Fotografia
O que é a beleza? Dez mulheres centenárias respondem
A canadiana Arianne Clement conversou com dez mulheres centenárias do Quebeque sobre "juventude, envelhecimento, feminismo, sexualidade, sensualidade, beleza e amor", enquanto as fotografava durante os seus rituais de beleza. "Através destes retratos, questiono a obsessão da sociedade pela juventude e pelos padrões de beleza, procurando dar voz a estas mulheres cuja beleza raramente é reconhecida", disse ao P3, via email.
Marie-Berthe considera-se uma mulher bonita, apesar dos seus 102 anos. "Faço o melhor que posso", partilhou com a fotógrafa. "Gosto de ter o cabelo penteado, usar vestidos, jóias e outros acessórios." Filha de um artesão e pintor, Marie-Berthe vê beleza em todo o tipo de arte: no teatro, na fotografia, na poesia, na pintura, na música. "Numa pessoa, esse tipo de beleza equivale ao carácter, à silhueta, ao sorriso, ao olhar", disse à fotógrafa. Sente falta de ter recebido uma educação formal no passado. "Sem ela, sentimos sempre alguma vergonha. Independentemente da situação, aconselho as jovens mulheres a estudar muito."
Anne-Marie, hoje com 100 anos, era uma jovem de "cabelos longos, belas pernas e curvas". Para ela, a magreza continua a não ser sinónimo de formosura. "As jovens de hoje querem todas ser muito magras, mas eu acredito que a beleza real é natural."
Alida Provost, que faleceu pouco tempo depois de ter sido retratada por Arianne, considerava-se uma mulher "muito racional", pragmática, "não muito sensível à arte". "Cresci no seio de uma família muito pobre", justificou. "Gastar dinheiro no cabeleireiro ou em acessórios de beleza desnecessários estava totalmente fora de questão. Eu costurava apenas aquilo de que necessitava. Cheguei a costurar vestidos para as minhas irmãs feitos a partir dos sacos dos algodão que eram usados para armazenar açúcar."
A centenária Jeanette Ballard não encontra, hoje, beleza na sua imagem. "A beleza desaparece quando envelhecemos", lamentou. "Os narizes e orelhas ficam maiores, os nossos movimentos mudam e ficamos corcundas." Mas "há muitas mulheres que estão em pior estado do que eu", ressalvou. "Mesmo que eu não seja nada bonita." Apesar das vicissitudes da idade avançada, Jeanette gosta de viver "de olhos postos no futuro", mesmo sabendo que depois dos 100 anos "pouco dele lhe resta".
Solange Racine preocupa-se mais com a beleza hoje, com 101 anos, do que quando era jovem. "Gosto de me vestir bem, de usar vestidos bonitos, simples e práticos. Coloco base e perfume todas as manhãs e retoco o bâton após todas as refeições", explicou. Vai ao cabeleireiro todas as semanas. "Também evito comidas que tenham demasiada gordura ou açúcar. É importante que uma pessoa não se desleixe. Dantes usava colares, mas agora não consigo colocá-los. Por isso, desisti."
Quando era jovem, "como todas as mulheres", Madeleine Beaugrand Champagne "queria ser atraente", confessou à fotógrafa. "Cuidava bem do meu cabelo, vestia roupas bonitas que a minha mãe costurava para mim e usava os sofríveis sapatos de salto alto. Mas nunca usei maquilhagem; achava-a falsa." Casou com um homem porque ele era bonito e arrependeu-se. "Ele não era um bom marido e acabei por me ver livre dele." A beleza física é sobrevalorizada, na opinião de Madeleine. "Mais do que manter a beleza física, que é sinónimo de vaidade, eu aconselho as mulheres jovens a cultivar a beleza daquilo que as rodeia", recomenda . "Cuidar de um jardim, pintar ou tocar música, por exemplo. É importante ser amável, independente e estar sempre em aprendizagem."