Sete dias de Abril em Lisboa para combater o esquecimento

Para “garantir que o esquecimento não tem lugar”, Lisboa terá sete dias para celebrar Abril e lembrar os seus valores.

Fotogaleria

Começam e acabam no Aljube, a antiga prisão da ditadura hoje museu da resistência e liberdade, e daí ter sido este o palco certo para o anúncio das celebrações do 25 de Abril em Lisboa, a cargo da EGEAC. São sete dias consecutivos repartidos por lugares e abordagens diversos, com debates, filmes, exposições, música, não apenas para relembrar o 25 de Abril propriamente dito, que já vai no 43.º aniversário, mas para sublinhar a importância do que nele se conquistou. Joana Gomes Cardoso, da EGEAC, ao detalhar a “programação abrangente, cruzada”, conseguida através de um “processo muito colaborativo” com vários parceiros, sublinhou que ela se destina a “lembrar valores de Abril” com o objectivo, agora mais actual, de “sermos vigilantes em relação a eles.” A coincidência com a Capital Ibero-Americana da Cultura ajuda, também, a enriquecer o cartaz.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Começam e acabam no Aljube, a antiga prisão da ditadura hoje museu da resistência e liberdade, e daí ter sido este o palco certo para o anúncio das celebrações do 25 de Abril em Lisboa, a cargo da EGEAC. São sete dias consecutivos repartidos por lugares e abordagens diversos, com debates, filmes, exposições, música, não apenas para relembrar o 25 de Abril propriamente dito, que já vai no 43.º aniversário, mas para sublinhar a importância do que nele se conquistou. Joana Gomes Cardoso, da EGEAC, ao detalhar a “programação abrangente, cruzada”, conseguida através de um “processo muito colaborativo” com vários parceiros, sublinhou que ela se destina a “lembrar valores de Abril” com o objectivo, agora mais actual, de “sermos vigilantes em relação a eles.” A coincidência com a Capital Ibero-Americana da Cultura ajuda, também, a enriquecer o cartaz.

Seguindo o calendário, e porque esta é a forma mais prática de iniciar a visita ao que se anuncia, o dia 19, quarta-feira, tem a primeira “paragem” no Museu do Aljube, com Vidas Prisionáveis, uma conversa com a socióloga e documentarista Diana Andringa conduzida por Ana Aranha (16h). E dia 20 começa o Festival Política, uma ideia de Bárbara Rosa e Rui Oliveira Marques, com leitura de poesia política na Rua Garrett (às 18h30) por Nuno Moura, da editora Douda Correria. Nos dias seguintes, 21 e 22, o Festival transfere-se para o Cinema São Jorge, onde haverá debates (Como combater a abstenção – essa “tendência assustadora”, como se lhe referiu Rui Oliveira Marques – é logo o primeiro, às 17h30), workshops, um encontro com deputados no foyer (estará presente um de cada, do BE, CDS, PAN, PCP, PEV, PS, PSD; e mediante inscrição, limitada a 12 pessoas por deputado, é possível interpelá-los, “apresentar uma proposta, uma queixa”) e exibição de vários filmes: Ressurgentes, de Dácia Ibiapina (dia 21, 18h), Techo e Comida, de Juan Miguel de Castillo (dia 21, 21h15), Democracia na Onda dos Dados, de Daniel Bernet (dia 22, 15h30) e Aristides de Sousa Mendes – Um Hombre Bueno, de Victor Lopes, com presença do realizador (dia 22, 17h30). O festival terá um jornal, com 8 páginas, serigrafias sobre o tema da abstenção e uma campanha anti-abstencionista que, ainda segundo Rui Oliveira Marques, “vai ser provocadora.”

Ditaduras e censura

No dia 21 de Abril, uma estreia: a exposição de fotografias Operação Condor, um trabalho do fotojornalista João Pina, chega finalmente a Portugal. Retrata, num exercício vivo de memória, a operação que várias ditaduras latino-americanas de extrema-direita levaram a cabo na Argentina, na Bolívia, no Brasil, no Chile, no Paraguai e no Uruguai para eliminar oposicionistas, deixando um rasto sangrento de execuções e desaparecimentos. A sua montagem em Portugal, segundo João Pina (tem mais de 100 imagens), torna-a “quase uma peça teatral”. Estará no Torreão Poente da Praça do Comércio até 18 de Julho, das 10h às 18h. O livro Condor, de onde nasceu a exposição, e que teve uma primeira edição em Portugal pela Tinta-da-China, em 2014, vai ser também reeditado. “Em Portugal foram os militares que nos salvaram”, diz João Pina, “e na América Latina ninguém consegue entender isto.” Porque lá foram eles os torturadores, os carrascos da liberdade.

Outras exposições, estas já inauguradas, que a EGEAC também quis relacionar com o 25 de Abril, são Tempo Depois do Tempo, fotografias de Alfredo Cunha, na Cordoaria até dia 25; e Estranhos Dias Recentes de Um Tempo Menos Feliz, no Atelier-Museu Júlio Pomar (até 21 de Maio), com curadoria de Hugo Dinis. Uma das obras ali expostas, e em destaque, é O Almoço do Trolha, de Júlio Pomar, reconhecido ícone do neo-realismo classificado pelo Estado português em 2016.

Nos dias 22, 23 e 24 a sala de visionamento do edifício da Rank Filmes, antiga proprietária do São Jorge abre-se ao público com a exibição, em contínuo, das 16h às 22h, do filme Censura: Alguns Cortes, que Miguel Mozos compôs a partir de excertos censurados de cerca de 50 filmes exibidos em Portugal e produzidos entre 1950 e 1972. O filme, que tem 75 minutos, foi feito em 1999 por encomenda da Cinemateca para os 25 anos do 25 de Abril, e esta exibição, com entrada livre, assinala a completa recuperação (que durou dois anos) da sala de visionamento da Rank, que à data era destinada a visionamentos privados de filmes para efeitos de classificação ou censura. A sala fica no edifício contíguo ao São Jorge, por onde se entra, já que não tem acesso directo à rua.

Canções e revoluções

Na noite de 24 de Abril, como de costume, haverá música. E na Praça do Comércio. Mas desta vez sujeita a um tema: Canções para Revoluções. Luís Varatojo (A Naifa, Peste & Sida), seu director artístico, escolheu 26 canções ligadas a processos revolucionários ibero-americanos e, a interpretá-las, estarão cantores populares (António Zambujo, Lura, Sílvia Pérez Cruz, Vitorino) e líricos (Marina Pacheco, Mário Alves), um trio composto por Pedro Jóia, Alexandre Frazão e Norton Daiello, a Orquestra Metropolitana de Lisboa dirigida pelo maestro Cesário Costa e o coro Lisboa Cantat. Os arranjos são de Pedro Moreira. Começa às 21h30.

Por fim, a 25, dois acontecimentos paralelos. A inauguração do Palácio Baldaia, em Benfica, que agora se pretende aberto à cultura, à educação e à inovação, com actuações da Orquestra Geração (16h), Novas Vozes de Abril (17h) e Paulo de Carvalho (18); e, no Museu do Aljube Resistência e Liberdade, a segunda edição dos Dias da Memória, que começará logo pela manhã (10h-18h) com recolha de testemunhos e recepção de objectos relacionados com a resistência, seguindo-se uma vista guiada ao museu (10h30) e a exibição do documentário Viva Portugal, do alemão Malte Rauch, às 11h30. Haverá novas projecções às 17h30 e às 21h, esta última com a presença do realizador. Às 17h, também no museu, será inaugurada a exposição Meus Caros Amigos – Augusto Boal – Cartas do Exílio, dedicada ao dramaturgo brasileiro (1931-2009) e às memórias cruzadas da resistência às ditaduras. Estarão presentes, entre outros, Maria do Céu Guerra e Teresa Porto. Luís Farinha, director do museu, congratulou-se com o programa de comemorações de 2017, por este ser, disse, “uma extensão de algumas pequeninas coisas que fazemos aqui no Aljube.” Para assinalar um dia histórico, de memória, “muito importante para o país, e para o mundo também.”