Kremlin vai “desmascarar” as “notícias falsas” sobre a Rússia

Secção na página do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo propõe-se “demonstrar as tendências principais em publicações falsas” sobre a Rússia e “travar a sua disseminação”.

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Uma das notícias destacadas pelo MNE russo é do jornal da Califórnia Santa Monica Observer

É uma nova secção no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e chama-se “Publicações e Refutações”. Para já, não se refuta o conteúdo de nenhuma publicação. “Este artigo apresenta informação que não corresponde à realidade”, é a frase que se repete quando se entra em cada uma das cinco notícias destacadas, quatro de media americanos (The New York Times, Santa Monica Observer, Bloomberg e NBC), uma do jornal The Telegraph britânico.

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É uma nova secção no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia e chama-se “Publicações e Refutações”. Para já, não se refuta o conteúdo de nenhuma publicação. “Este artigo apresenta informação que não corresponde à realidade”, é a frase que se repete quando se entra em cada uma das cinco notícias destacadas, quatro de media americanos (The New York Times, Santa Monica Observer, Bloomberg e NBC), uma do jornal The Telegraph britânico.

“Trata-se de uma iniciativa que já tínhamos discutido antes, a 15 de Fevereiro, e que se prende com o lançamento de uma rúbrica especial no site do Ministério que vai reunir as informações falsas difundidas sobre a Rússia”, disse a porta-voz do MNE russo, Maria Zakharova, no seu briefing televisivo semanal, citada pela agência Sputnik. “Esta rúbrica vai ser actualizada regularmente”, afiança Zakharova.

Chega-se à nova secção através da página Serviço de Imprensa. Ali se anunciam “exemplos de publicações” que transmitem “informação falsa sobre a Rússia” (“retranslating false information”, na versão inglesa do site). Em cima da imagem de cada artigo surge a de um carimbo vermelho onde se lê “FAKE”.

“Vamos publicar exemplos de propaganda fraudulenta de vários media e fornecer links para as fontes”, explicou a porta-voz. “O objectivo é demonstrar as tendências principais em publicações falsas sobre o nosso país e travar a sua disseminação”.

Zakharova não detalhou os critérios que o MNE vai usar para decidir o que são “fake news”, nota o New York Times. Mas esclareceu que artigos que não incluam a reacção russa ou a posição russa sobre o tema em causa serão considerados “falsos”, assim como notícias que tenham origem em fontes não identificadas ou não verificadas.

Acusações contra Moscovo

“A Rússia está a ser acusada de fazer isto, mas como é que nos podem acusar de disseminar informação não verdadeira através de agências do Governo e dos media quando fazem o mesmo contra a Rússia?”, afirmou Zakharova. “Quando publicam informações sobre a Rússia, os media internacionais fazem exactamente o mesmo – nunca citam factos concretos. É um paradoxo triste”.

Durante a campanha para as presidenciais do ano passado nos Estados Unidos, o Governo russo foi acusado pelo Departamento de Segurança Interna americano de ter "orquestrado as recentes exposições de e-mails de pessoas e instituições norte-americanas, incluindo organizações políticas" como o Partido Democrata. Com as diferentes eleições marcadas na Europa este ano (Holanda, França e Alemanha), alguns governos europeus expressaram receios de o que mesmo tipo de situação possa acontecer nas campanhas eleitorais dos próximos meses.

Ao mesmo tempo, a cadeia de televisão RT e a agência de notícias Sputnik, ambas controladas pelo Estado russo e disponíveis em diversas línguas, têm sido acusadas no último ano de disseminarem informação falsa sobre políticos americanos e europeus – um dos últimos casos envolve o candidato às presidências francesas Emmanuele Macron, e uma das notícias identificadas como “falsas” pelo site do MNE russo tem precisamente a ver com Macron. É o artigo do Bloomberg, com o título “Favorito nas presidenciais de França diz que a Rússia está a lançar ataques informáticos contra si”.

O texto cita o chefe de campanha do candidato independente, Richard Ferrand, que responsabiliza Moscovo por vários ataques à rede de computadores da sua equipa. “Dois grandes meios de comunicação que pertencem ao Estado russo, Russia Today e Sputnik, divulgam notícias falsas numa base diária, que são escolhidas e citadas, e influenciam o [processo] democrático”, disse Ferrand na mesma altura.

Ao contrário do que acontece noutras notícias destacadas por Moscovo, neste caso há lugar a contraditório, com o jornalista a citar o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, desmentindo qualquer envolvimento russo e descrevendo as acusações de Ferrand como “absurdas”.

"Perigoso e perturbador"

A iniciativa do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo contempla um “processo de recurso”, disse a porta-voz, pelo que os media que surjam identificados podem pedir para ver os seus artigos retirados do site do Ministério.

Num artigo do próprio jornal sobre o tema, uma porta-voz do New York Times defende a notícia destacada pelo Governo russo, “Russia deploys Missile, Violating Treaty and Challenging Trump”, no qual se escreve que “a Rússia fez avançar um novo míssil cruzeiro que responsáveis americanos dizem violar um importante tratado de controlo de armas”. As informações vêm de “responsáveis americanos” não identificados, enquanto o contexto e as preocupações americanas face ao cenário enunciado são comentados pelo ex-comandante da NATO, general Philip M. Breedlove, e pelo ex-responsável do Pentágono Franklin C. Miller, ambos entrevistados pelo autor do artigo, Michael R. Gordon, especialista em segurança e antigo correspondente em Moscovo.

“Defendemos o nosso artigo”, diz a porta-voz do jornal, Eileen Murphy. “É uma situação perigosa e perturbadora que indivíduos ou governos rotulem de ‘fake news’ uma história de que não gostam, em vez de questionar factos específicos ou apresentar provas contrárias.”