Entre as minas e as praxes: cinemas do real vencem IndieLisboa

Palmarés 2017 é encimado por duas longas de estreia: Viejo Calavera, do boliviano Kiro Russo, e Encontro Silencioso, do português Miguel Clara Vasconcelos.

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Depois de ter ganho por duas vezes o concurso de curtas – a segunda das quais ainda o ano passado com Nueva Vida –, o boliviano Kiro Russo leva em 2017 para casa o prémio máximo do IndieLisboa, anunciado ao fim da noite deste sábado na garagem da Culturgest, numa cerimónia que antecedeu a festa oficial de encerramento do festival. O Grande Prémio Cidade de Lisboa vai este ano para a estreia de Russo na longa, Viejo Calavera, conjugação de narrativa ficcional e ambiente real, filmado nas minas bolivianas de Huanuni com actores não profissionais. Foi também um estreante na longa-metragem a vencer o concurso nacional: Miguel Clara Vasconcelos com Encontro Silencioso, ficção oblíqua ambientada no mundo das praxes académicas.

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Depois de ter ganho por duas vezes o concurso de curtas – a segunda das quais ainda o ano passado com Nueva Vida –, o boliviano Kiro Russo leva em 2017 para casa o prémio máximo do IndieLisboa, anunciado ao fim da noite deste sábado na garagem da Culturgest, numa cerimónia que antecedeu a festa oficial de encerramento do festival. O Grande Prémio Cidade de Lisboa vai este ano para a estreia de Russo na longa, Viejo Calavera, conjugação de narrativa ficcional e ambiente real, filmado nas minas bolivianas de Huanuni com actores não profissionais. Foi também um estreante na longa-metragem a vencer o concurso nacional: Miguel Clara Vasconcelos com Encontro Silencioso, ficção oblíqua ambientada no mundo das praxes académicas.

Nas curtas, os vencedores foram a polaca Zofia Kowalewska com Close Ties, documentário que olha para a relação entre os avós da realizadora (Grande Prémio do concurso internacional), e o português Diogo Baldaia com Miragem Meus Putos, olhar sobre a passagem da infância à adolescência contado numa associação livre de momentos filmados com grande cuidado visual (Melhor Curta-Metragem Portuguesa).

Em comum, todos estes vencedores têm a descontracção com que incorporam na sua construção elementos de realidade e de narrativa, de ficção e de documentário, de estilização formal e emoção espontânea – um dos temas recorrentes na programação 2017 do festival lisboeta. Viejo Calavera é um objecto onde a forma é tão importante como o conteúdo – o trabalho de ambientação sonora e visual do filme é extraordinário –, enquanto Encontro Silencioso leva ao limite do surrealismo e do absurdo os pormenores mais banais do quotidiano.

Apesar da presença de uma longa (Amor Amor) e de várias curtas nas competições internacionais, a produção portuguesa foi este ano premiada apenas no concurso nacional. Para além de Miguel Clara Vasconcelos e Diogo Baldaia, Flores, de Jorge Jácome, recebeu o prémio Novo Talento e a co-produção francesa Os Corpos que Pensam, documentário de Catherine Boutaud, o prémio da secção Novíssimos, dedicada a cineastas estreantes em contexto escolar ou de auto-produção. Antão, o Invisível, de Maya Kosa e Sérgio da Costa, e Num Globo de Neve, de André Gil Mata, receberam ex aequo o prémio paralelo Árvore da Vida, atribuído pela Igreja Católica.

Nas longas-metragens, a ficção Arábia, da dupla brasileira Affonso Uchôa e João Dumans, recebeu o Prémio Especial do Júri, e o documentário de Tyler Hubby sobre o experimentalista Tony Conrad, Completely in the Present, recebeu o prémio Indie Music, este ano atribuído por um júri separado.

O júri da competição internacional de longas foi composto pela programadora Paz Lázaro, pelo jornalista e escritor Giona Nazzaro e pelo realizador Manuel Mozos, enquanto o concurso internacional de curtas-metragens teve como jurados os realizadores Katja Pratschke e Filipe Abranches e o jornalista Richard Raskin. O júri da competição nacional (que atribui os prémios de melhor longa e de melhor curta portuguesas, Novo Talento e Novíssimos) contou com os programadores Maike Mia Höhne e Paolo Bertolin e produtor e realizador Antoine Barraud. Este ano houve também um júri para a secção Indie Music, composto pelos músicos Joana Sá e Tó Trips e pelo DJ Mário Valente.

Os premiados serão exibidos no Cinema Ideal, em Lisboa, nas próximas segunda-feira (dia 15), terça (16) e quarta (17), às 18h00 e 22h15. O IndieLisboa encerra oficialmente este domingo à noite com a antestreia portuguesa de Eu Não Sou o Teu Negro, onde Raoul Peck filma o pensamento do escritor James Baldwin.

Palmarés

Longas-metragens

Grande Prémio Cidade de Lisboa: Viejo Calavera, de Kiro Russo

Prémio Especial do Júri: Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans

Melhor Longa Portuguesa: Encontro Silencioso, de Miguel Clara Vasconcelos

Prémio Indie Music: Tony Conrad: Completely in the Present, de Tyler Hubby

Prémio Universidades: El Mar la Mar, de Joshua Bonnetta e J. P. Sniadecki

Curtas-metragens

Grande Prémio: Close Ties, de Zofia Kowalewska

Melhor Animação: 489 Years, de Hayoun Kwon

Melhor Documentário: The Hollow Coin, de Frank Heath

Melhor Ficção: Le Film de l’Été, de Emmanuel Marre

Melhor Curta Portuguesa: Miragem Meus Putos, de Diogo Baldaia

Prémio Novo Talento: Flores, de Jorge Jácome

Prémio Novíssimos: Os Corpos que Pensam, de Catherine Boutaud

Prémio do Público: Scris/Nescris, de Adrian Silisteanu

Prémio do Público Indie Junior: Litterbugs, de Peter Stanley-Ward; e The Sled, de Olesya Shchukina

Prémio Amnistia Internacional: Find Fix Finish, de Mila Zhluktenko e Sylvain Cruiziat

Prémio Árvore da Vida: Antão, o Invisível, de Maya Kosa e Sérgio da Costa; e Num Globo de Neve, de André Gil Mata

Prémio Escolas: Le Fol Espoir, de Audrey Bauduin