PISA 2015: alunos portugueses ficaram pela primeira vez acima da média da OCDE

"Portugal é dos poucos países membros da OCDE onde se tem observado uma tendência de melhoria contínua nos resultados. A Finlândia, por exemplo, tem manifestado a tendência inversa ”, frisa investigador que coordenou a participação portuguesa na avaliação internacional.

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Do fim da tabela, Portugal passou a estar no segundo grupo de países com melhores resultados no PISA Daniel Rocha

É uma estreia de Portugal no megaestudo internacional que avalia a literacia dos alunos de 15 anos de idade em Ciências, Leitura e Matemática. Pela primeira vez os jovens portugueses ficaram à frente da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) nestes três domínios que são avaliados pelo PISA (Programme for International Student Assessment), um estudo que se iniciou em 2000 e que é feito de três em três anos.

A última edição realizou-se em 2015 e teve como enfoque principal a literacia científica, pelo que esta é a área para a qual há mais dados nos relatórios de desempenho. Participaram 500 mil alunos, dos quais 7325 portugueses. Os resultados são divulgados nesta terça-feira.

A Ciências e Leitura, com mais oito e cinco pontos respectivamente, Portugal obteve resultados “significativamente superiores” aos da média da OCDE, destaca o Instituto de Avaliação Educativa (Iave), responsável pela aplicação destes testes aos alunos portugueses. Já a Matemática, apesar de ter mais dois pontos do que a média, a diferença não é considerada “estatisticamente significativa”.

Nos testes do PISA não são avaliados conteúdos curriculares — aqueles que são leccionados em contexto de sala de aula. No estudo da OCDE o que se pretende saber é em que medida os alunos de 15 anos são capazes de mobilizar os seus conhecimentos, nas três dimensões avaliadas, na resolução dos problemas do dia-a-dia. Nas questões submetidas é tida também em conta a globalização da economia e os desafios que esta representa. “Apesar de serem oriundos de sistemas educativos diferentes, quando chegarem à idade adulta irão competir pela mesma oferta de emprego”, refere a OCDE.

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O que dizem as médias

Voltemos então às médias. Na literacia científica — as questões colocadas testam a capacidade de identificar e interpretar fenómenos científicos, como por exemplo o de saber porque é que a velocidade de um meteoro aumenta quando se aproxima da Terra — os alunos portugueses tiveram um resultado de 501 pontos, contra uma média da OCDE de 493. Ou seja, por comparação à primeira edição do PISA, em 2000, Portugal subiu 42 pontos, ocupando agora a 22.ª posição num total de 70 países e economias analisados. Se apenas se tiver em conta os 35 países da OCDE que participaram no estudo, a posição portuguesa sobe para 17.º lugar.

Na literacia em leitura a média portuguesa foi de 498 pontos e a da OCDE de 493. Em relação à participação de 2000, Portugal progrediu 28 pontos. Está em 21.º lugar no total dos analisados e em 18.º quando se restringe a participação apenas aos membros da OCDE.

Na semana passada, noutro grande estudo internacional (TIMSS) que tem como alvo os alunos de 10 anos de idade, Portugal ficou em 17.º lugar a Matemática num total de 49, tendo mesmo ultrapassado a Finlândia. Os resultados no PISA agora conhecidos são mais modestos: Portugal ficou na 29.ª posição com uma média de 492 pontos. É 22.º se a análise incidir apenas nos países da OCDE (média 490).

PÚBLICO - A posição de Portugal
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A posição de Portugal

Em declarações ao PÚBLICO, o investigador que coordenou a participação portuguesa em ambos os estudos, João Marôco, considera, contudo, que não se deve fazer comparações entre ambos os estudos, não só porque o público-alvo é diferente, como também porque avaliam conteúdos distintos. “A matriz do TIMSS é claramente curricular – o teste é delineado para avaliar os conhecimentos e competências das crianças em Matemática e Ciências do 4.º ano de escolaridade. No PISA, os domínios de Leitura, Ciências e Matemática são avaliados não tendo uma mancha curricular como referencial, mas antes o que os alunos aprenderam ao longo do seu percurso escolar e como conseguem mobilizar os conhecimentos e competências adquiridas na resolução de problemas do dia-a-dia”, especifica.

Os alunos portugueses subiram 38 pontos no resultado obtido a literacia matemática quando a comparação é feita com a média de 2000, ano em que Portugal estava na parte final da tabela. Com os testes realizados em 2015, passaram a figurar no segundo grupo de países com melhores resultados nos três domínios analisados.

Macau sobe para os primeiros lugares

À semelhança do que sucedeu no TIMSS, o primeiro grupo é dominado por países da Ásia, com Singapura sempre a liderar. Macau também faz parte deste primeiro grupo, tendo ficado em 5.º em Ciências e em 3.º a Matemática.

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Uma leitura dos resultados nacionais mostra que “Portugal é dos poucos países membros da OCDE onde se tem observado uma tendência de melhoria contínua nos resultados”, frisa João Marôco. “A Finlândia, por exemplo, tem manifestado a tendência inversa (decréscimo contínuo dos resultados).”

Portugal também se destaca pela evolução da percentagem de alunos cujos desempenhos levaram a que ficassem situados nos níveis 5 e 6, os dois mais avançados. O nível mais elementar é o 2. Os alunos que estão nos dois níveis mais elevados são conhecidos como Top Performers (alto desempenho) e os que se situam abaixo do nível 2 têm a designação neste estudo de Low Achievers (baixo desempenho). Nesta situação considera-se que os jovens não têm as competências básicas para uma cidadania activa.

A literacia científica, Portugal conseguiu que 7,4% dos seus alunos ficassem situados nos níveis 5 e 6. A média da OCDE neste item é de 7,8%. Os alunos portugueses foram também os que registaram a maior progressão na percentagem de Top Performers entre 2006 – o último ano em que o PISA tinha sido especialmente dedicado às Ciências – e 2015: mais 4,5%. Em simultâneo foram também dos que registaram reduções acentuadas na percentagem de Low Achievers: menos 7,1%.

Tanto neste domínio, como na literacia em leitura a percentagem de alunos portugueses que ficou no nível 2 ou superior é de 82,2%. A média da OCDE oscila entre 79% e 80%. Já a Matemática, a percentagem de alunos no nível 2 ou superior desceu para 76%, uma média que no entanto é similar à da OCDE.

Neste domínio, Portugal ocupa a posição oposta à de Singapura, Taipé e Hong Kong.  Estas economias têm sistemas educativos onde pelo menos um quarto dos alunos está nos níveis 5 e 6. Já em termos nacionais os jovens que têm um desempenho abaixo do nível 2 representam quase um quarto do total e 11% estão no extremo oposto.

Onde podemos chegar?

Em resumo,  destaca o Iave, desde 2000, a progressão média dos resultados nacionais foi de 2,8 pontos por ano em Ciências, de 2,6 pontos /ano em Matemática e de 1,8 pontos/ano em leitura. Tanto no TIMSS, iniciado em 1995, como no PISA, percebe-se que “a melhoria de performance dos alunos [portugueses] é significativa”, sublinha João Marôco, para acrescentar que mais do que comparações entre estudos, o que importa ver é “onde começámos há 20 anos, onde estamos hoje e até onde podemos chegar no futuro”.

Mas o desempenho dos alunos portugueses continua a ser prejudicado por essa característica do sistema educativo nacional, também apontada por várias vezes pela OCDE: a elevada percentagem de chumbos.

No prefácio ao relatório português do PISA, o presidente do Iave, Helder Sousa, lembra isso mesmo quando refere as características da amostra portuguesa. Por regra, os alunos com 15 anos estão nos países da OCDE no ano equivalente ao 10.º português, mas em Portugal apenas 50% cumprem este requisito. A outra metade está em anos de escolaridade anteriores. Para Helder Sousa, “este factor não deixa de condicionar negativamente os resultados médios nacionais e é o reflexo da persistência de taxas de retenção elevada no nosso sistema de ensino”.

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