Há quase 40 anos que não se via tanto entra-e-sai na Casa Branca

Desde que Trump chegou à Casa Branca já saíram 43% dos funcinários de topo — mais do que em dois anos nos mandatos dos seus cinco antecessores.

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O segundo ano de mandato costuma ser ainda pior em termos de entradas e saídas Reuters/KEVIN LAMARQUE

De um Presidente dos Estados Unidos espera-se que se rodeie de algumas dezenas de pessoas, leais mas também competentes, para o ajudar a enfrentar o primeiro ano ao leme da maior potência mundial; mas de um homem que esteve vários anos à frente de um reality show que termina com a sentença "Estás despedido!", percebe-se que a porta da Casa Branca esteja mais vezes a abrir e a fechar do que um guarda-chuva em dia de Primavera.

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De um Presidente dos Estados Unidos espera-se que se rodeie de algumas dezenas de pessoas, leais mas também competentes, para o ajudar a enfrentar o primeiro ano ao leme da maior potência mundial; mas de um homem que esteve vários anos à frente de um reality show que termina com a sentença "Estás despedido!", percebe-se que a porta da Casa Branca esteja mais vezes a abrir e a fechar do que um guarda-chuva em dia de Primavera.

A sensação de que o Presidente Trump contrata e despede a um ritmo superior ao normal para uma Administração norte-americana podia ser uma traição da memória, mas os números confirmam essa ideia: só no primeiro ano, sem contar com as saídas já anunciadas depois de 20 de Janeiro, a Casa Branca perdeu 21 funcionários da "equipa A" do Presidente. E a hemorragia não ficou por aí: desde Fevereiro, saíram ou anunciaram a decisão de sair Rob Porter, braço direito do chefe de gabinete; Hope Hicks, directora de comunicação; Gary Cohn, principal conselheiro para os assuntos económicos; e outros funcionários com nomes menos sonantes.

Não é fácil comparar o ritmo das entradas e saídas na Administração Trump com o mesmo movimento em mandatos de Presidentes antes da década de 1980, mas o grupo norte-americano National Journal e uma especialista da Brookings Institution fazem essa recolha desde 1981, quando o então Presidente Ronald Reagan completou o seu primeiro ano na Casa Branca.

E o que se vê nos números e nos gráficos é mesmo aquilo que o coração sente: nos últimos 37 anos, a Administração Trump foi, de longe, a que mais altos funcionários viu entrar e sair — o dobro do que aconteceu no primeiro ano de Ronald Reagan e o triplo do arranque da Presidência de Barack Obama.

Para encontrar estes números, Elizabeth Sablich, da Brookings Institution, apoiou-se no trabalho que a National Review tem vindo a fazer nas últimas décadas com a publicação anual de uma lista de funcionários da Casa Branca a que chama "Decision Makers" (os decisores) — em média, 60 nomes da equipa que trabalha directamente com os Presidentes e do seu gabinete executivo, onde se incluem, por exemplo, o Conselho Económico Nacional e o gabinete dos vice-presidentes.

Aumentar

Para Sablich, este recorde de entradas e saídas na Administração Trump pode ser explicado com dois factores que não existiam nas equipas lideradas por Ronald Reagan, George Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama: "Um factor foi o foco do Presidente na lealdade em detrimento das qualificações. Como o Presidente confiou em muitas das suas ligações no sector privado, e mostrou relutância em contratar quem se opôs a ele durante a campanha, a ausência de uma experiência anterior na Casa Branca entre a equipa de altos funcionários é evidente", diz a especialista num texto publicado no dia 19 de Janeiro no site da Brookings Institution. "Para além disso, as marcas de insurreição da campanha de Trump e a sua equipa relativamente pequena limitaram o universo de candidatos experientes."

Somando as saídas anunciadas em Fevereiro e Março às saídas no primeiro ano de mandato (por vontade própria ou por iniciativa do Presidente), o entra-e-sai na Casa Branca assume proporções ainda mais assinaláveis. Desde que Trump chegou à Casa Branca já saíram 43% dos cerca de 60 funcionários de topo — o mesmo é dizer que já houve mais saídas em menos de 14 meses do que nos dois primeiros anos dos mandatos de George Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama.

Esta semana, no Twitter, o Presidente Trump disse que tudo vai bem na Casa Branca e que as notícias sobre o "caos" na sua equipa são apenas "a nova narrativa das Fake News" — na mesma mensagem, deixou claro que ainda quer mudar mais funcionários, porque está sempre "em busca da perfeição".

Se é verdade que algumas entradas e saídas são normais, e até desejáveis, para afinar a Casa Branca, o recorde de Trump é "preocupante", diz Elizabeth Sablich. Até porque os números dos cinco anteriores Presidentes indicam que o segundo ano é muito pior do que o primeiro em termos de entradas e saídas.

"Os cinco antecessores de Trump registaram um grande aumento de entradas e saídas no segundo ano. Muitos funcionários, esgotados com o excesso de trabalho, olham para os 12 meses como o momento em que podem dizer que têm experiência de Casa Branca e partem em busca de oportunidades mais lucrativas no sector privado", explica a especialista da Brookings.

Uma tendência de saídas que pode vir a somar-se aos perigos de se entrar numa Casa Branca afectada pela investigação sobre a ingerência russa e por inúmeros pequenos e grandes escândalos, que podem não compensar uma experiência na sede do poder norte-americano.