Quantos estrangeiros deve ter uma escola? Até 20%

Investigadores calcularam qual é a “mistura saudável”. Alunos de escolas sem imigrantes, ou com uma percentagem de estrangeiros superior a 20%, saem-se pior do que a média. Estudo analisa em detalhe dados do PISA de 2015 relativos à Matemática.

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Enric Vives Rubio

As escolas com melhores desempenhos em relação à média nacional e à média da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE) são as que têm uma “mistura saudável” entre alunos portugueses e imigrantes, revela um estudo dos investigadores Isabel Flores e David Justino, a partir da análise de resultados a Matemática no Programme for International Student Assessment (PISA) de 2015.

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As escolas com melhores desempenhos em relação à média nacional e à média da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE) são as que têm uma “mistura saudável” entre alunos portugueses e imigrantes, revela um estudo dos investigadores Isabel Flores e David Justino, a partir da análise de resultados a Matemática no Programme for International Student Assessment (PISA) de 2015.

Olhando para os resultados dos alunos portugueses neste estudo internacional, que é levado a cabo de três em três anos, verificou-se que, para ter a “mistura saudável”, a percentagem máxima de estrangeiros numa escola deve ser de 20%, diz a investigadora do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa, e a mínima de 1%. “As escolas beneficiam em ter alguns imigrantes, mas não demais.”

É que a partir dessa percentagem máxima começa a desenhar-se um cenário de guetização, que também não é positivo. Mais: tendencialmente, as escolas com mais de 16% de imigrantes estão inseridas em meios mais pobres, o que significa, regra geral, resultados mais fracos. 

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Tanto as escolas com mais de 20% de imigrantes, como as que não têm, de todo, alunos estrangeiros apresentam desempenhos inferiores no PISA, explica a consultora que está a transformar este estudo num paper co-assinado pelo ex-ministro da Educação David Justino, da Universidade Nova de Lisboa. O hiato face à média nacional chega a ser de 50 pontos. O que significa que nestas escolas onde não há diversidade, ou onde há demasiada concentração de estrangeiros, os alunos podem ter um atraso de mais de um ano na aprendizagem face aos colegas do resto do país.

A percentagem de alunos imigrantes em Portugal é de cerca de 10% — o que inclui os chamados imigrantes de primeira geração (nascidos fora de Portugal e filhos de pais estrangeiros) e os de segunda geração (nascidos em Portugal, filhos de imigrantes). Os dois conceitos são usados pelos autores desta análise.

O PISA é um estudo desenvolvido pela OCDE para avaliar a literacia dos alunos aos 15 anos em três áreas: Leitura, Ciências e Matemática. Em Portugal, na última edição, foram avaliados 7325 jovens de 246 estabelecimentos de ensino. Que obtiveram um resultado acima da média de outros países. Os autores basearam a sua análise na Matemática, na qual a média nacional dos testes PISA foi de 492 contra 490 nos 70 países do estudo da OCDE

Embora os alunos imigrantes tenham o mesmo perfil socioeconómico e cultural que os portugueses, o simples estatuto de imigrante conduz a perdas de 25 pontos, concluem ainda. Isto é, se os alunos portugueses ficaram acima da média da OCDE com os seus 492 pontos a Matemática, os imigrantes situaram-se abaixo, com 467 pontos. Esta diferença equivale a um atraso na aprendizagem de entre seis a sete meses relativamente aos colegas portugueses.

Falta de apoio

Quando se trata de um falante de outra língua — o que é o caso de 30% dos alunos imigrantes — o desempenho médio a Matemática baixa mais 10 pontos. Um sentimento de pertença à escola negativo, que é a regra entre os alunos imigrantes — nos portugueses, pelo contrário, é positivo — representa uma perda de outros cinco pontos. E a falta de apoio da família, que também é uma característica verificada entre os estrangeiros, faz o desempenho nos testes PISA baixar mais três pontos. 

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Em suma, esta acumulação de factores — serem imigrantes, não se sentirem integrados e não falarem português em casa — cria “focos de discriminação”, refere a especialista que está a fazer um doutoramento sobre parcerias público-privadas na educação.

Porém, “curiosamente, os imigrantes são menos ansiosos — têm menos medo de não saber a resposta, de ter más notas, de errar”. E estão tão motivados para aprender quanto os portugueses, com níveis próximos da OCDE. Têm é menos apoio dos pais.

A análise dos dados mostra ainda que há uma concentração de imigrantes: 70% estudam num quarto de todas as escolas do país. “Isto significa que se criam guetos: há poucas escolas que recebem todos os imigrantes” e outras que não recebem nenhuns.

Face a este cenário, que políticas se podem desenhar? As escolas deveriam ensinar a língua portuguesa aos pais para que eles pudessem falar em casa com os filhos, sugere Isabel Flores.

Deviam também ter “momentos para integrar os imigrantes”, para reforçar o seu sentimento de pertença, prossegue.

Já quanto ao problema da guetização, a actual forma de colocar alunos na escola, por zonas, é “um convite” a enganar o sistema, refere. O desejável seria criarem-se sistemas de colocação que estabelecessem uma percentagem máxima de aceitação de alunos estrangeiros de 16% a 20%, defende, de modo a não concentrar excessivamente alunos com as mesmas características. Até porque a educação é “um dos factores mais importantes de integração”.