de todos os géneros. A autora demonstra que desconstruir estes estereótipos na escola pode ajudar crianças e jovens a criar relações mais saudáveis, melhorar a sua saúde e desempenho académico, aumentar a sua autoestima, e diminuir a violência verbal e física no recreio.

O segundo estudo analisou o sexismo nas universidades portuguesas e resultou no livro Power, Knowledge and Feminist Scholarship: an Ethnography of Academia, que foi um dos finalistas do Prémio BBC Thinking Allowed 2018. Este estudo mostra que nos últimos dez anos o discurso oficial nas universidades portuguesas se tem tornado mais igualitário e inclusivo, e há um maior reconhecimento público da necessidade de combater desigualdades (de género e não só) no meio académico. No entanto, este discurso oficial igualitário coexiste com práticas informais e às vezes invisíveis de discriminação sexista, de assédio sexual e intelectual, e de ridicularização e menorização da investigação científica desenvolvida por mulheres e cientistas lésbicas, gays, bissexuais e trans (LGBT), refere o estudo.

Este prémio é atribuído anualmente pelo Leverhulme Trust a “jovens cientistas extraordinárias/os, cujo trabalho já é reconhecido internacionalmente, e cuja futura carreira científica é excepcionalmente promissora”.

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