Teatro da Trindade organiza um festival para “repor a música” na programação

Cartaz junta Tatanka, José Manuel Neto, Dead Combo, Yamandu Costa, Vitorino, Salvador Sobral, Frankie Chavez e Mário Laginha com Tcheka. Festival começa esta sexta-feira, às 21h30, e prossegue até Dezembro.

Foto
Yamandu Costa, Tatanka e José Manuel Neto: os primeiros do festival DR / MANUEL ROBERTO / LUIS CARVALHAL

Esta sexta-feira, o Teatro da Trindade, em Lisboa, abre-se a um novo festival. Chama-se Há Música no Trindade e nele será possível ouvir até final do ano nomes como Tatanka (na abertura, esta sexta às 21h30), Yamandu Costa (sábado, 24) José Manuel Neto (7 e 8 de Julho), Dead Combo (27 e 28 de Julho), Salvador Sobral (6 e 7 de Outubro), Vitorino com João Paulo Esteves da Silva e Filipe Raposo (13 e 14 de Outubro), Frankie Chavez (27 e 28 de Outubro) e Mário Laginha com Tcheka (15 e 16 de Dezembro).

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Esta sexta-feira, o Teatro da Trindade, em Lisboa, abre-se a um novo festival. Chama-se Há Música no Trindade e nele será possível ouvir até final do ano nomes como Tatanka (na abertura, esta sexta às 21h30), Yamandu Costa (sábado, 24) José Manuel Neto (7 e 8 de Julho), Dead Combo (27 e 28 de Julho), Salvador Sobral (6 e 7 de Outubro), Vitorino com João Paulo Esteves da Silva e Filipe Raposo (13 e 14 de Outubro), Frankie Chavez (27 e 28 de Outubro) e Mário Laginha com Tcheka (15 e 16 de Dezembro).

Inês de Medeiros, a actual directora do teatro, explica ao PÚBLICO o conceito: “Começa tudo com a ideia de que tínhamos de ter uma programação especial para este ano porque são os 150 anos do Trindade. E quisemos repegar nos princípios que estiveram na génese deste teatro, os de Francisco Palha [escritor e dramaturgo, mandou construir o Trindade em 1866], que queria ter aqui um teatro popular de qualidade. Ou seja, uma alternativa aos dois grandes teatros da altura, o D. Maria II e o São Carlos.” Isso levou-a ao passo seguinte: “Celebrando esse espírito, para mim tornou-se claro que era necessário repor a música dentro do Trindade. Porque sempre foi um elemento muito importante na programação (aqui se iniciou a primeira companhia de ópera só com cantores portugueses) e porque é uma sala com uma acústica especialíssima.”

Voz, guitarra, piano

Para tal, foi lançado um convite a António Miguel Guimarães, director artístico do festival Sol da Caparica, que delineou um projecto. “Pensei em três ideias-base: a voz, a guitarra e o piano. E mostrar o que neste âmbito se estava a fazer, coisas algo recentes. Isto com a ideia, a pedido da direcção do teatro, de rejuvenescer o público desta sala.” Além disso, diz-nos, “todos estes artistas vêm apresentar ou um novo disco ou um novo espectáculo.” Salvador Sobral surge por via do seu trabalho, não por causa da vitória na Eurovisão, diz António Miguel: “Quando o convidámos ele não tinha ido sequer ao Festival da Canção. Foi uma coincidência enorme.” Já no caso de Vitorino, desafiaram-no a trabalhar com dois pianistas, João Paulo Esteves da Silva e Filipe Raposo. “Ele aceitou o repto e vai fazer uma coisa à volta do amor, O Amor é Cego e Vê [título da canção que Tomaz Alcaide, que foi um dos directores do Trindade, canta no filme Bocage].” Quanto aos pianistas, diz António Miguel, “eles querem fazer um trabalho em que os arranjos são mesmo partilhados, estão muitas vezes os dois em palco.”

Inês de Medeiros reforça a ideia de abrir o Teatro da Trindade à música, fazendo dele “uma sala de espectáculos onde os músicos possam fazer pequenas temporadas, em vários dias, em lugar de fazer um só espectáculo em salas imensas. Isto permite espectáculos mais intimistas e é algo que neste momento não existe em Lisboa.”

Tatanka volta às raízes

Tatanka, a voz dos Black Mamba, que abre a primeira noite com um projecto a solo que dará lugar a um disco (do qual já dois singles a circular Alfaiate e De alma despida), chamou ao seu concerto O Império dos Porcos (também título de uma canção ainda não gravada em disco): “É uma sátira à sociedade em que vivemos”, diz ele ao PÚBLICO. “É o salve-se quem puder, todos se calcam uns aos outros para conseguirem os seus próprios objectivos. Vivemos, se calhar mais do que nunca, numa sociedade egocêntrica e despreocupada com os outros.” O título do concerto é uma resposta possível a isso: “Nós, artistas, músicos, muitas vezes temos uma arma nas mãos ao escrever canções e muitas vezes esquecemo-nos de a usar. Eu faço questão de a usar nesta canção.”

Com ele, estarão em palco Rui Pity (baixo), Marco Pombinho (piano), João Freitas (bateria), “mais uma dupla de cordas, Cindy e Sandra, que participaram na gravação das últimas coisas que eu fiz e que hão-de sair agora, num documentário sobre a educação em Moçambique.” E também Diego El Gavy, como convidado. “É o maior cantor de etnia cigana e de flamenco de sempre em Portugal e tenho a felicidade de ter crescido no mesmo sítio que ele. Escrevemos uma música juntos, em 2007, que se chama Keep on walkin, que mistura idiomas, português, inglês e castelhano. Só há pouco tempo tivemos oportunidade de a gravar e sairá no meu próximo disco.” Este tem vindo a ser gravado, desde há dois anos, e deve estar pronto para ser publicado até 2018.

Neste projecto a solo, Tatanka aborda um lado “mais trovadoresco”, como algures já disse. Agora reforça essa ideia: “Senti necessidade de voltar às raízes. Porque eu vivi no campo, ligado a um estilo de vida mais calma, e quando vim para Lisboa comecei a descobrir as vicissitudes da cidade, a música mais urbana, desde o soul ao funk, ao rock’n’roll, coisas de que eu sempre gostei mas não tinha tido oportunidade de explorar enquanto músico.” Entretanto, constituiu família, já vai para o segundo filho e quis voltar atrás, ao lugar onde nasceu e cresceu, Sintra. “Voltei a olhar para uma maneira de estar com a qual me identifico, mais modesta, menos espampanante. Daí ter ido desenterrar músicas antigas, reescrevê-las, e isso inspirou-me para escrever músicas novas. É o continuar de uma coisa que foi interrompida há uns dez anos, em 2007.”