Volte-face trava eleições antecipadas na Liga de futebol

Em causa estava o chumbo da alteração aos regulamentos proposta pelo presidente do organismo.

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LUSA/MANUEL ARAÚJO

Ao contrário do que chegou a estar em cima de mesa durante a tarde desta segunda-feira, a Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) não vai avançar para eleições antecipadas. Na base deste cenário, que iria interromper o mandato liderado por Pedro Proença, esteve o veto aplicado pelos clubes à proposta inicial de um novo regulamento estatutário, na assembleia-geral extraordinária que teve lugar no Porto. Um veto que acabou por transformar-se em aprovação dos novos estatutos, com apenas duas abstenções.

Na prática, o mote para o cenário de eleições antecipadas foi uma proposta de alteração apresentada pelo Paços de Ferreira aos regulamentos defendidos pela direcção da LPFP. Em causa estava o artigo 84.º do novo documento, colocado a votação por Pedro Proença: “Exceptuam-se do disposto no artigo anterior as normas relativas à composição, funcionamento e aos mandatos dos titulares dos órgãos eleitos, as quais se manterão em vigor até ao termo dos mandatos em curso”, podia ler-se na proposta original.

Os representantes do Paços na reunião magna defenderam, pelo contrário, que com a aprovação do documento em apreço deveriam cessar de imediato os mandatos dos órgãos da Liga, “mantendo-se interinamente em funções até ao início de funções de novos membros dos órgãos sociais”. Uma alteração que Pedro Proença chegou a ponderar adoptar, ainda que tenha acabado por levar novamente a votação a proposta inicial (com uma diferença no timing da aplicação do referido artigo), alegando que fez trabalho mais do que suficiente ao longo dos últimos dois anos para ter a confiança da assembleia-geral.

No fundo, apesar do apoio de que goza o actual elenco directivo junto de vários clubes das I e II Ligas, o entendimento generalizado era de que seria necessário legitimar estatutariamente a acção da direcção do organismo. Mas acabou por vingar, numa segunda fase, a proposta inicial da direcção da LPFP, mantendo-se, desta forma, o actual elenco em exercício.

Eleito para o cargo a 28 de Julho de 2015, Pedro Proença chegou a agradecer a colaboração dos clubes e do seu staff ainda durante a assembleia-geral, num discurso que soou a despedida. Mas o cenário acabou por mudar, com a maioria dos clubes a viabilizar a continuidade do ex-árbitro à frente do organismo.

Proença “desprendido”

No final da sessão, acabou por ser Mário Costa, presidente da mesa da assembleia-geral, a dar a cara: “O que posso afirmar é que Pedro Proença não pediu a demissão”, limitou-se a dizer, enquanto Susana Carneiro, directora executiva da Liga, foi um pouco mais longe na explicação: “O que aconteceu foi que o presidente Pedro Proença, desprendido, chegou a dizer que se fosse essa a vontade dos clubes, estaria à disposição para deixar o cargo, sem prejuízo de voltar a candidatar-se”, acrescentou, confirmando ter sido o artigo 84.º a gerar dúvidas. “Era uma questão puramente técnica. Apesar de [Pedro Proença] ter colocado à assembleia-geral essa possibilidade, foi entendido, por unanimidade, que a mesma norma só entrará em vigor no próximo mandato”.

Para Mário Costa, de resto, o que aconteceu não foi mais do que uma legitimação da acção da actual direcção: “Foi uma alteração dos estatutos para dar um voto de qualidade ao presidente da Liga. Essa proposta foi aprovada tendo em conta as boas práticas de gestão”, assinalou.
Para além deste tema central, houve outras transformações de menor escala viabilizadas na reunião: a alteração dos estatutos e do orçamento passa a ter de ser aprovada até 30 de Junho e as contas até 30 de Setembro; os membros do Conselho Jurisdicional passam de 11 para sete; os membros do Conselho Fiscal passam de cinco para três; foi fixado um montante máximo, de um milhão de euros, para o fundo financeiro detido pela Liga (o destino do valor remanescente será decidido pelos clubes); foi criado um fundo para infra-estrututas para os clubes da II Liga, com um montante máximo de 500 mil euros anuais; e as propostas a votação nas asembleias-gerais terão de ser entregues, no limite, até três dias antes da data da reunião.

Ainda durante a sessão matinal, os clubes haviam já aprovado o relatório e contas relativo à época 2016-17, que apresentou um resultado positivo de 2,5 milhões de euros (12,3 de gastos e 14,8 de proveitos). Um resultado que dá continuidade ao lucro registado no período homólogo: 2,9 milhões em 2015-16.  

 

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