Turquia controla Afrin após retirada dos curdos

Começa a ser destruído património curdo pelas milícias associadas às tropas de Erdogan. Há cerca de 200 mil pessoas em fuga. Curdos prometem continuar a ser "um pesadelo constante" para os seus adversários.

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O Exército turco assumiu este domingo o controlo da cidade síria de Afrin, culminando uma operação lançada há dois meses para expulsar da zona as Unidades de Protecção Popular curdas. Um dos seus primeiros actos foi destruir uma estátua ligada à cultura curda no centro da cidade, noticiou a agência Reuters.

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O Exército turco assumiu este domingo o controlo da cidade síria de Afrin, culminando uma operação lançada há dois meses para expulsar da zona as Unidades de Protecção Popular curdas. Um dos seus primeiros actos foi destruir uma estátua ligada à cultura curda no centro da cidade, noticiou a agência Reuters.

Os líderes curdos de Afrin prometem continuar a combater as forças turcas, optando a partir de agora por tácticas de guerrilha que irão constituir um "pesadelo constante" para os seus adversários.

"As nossas forças estão presentes em toda a geografia de Afrin. Estas forças vão atacar posições do inimigo turco e dos seus mercenários em todas as oportunidades", afirmou o co-presidente do conselho executivo de Afrin, Othman Sheikh Issa, através de uma declaração televisiva.

"Deitaram abaixo a estátua do ferreiro Kawa, uma figura central nas lendas da celebração do Nawroz", o Ano Novo, que se celebra a 21 de Março, diz uma declaração posta a correr num grupo do Whatsapp gerido pelas Forças Democráticas da Síria, dominadas pelos curdos, citando o Centro de Informação de Afrin, diz a Reuters. "É a primeira violação da cultura e da história do povo curdo desde a tomada de Afrin."

Em imagens partilhadas nas televisões e nas redes sociais vê-se a bandeira da Turquia no centro da cidade. "Unidades do Exército Livre da Síria, apoiadas pelas Forças Armadas da Síria, assumiram o controlo do centro de Afrin esta manhã", anunciou o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan.

As milícias curdas sírias YPG (Unidades de Protecção Popular), que tinham o controlo militar da cidade, parecem ter abandonado Afrin, juntamente com os seus habitantes —  terão fugido mais de 200 mil civis, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, um grupo com sede no Reino. As Nações Unidas dizem que estarão em fuga para as montanhas.

"A retirada de uma batalha não significa que se perdeu a guerra, nem que se desistiu da luta. A luta vai continuar e o povo curdo vai continuar a defender-se do genocídio que estão a planear contra nós", afirmou, no Twitter, Salih Muslim Muhammad, ex-co-presidente do Partido da União Democrática, o partido curdo sírio que governava Afrin. 

A operação turca foi lançada a 20 de Janeiro. O Governo de Erdogan argumentou que invadia a Síria para combater “o terror curdo”. Mas os curdos sírios não atacam a Turquia. O que Ancara pretende é impedir que as três regiões curdas do Norte da Síria — Afrin é uma delas — criem uma continuidade territorial ao longo da fronteira com a Turquia, ligando-se com o Leste do seu território, de maioria curda. Ali existe há três décadas um movimento de luta pela independência e auto-afirmação da cultura curda, liderado pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

É por isso que o Governo turco diz que as milícias curdas sírias YPG que controlam Afrin são uma extensão do PKK, e que invadir o Norte da Síria está a lutar contra "o terrorismo curdo".

Ao fazer isto, agravou as suas relações com os EUA, afirmando existir um plano apoiado pelos norte-americanos para ser criada uma força de controlo na fronteira entre a Síria e a Turquia constituída pelas milícias curdas. As YPG têm sido o mais valioso aliado no terreno na luta contra o Daesh na Síria. Os EUA negam tal pretensão, e as relações com a Turquia têm azedado continuamente.

Em Ghouta, nos arredores de Damasco, decorrem negociações com dois dos principais grupos rebeldes e o Governo de Bashar Al-Assad, para que alguns guerrilheiros possam sair para áreas ainda controladas pela oposição. Os civis continuam a sair aos milhares para áreas controladas pelo Governo e os bombardeamentos continuam.