Fotografia

Vêm do Afeganistão e recolhem lixo à porta da Europa

Fotogaleria

Ogulcan Arslan vive em Istambul. Durante um fim-de-semana, há quase um ano, na zona histórica da cidade, cruzou-se com uma criança franzina que recolhia lixo; carregava um grande e pesado saco cheio de materiais recicláveis. "Comecei a conversar com ele", contou ao P3 o fotógrafo, em entrevista por email. "Disse-me que tinha vindo do Afeganistão e que vive uma vida difícil na Turquia. O seu vocabulário era muito pobre, mas estava desejoso de contar-me tudo." Ogulcan Aslan é filho de imigrantes da Macedónia, território antes pertencente à Jugoslávia, motivo pelo qual se interessa por temas relacionados com migração e identidade. "Fiquei curioso com a vida que aquela criança levava em Istambul. Durante o dia, andamos juntos pelas ruas da cidade e fotografei-o enquanto trabalhava: recolhia papel e lixo de contentores. Mais tarde, acompanhei-o até casa e ele apresentou-me à sua comunidade." Desde então, Ogulcan visita semanalmente as suas casas. "A vida deles é dura. Os recolectores afegãos levantam-se antes do nascer do sol. A primeira coisa que fazem é colocar três colheres de açúcar dentro de um copo de água e bebê-lo. É o seu pequeno-almoço. De seguida, vão para as ruas com os seus sacos de recolha." Dão três voltas à cidade até alcançarem os 180 quilogramas de lixo necessários — cada um — para converter em 15 dólares (aproximadamente 13 euros). São necessárias 18 horas de trabalho para cumprir esse objectivo. "A maioria acaba por contrair doenças ou por ter problemas de saúde; não tem tempo suficiente de dormir ou relaxar e executam um tipo de trabalho que implica o contacto com muita sujidade. Além disso, pelo facto de serem imigrantes ilegais, não têm direito a cuidados médicos. Tentam automedicar-se utilizando fórmulas primitivas e as doenças vão-se tornando crónicas e piorando." Têm apenas um dia de folga. Domingo é dia de relaxar e ouvir a música tradicional afegã que adoram. "Uns aproveitam para rezar e praticar o namaz; aqueles que se afastaram da religião devido às práticas do grupo terrorista islâmico preferem levar uma vida secular. Devido à guerra civil que decorre no seu país — e que dura há 30 anos — alguns já perderam a família que tinham no Afeganistão. Agora limitam-se a viver como fugitivos, na Turquia, para evitar a deportação. Aqueles que ainda têm família no país de origem, enviam dinheiro. Evitam dizer que o ganham como recolectores de lixo na Turquia. Outros economizam para migrar para dentro de território europeu, onde esperam encontrar melhores oportunidades." Na rua que Ogulcan fotografou vivem cerca de cem pessoas. Vivem entre 5 e 10 pessoas em cada quarto. "O seu maior problema, neste momento, é a possibilidade de serem expulsos do bairro onde vivem devido a um projecto de reabilitação urbana. Não têm outro sítio para ir. Estão cansados e querem apenas um lugar onde possam viver sossegadamente."