De olho em Trump, eleitores do Partido Democrata batem recordes de afluência no Texas

Os dois maiores partidos escolhem os seus candidatos no Texas esta terça-feira. O Partido Republicano domina os órgãos de poder, mas a demografia e as migrações prometem baralhar tudo nos próximos anos.

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A taxa de aprovação de Trump no Texas é de apenas 39% LUSA/JIM LO SCALZO

No último ano, desde que Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos, os eleitores norte-americanos já foram chamados a dizer nas urnas, numa mão cheia de estados, se queriam usar essas eleições locais para enviar um sinal à Casa Branca.

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No último ano, desde que Donald Trump foi eleito Presidente dos Estados Unidos, os eleitores norte-americanos já foram chamados a dizer nas urnas, numa mão cheia de estados, se queriam usar essas eleições locais para enviar um sinal à Casa Branca.

No Alabama, por exemplo, o Partido Republicano perdeu o seu representante no Senado para o Partido Democrata, mas a verdade é que ninguém sabe se isso aconteceu mais porque o candidato republicano, Roy Moore, foi acusado de ter relações com raparigas adolescentes nos anos 70 e 80, ou porque houve uma onda democrata anti-Trump que acabou por beneficiar o seu principal adversário, Doug Jones.

O que se sabe é que as eleições especiais como a do Alabama (realizada porque Trump nomeou o senador Jeff Sessions para liderar o Departamento de Justiça) são uma base pouco sólida para um exercício difícil: tentar perceber se a derrota de um político do Partido Republicano é, antes de mais e acima de tudo, uma palmada nas mãos do Presidente Trump – e se essa palmada indica que o Partido Democrata tem campo aberto para roubar a maioria ao Partido Republicano na Câmara dos Representantes em Novembro.

Mas, até lá, os dois maiores partidos norte-americanos têm de escolher as figuras que vão representá-los nessas importantes eleições, num longo processo de primárias que começa esta terça-feira no estado do Texas (segue-se o Illinois, ainda em Março) – e que é uma base um pouco mais sólida para se fazer o tal difícil exercício.

À primeira vista, o republicano Texas seria um dos últimos estados a surgir em conversa quando se tenta perceber se a surpreendente vitória de Trump em 2016 vai ser recebida com um muro eleitoral de protesto em Novembro, ou mesmo com uma mudança mais profunda e duradoura, mas há alguns dados que podem mudar essa ideia: desde 2010, o Texas recebeu 2,7 milhões de novos habitantes, a maioria latinos; e 33% dos latinos têm menos de 18 anos, contra apenas 19,7% dos brancos; e a taxa de aprovação do Presidente Trump no estado desceu para os 39%, em linha com a média nacional de 38% registada pela Gallup no final de Janeiro.

Só esta terça-feira é que a esmagadora maioria dos eleitores vai às urnas, mas os oito dias de votação antecipada mostram que o Partido Democrata tem motivos para estar confiante. Apesar de a afluência eleitoral no Texas ser tradicionalmente muito baixa (e ainda mais baixa quando não está em jogo a escolha de um Presidente), o Partido Democrata registou um aumento de 105% na participação dos seus eleitores em comparação com 2014, enquanto o Partido Republicano registou apenas 15% – já votaram mais eleitores do Partido Democrata no período de votações antecipadas este ano do que no mesmo período em 2016, quando também se escolhia o futuro Presidente dos EUA.

No final, esta vontade demonstrada pelos eleitores do Partido Democrata no Texas não deverá ser suficiente para conquistar dezenas de pequenas eleições ao Partido Republicano, nem para derrubar dos cargos representantes como o governador, Greg Abbott, ou o senador Ted Cruz. Apesar das mudanças demográficas, quando se fala em eleições do Texas ainda ninguém conseguiu vislumbrar uma onda do Partido Democrata, e nem é isso que se espera já este ano: "Eles ainda vão perder, mas vão perder por números mais baixos. No red Texas, isso é uma vitória", disse ao jornal Dallas Morning News o professor de Ciência Política Brandon Rottinghaus, da Universidade de Houston.

Mas a campanha para as primárias no Texas também serviu para levantar o véu ao divórcio em curso entre duas facções do Partido Democrata – um divórcio que começou ainda durante a luta entre Bernie Sanders e Hillary Clinton, em 2015 e 2016, e que põe de um lado a ala mais progressistas e do outro os representantes do chamado establishment.

Numa das primárias do Partido Democrata no Texas, a secção do Partido Democrata responsável pelas eleições para o Congresso (DCCC, na sigla original) atacou a candidata Laura Moser por causa de uma entrevista com quatro anos.

Nessa entrevista, Moser disse que preferia que lhe arrancassem um dente sem anestesia a voltar a viver em Paris, Texas – uma declaração que levou o DCCC a dizer que a candidata não está à altura do Partido Democrata para concorrer ao Congresso em seu nome, em Novembro. Em resposta, vários grupos ligados à ala mais progressista vieram acusar o Partido Democrata de querer afastar Moser para facilitar a vida a um candidato mais próximo do establishment, e o grupo People for Bernie Sanders exigiu ao DCCC que "investigue como é que a direcção chegou a essa decisão e que divulgue publicamente os resultados dessa investigação".