Maria Ana Bobone: “O meu desafio agora é compor para fado”

Com Camané e outros convidados, apresenta no São Luiz fados ao piano, alguns deles inéditos. Este sábado, às 21h.

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Cinco anos depois do seu disco Fado & Piano (de 2012), a fadista Maria Ana Bobone apresenta no Teatro São Luiz um espectáculo onde o piano (tocado por ela) volta a ser central. Será este sábado, pelas 21h, com alguns convidados, entre os quais Camané.

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Cinco anos depois do seu disco Fado & Piano (de 2012), a fadista Maria Ana Bobone apresenta no Teatro São Luiz um espectáculo onde o piano (tocado por ela) volta a ser central. Será este sábado, pelas 21h, com alguns convidados, entre os quais Camané.

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“Percebi que este era um caminho consistente”, diz ela ao PÚBLICO. “E não voltei a ele, continuo no trilho de harmonizar e trazer novos arranjos a coisas que já existem e a compor para a linguagem que o piano me permite. Em termos de ambiente sonoro, abre-me outras possibilidades.” Nascida no Porto, a 5 de Dezembro de 1974, Maria Ana Bobone tem vários discos gravados, a solo ou em parceria: Alma Nova (1994, com Miguel Capucho e Rodrigo Costa Félix), Luz Destino (1996, com João Paulo Esteves da Silva, Ricardo Rocha e Mário Franco), Senhora da Lapa (1998), Nome de Amar (2006), Fado & Piano (2012) e Smooth (2014), este cantado em inglês com sonoridades pop.

O piano teve, desde cedo, um papel na sua vida. Começou a estudá-lo aos sete anos e aos 12 entrou no Conservatório, onde concluiu cursos de piano e também de canto. Cantar fado e tocar piano em simultâneo não a atrapalha. “Eu percebo que o fado é a exposição máxima dos sentimentos e pede grande compenetração. Mas assim a pessoa foca-se em duas coisas ao mesmo tempo, a voz e o piano, não podendo focar-se excessivamente em nenhuma delas. O que também é bom porque há uma certa anulação do ego, estamos ocupados a servir a música em duas frentes e há uma parte de nós que não tem lugar.”

Rendida à palavra

Iniciada na música, Maria Ana Bobone tem vindo valorizar cada vez mais os textos: “Tenho-me rendido à palavra. A música é que me tocava, desde muito nova, sempre foi. As palavras, ouvia-as depois. Mas com o amadurecimento tenho-me apercebido de que a palavra é primordial.” E isso, diz, marcará o seu próximo trabalho. “O meu desafio agora é compor para fado ou mais aproximada ao fado, o que ainda não fiz. Escrevi algumas canções, depois compus em inglês e isso foi bom para desbravar caminho, e agora o que é que se me põe? Escrever na minha língua, escrever na minha música.”

Nesse caminho, e nessa busca, descobriu coisas de que nem sequer suspeitava. “Estive a fazer pesquisas e a mergulhar em poesia. A minha grande descoberta, para o novo disco e para este concerto, foi Fernanda de Castro [1900-1994], não saber que ela compunha. Fiz uma visita à Casa-Museu António Ferro e pude ver nas partituras, nos manuscritos, que ela escrevia de uma forma fabulosa. Comoveu-me tudo: a história, a personagem e as poesias, que sendo de uma certa época são de uma grande qualidade.” E vai cantar também Fernando Pessoa. “Gosto da dimensão angustiada, existencial, dele, revejo-me nisso. Essa parte é muito susceptível de se cantar e diz respeito a toda a gente.”

Novo disco em 2018

A par de Fernanda e Fernando, Maria Ana Bobone cantará no São Luiz “alguns fados mais tradicionais”, entre os quais alguns com poemas de David Mourão-Ferreira. “Este concerto tem algumas coisas já do próximo disco mas também pega em muitas coisas de trás, fica a meio caminho entre o passado e o futuro.” O novo disco deverá sair em 2018, talvez no final do primeiro trimestre. “Já tenho bastante repertório feito.”

Com Maria Ana Bobone (voz, piano e guitarra acústica) estarão Bruno Mira (guitarra portuguesa), Pedro Pinhal (viola de fado) e Rodrigo Serrão (contrabaixo e direcção musical; Rodrigo também já co-produzira, com ela, o disco Fado & Piano). E alguns convidados, a começar por Camané, que junto com ela interpretará dois temas seus, Sei de um rio e A Guerra das rosas. Artur Caldeira, guitarrista clássico, do Conservatório de Braga, é outro dos convidados (“Vou cantar com ele alguns temas, só voz e guitarra clássica”), bem como, ambos da Gulbenkian, a violinista Maria Balbi (“talentosíssima”) e o cantor Manuel Rebelo (“um barítono que tem uma voz absolutamente fantástica”).