“Parece que houve uma conjugação astral”, diz o não-crente João Soares

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João Soares Miguel Manso

As últimas três semanas foram o período mais complicado do actual Governo. Esta primeira crise deve obrigar, de alguma forma, António Costa a mudar o discurso entusiasta e positivo que tem trazido sucessivamente aos debates quinzenais?

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As últimas três semanas foram o período mais complicado do actual Governo. Esta primeira crise deve obrigar, de alguma forma, António Costa a mudar o discurso entusiasta e positivo que tem trazido sucessivamente aos debates quinzenais?

O Governo está sólido e o primeiro-ministro é um homem muito experimentado. Vamos esperar pelo debate desta tarde, mas acredito que vai sair-se bem como sempre nos debates que travou até agora. Claro que a situação não é mesma. Parece que houve uma conjugação astral – e eu não acredito em astrologia nem sou crente – para um conjunto de acontecimentos que correram muito mal. Tivemos problemas e infelizmente uma tragédia gigantesca pelo meio. Não nego a realidade.

Mas eu tenho uma imensa confiança nesta solução política inovadora de ligação e coligação à esquerda, entre o PS, o Bloco, o PCP e o PEV; e tenho uma grande confiança no primeiro-ministro.

Ainda estamos a quase três meses das autárquicas, mas esta “crise” dos incêndios, do roubo de armas e agora da saída de secretários de Estado devido a processos judiciais poderá ter efeitos negativos para o PS nas eleições?

Pessoalmente, eu acho – e já fui autarca durante 16 anos, primeiro em Lisboa, depois em Sintra – que não vai ter grande influência. As questões que se colocam agora têm a ver com o Governo e o primeiro-ministro encontrará soluções muito antes das eleições. Em geral, no país, as coisas têm estado bem; é certo que houve agora um conjunto de dificuldades, num caso uma verdadeira tragédia que foram os incêndios.

Mas seria muito mau que se tirasse partido, em termos políticos, de um conjunto de coisas que correram mal e que não tiveram nada a ver com o Governo nem com a oposição. Eu reclamo o crédito de pensar sempre pela minha cabeça mesmo quando era inconveniente para o PS, e acho que isto não são casos para se usarem como arma de ataque. Não tenho a menor dúvida que o Governo anterior, do PSD e CDS-PP, pelo que vimos durante quatro anos, não teria estado melhor do que este a enfrentar estas dificuldades.

Já fez parte deste Governo, também pediu para sair. Considera que António Costa devia ou podia, se alguma forma, segurar estes três secretários de Estado?

Sobre isso tem que falar com o primeiro-ministro; isso é matéria da exclusiva responsabilidade do primeiro-ministro.