O homem que dizia estarmos a viver “abaixo” das possibilidades chega a ministro

Advogado, próximo do primeiro-ministro António Costa e do PS. Quem é Pedro Siza Vieira, o novo ministro-Adjunto?

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Pedro Siza Vieira na Convenção do PS em 2015 DR

Já se sabe que domina vários assuntos na área do Direito, que já conhecia os protagonistas do xadrez político e que a proximidade ao poder não é uma novidade. Mas há um perfil mais íntimo do novo governante: Pedro Siza Vieira gosta muito de conversar, sobretudo sobre literatura. É um leitor compulsivo. Mas o novo ministro também gosta de cantar e de dançar. E de viajar. Casado, tem três filhos rapazes, e é do Leixões.

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Já se sabe que domina vários assuntos na área do Direito, que já conhecia os protagonistas do xadrez político e que a proximidade ao poder não é uma novidade. Mas há um perfil mais íntimo do novo governante: Pedro Siza Vieira gosta muito de conversar, sobretudo sobre literatura. É um leitor compulsivo. Mas o novo ministro também gosta de cantar e de dançar. E de viajar. Casado, tem três filhos rapazes, e é do Leixões.

Da advocacia para a política

Em Maio deste ano, Pedro Siza Vieira dizia ao Expresso: “É porque gosto de ser advogado que não me meto na política. Fui militante do Partido Socialista na primeira metade dos anos 90, mas não o sou desde que me dediquei à advocacia por completo.” Porém, dois anos antes, em Junho de 2015, quando se preparavam as eleições legislativas, discursou na Convenção Nacional do PS. Mostrou os seus dons de oratória e deixou claro o que esperava do PS caso vencesse: “Há quem diga que os portugueses viveram acima das suas possibilidades. Eu acho que estão a viver abaixo das suas possibilidades. E acho que a tarefa do próximo Governo é abrir o horizonte de possibilidades a todos os cidadãos portugueses.” Pedro Siza Vieira, a quem outros políticos tecem rasgados elogios na imprensa, é também o homem que, no LinkedIn, sabe o que se pensa dele: que é um “excelente líder de equipas”, “bom em tudo o que faz”. E sente-se motivado perante dificuldades, pelo menos a avaliar pelas declarações que fez ao Eco, sobre a ida para o Governo: “Claro que estou motivado. Temos um país devastado, o Estado falhou e temos um Governo fragilizado. Só aceitaria este cargo estando motivado.”

Percurso académico e profissional

Com 53 anos, tem, entre outras habilitações académicas, uma licenciatura na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Já ensinou na Universidade Autónoma de Lisboa; na Católica; na Nova. Foi sócio da Morais Leitão, J. Galvão Teles e Associados, Sociedade de Advogados e, desde 2002, da Linklaters. Tem experiência profissional nas áreas das energias renováveis, das infra-estruturas e transportes, do imobiliário, do sector bancário e financeiro (o Expresso já tinha avançado que Pedro Siza Vieira pertenceu ao grupo que trabalhou nas medidas para o crédito malparado na banca e para a supervisão financeira). Conhece, aliás, vários assuntos que o executivo tem em mãos, tais como nada mais, nada menos que o dossier da renegociação do contrato com a empresa que gere a rede de emergência nacional (SIRESP). Até porque quem elaborou o contrato com a gestora da rede SIRESP foi mesmo a Linklaters. E também foi a este escritório de advogados que o Governo pediu um parecer por causa das falhas nas comunicações ocorridas durante a tragédia de Pedrógão Grande.

Amigo de Costa

Pedro Siza Vieira foi colega do actual primeiro-ministro, António Costa, na faculdade. Não esconde a proximidade: “Somos amigos. Dou-me bem com ele e gosto muito dele”, disse ao Expresso, em Maio. Antes de ter sido, como lembrou o mesmo jornal, assessor de Jorge Sampaio na autarquia de Lisboa, passou por Macau, pelo gabinete do secretário-adjunto para a Administração e Justiça, na mesma altura de Diogo Lacerda Machado – terão sido nomes, de resto, indicados pelo amigo António Costa.

Que mais disse na Convenção do PS?

Na primeira vez que pisou o palco de uma convenção partidária, três meses antes de os portugueses irem às urnas em 2015, reconhecia que os últimos cinco anos tinham sido “dramáticos para o país”, mas alertava: “Estamos num estado de desmoralização por convencimento de que o declínio é inevitável.” E lançava duras críticas ao executivo de direita, liderado por Passos Coelho: “Os partidos do Governo, quando dizem que não há alternativa a este caminho, estão a falar sinceramente. Eles acham mesmo que não há alternativa. Eles não são capazes de conceber outra alternativa e outro caminho. Estão conformados com esta situação.” Acusações que iam direitinhas a Passos: “Sabemos qual é o pensamento profundo do primeiro-ministro. Os portugueses viveram acima das suas possibilidades e estão, neste momento, num processo de empobrecimento com o qual se conseguirá reequilibrar o país. Ele está profundamente enganado. Ele acha que a economia é um jogo de soma zero, que se tapa de um lado, tem de destapar do outro. Não é verdade.”

O que pensa sobre a Europa

Num artigo de opinião publicado em Fevereiro de 2015 no PÚBLICO, Pedro Siza Vieira escrevia o seguinte: “Tenho ouvido dizer que o problema que a Grécia colocou à União Europeia decorre de os gregos não quererem cumprir os compromissos assumidos perante a União Europeia. Mas essa é uma abordagem insuficiente.” Para o advogado, “a questão central que a Europa enfrenta não é de natureza financeira – mais ou menos austeridade. A questão central é de natureza política e constitucional – mais ou menos Europa”.

Experiência interministerial com o Capitalizar

Enquanto membro da comissão executiva e coordenador da Estrutura de Missão para a Capitalização de Empresas (programa Capitalizar), Pedro Siza Vieira já ganhou experiência em lidar com projectos que envolvem vários ministérios. No caso em concreto, e depois de ter sido nomeado para o cargo em Dezembro de 2015, na sua estreia em termos de ligação ao Governo, acompanhou de perto as iniciativas, nomeadamente legislativas, para impulsionar a vertente financeira das empresas (com menor recurso ao crédito bancário). Dependendo formalmente do Ministério da Economia, a Estrutura de Missão (presidida por José António Barros) tinha de se articular também de forma estreita com o Ministério das Finanças, com o Ministério do Planeamento e das Infra-estruturas, e com o Ministério da Justiça. O mandato da estrutura de missão, e de Pedro Siza Vieira, acabou formalmente no final de Março deste ano, mas há ainda medidas que vão ser aplicadas no terreno em 2018, seja o reforço de alguns apoios a nível fiscal, seja a implementação do mecanismo de alerta precoce (com dados sobre a saúde económica e financeira da empresa) para apoio dos empresários. Luís Villalobos