Clínica que faz um terço dos abortos em Portugal baixou valor cobrado ao SNS em 32%

A unidade de saúde, a mais utilizada em Portugal para a interrupção voluntária da gravidez, afirma que número de abortos tem diminuído nos últimos anos.

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A clínica, que funciona desde 2007, recebe também mulheres de outras nacionalidades Paulo Pimenta

A Clínica dos Arcos, unidade privada que realiza quase um terço das Interrupções da Gravidez (IG) em Portugal, baixou o valor dos actos cobrados ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) em 32%, desde que iniciou funções, em 2007.

A propósito dos dez anos do referendo que conduziu à descriminalização da interrupção da gravidez, a pedido da mulher, até às dez semanas de gestação, que se assinalam sábado, a directora executiva da Clínica dos Arcos disse à agência Lusa que o preço destes actos tem vindo sistematicamente a baixar.

Trata-se do valor que é cobrado aos hospitais públicos que não realizam IG e encaminham para o sector privado as mulheres que solicitam estes actos, mediante protocolos.

Em 2015, esta clínica de um grupo espanhol que antes da despenalização da IG em Portugal recebeu centenas de mulheres portuguesas na unidade que detém em Badajoz, realizou 4569 interrupções, o que representou 27,77% do total dos abortos em Portugal. As outras unidades privadas realizaram 157 IG: a Multimédica (37) e o hospital SAMS (120).

Além do preço cobrado ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), também o número de abortos realizados na Clínica dos Arcos baixou, passando de 6.119 em 2009 para 4.190 em 2016, revelou Sónia Lourenço.

A directora executiva da Clínica dos Arcos adiantou que as IG encaminhadas pelo SNS representam 75% das efectuadas nesta unidade de saúde privada.

Apesar da descriminalização do aborto, continuam a chegar à clínica mulheres portuguesas que preferem pagar a IG - gratuita quando encaminhada por unidades do SNS - o que poderá estar relacionado com algum desejo de privacidade.

A esta unidade chegam também cada vez mais mulheres de outras nacionalidades, nomeadamente oriundas do Brasil e Angola, países onde a legislação é mais restritiva nesta matéria. A esmagadora maioria (92%) dessas mulheres de outras nacionalidades recorrem de forma privada aos serviços desta clínica, embora oito por cento ainda estejam ligadas ao SNS.

Desde que a Clínica dos Arcos abriu as portas, em 2007, que cerca de 15% das mulheres que se dirigem com o objectivo de abortar desistem de fazê-lo, após o aconselhamento previsto na lei.

E também desde que esta unidade privada começou a funcionar que as mulheres que a ela se dirigem para uma IG são abordadas por grupos de pessoas que, localizadas num prédio junto às instalações da clínica, tentam demovê-las dos seus propósitos. Sal no chão junto à entrada, imagens de fetos coladas nas janelas da clínica e palavras menos agradáveis têm marcado esta vizinhança, embora Sónia Lourenço reconheça que os autores destes actos estão hoje menos agressivos. "Mantemos uma relação pacífica com toda a gente", disse.

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