Manter a tradição do Vinho do Porto sem deixar de inovar

O Enoturismo em Vila Nova de Gaia tem vindo a crescer todos os anos de forma considerável, e deve-o quase exclusivamente ao Vinho do Porto. Algo positivo para George Sandeman, chanceler da Confraria do Vinho do Porto.

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O Vinho do Porto [e o Douro], mais que uma bebida diferente e única, onde amigos se juntam em torno de uma mesa em confraternização, sempre foi fonte de inspiração para muitas pessoas. Poetas escreveram sobre ele, fotógrafos captaram imagens, pintaram-se quadros e até se escreveram canções como “Vinho do Porto” [Carlos Paião] ou “Blood”, dos ingleses The Cure, que foi inspirada no vinho “Lágrima”. E foi essa paixão por esse licor sem semelhante [e o desejo de manter as suas tradições] que levou à criação da Confraria do Vinho do Porto.

Fundada em 1982, “por pessoas com fortes ligações ao vivo do Porto, a ideia que esteve na base da Confraria foi a de criar uma associação privada por pessoas com interesse na história do Vinho do Porto, nas suas tradições e na promoção de tudo o que era bom no Vinho do Porto. É isso que se tem feito desde a sua fundação”, esclarece George Sandeman.

Desde então, a Confraria [que começou com cerca de 20 confrades] não para de crescer. “Hoje em dia posso dizer que, em termos de sócios efectivos e honorários, os números já se aproximam dos três mil confrades. Vai mudando constantemente. Por exemplo, ainda recentemente realizamos uma missão aos Estados Unidos onde entronizamos 25 pessoas em Chicago e Miami”, garante o chanceler.

Sobre o objectivo principal da Confraria, George Sandeman explica que, “basicamente o nosso objectivo é manter vivas algumas tradições, mas sem as sobrevalorizar, uma vez que o Vinho do Porto tem uma grande faceta de inovação histórica. Digo isto porque pensamos sempre em inovação como algo que acontece agora, mas não. O próprio processo de produção do Vinho do Porto sempre foi desde o início uma inovação, como depois a criação do Tawny e do Vintage, por exemplo”.

Outro exemplo da relação entre tradição e inovação passa pela forma como se bebe o Vinho do Porto. “A Confraria mantém as tradições e o lado histórico, mas também não discorda que seja utilizado de formas diferentes, como bebê-lo com água tónica ou até com gelo. Porque se uma pessoa gosta de beber um cocktail feito com Vinho do Porto que o faça, porque não há nenhum problema em o fazer”, refere George Sandeman.

A tradição dos barcos rabelos

Quando questionado sobre as actividades da Confraria, Sandeman lamenta que “não haja mais tempo para que se possam fazer mais coisas. Actualmente, em termos de actividades, concentramo-nos em duas ou três coisas, nomeadamente o momento alto da Confraria, que é a entronização de novos confrades. É uma cerimónia grande, que decorre em Junho e normalmente se realiza no Palácio da Bolsa no Porto [ao que se segue um cortejo até à Alfândega, onde se realiza um jantar de cerimónia com pessoas de todo o mundo]. Depois, e coincidentemente, temos a Regata dos Barcos Rabelos [isto tudo na altura do São João] que existe graças à Confraria.

Se assim não fosse os barcos que vemos hoje em Vila Nova de Gaia não existiriam, porque não haveria a tradição das casas terem os barcos e participarem numa regata uma vez por ano. A regata começa na Afurada e termina sensivelmente junto à Sandeman por causa da linha da Ponte. Inicialmente era feita na manhã do dia de São João, mas há uns anos atrás passamos para a parte da tarde, o que a tornou mais visível. O turismo contou muito, bem como a publicidade e o interesse municipal. Actualmente, tem um impacto grande ao ponto de vários canais estrangeiros virem fazer reportagens, como o National Geographic, por exemplo. Ou seja, tem uma capacidade de angariar turismo interessante e tem-se tornado uma tradição”.

A importância do turismo

O Enoturismo nas caves do Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, vai passar a barreira do milhão e meio de turistas em 2017, de acordo com as previsões. George Sandeman olha para o turismo como algo “muito positivo, não só para o negócio do Vinho do Porto [e do Douro] aqui em Gaia, mas também para a sua imagem noutros países. Nós apoiamos, por exemplo, ao nível da restauração, a prestação de um serviço de qualidade dos vinhos, para que ele seja mais atraente para os turistas. E olhamos positivamente para este crescimento turístico porque beneficia o enoturismo e ajuda a promover o Vinho do Porto”.

O chanceler da Confraria chama ainda a atenção para o facto de que “as caves estão muito melhor preparadas do que estavam. Mais profissionalizadas, havendo uma melhor segmentação e preocupação naquilo que o turista procura. Há maior autenticidade até nas zonas circundantes, com os restaurantes a oferecerem coisas nossas, típicas da região. Em geral mantém-se a tradição [que considero fundamental], mas com modernidade”.

Os últimos dados indicam que, até Julho de 2017, venderam-se mais de 4 milhões de caixas de Vinho do Porto [9 litros por caixa]. O volume de negócios ultrapassou os 175 milhões de euros. Um sector em crescimento, mas será assim no futuro? George Sandeman tem uma opinião muito clara quanto a esta questão: “quem não entende a sua história é condenado a vive-la de novo. Portanto, nós temos que entender a história do Vinho do Porto e a sua evolução. E aquilo que temos visto é um crescimento dos vinhos de alta qualidade. Isso e ainda não ser conhecido em muitos países. Como tal ainda há muita margem para o seu crescimento e vejo com bons olhos o seu futuro. Mas, claro, sem nunca perder a sua identidade e preservando as tradições”, conclui.