Macau: ser pobre em terra de ricos

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"São rostos de gente a quem a vida já deu tudo, mas que agora pouco tem para comer. São rostos de gente que a sociedade de Macau marginaliza. Ostraciza. São rostos de gente. Gente que perdeu família, amigos, bens. Gente que se contenta com um maço de cigarros para fumar. Gente que apenas tem um telemóvel como bem pessoal. Gente que apenas tem uma ou outra peça de roupa para vestir. Gente que nada tem. Gente que pouca diferença faz nada ter. Gente que desistiu..."

A série de fotografias intitulada No Cárcere da Pobreza, do fotojornalista português Gonçalo Lobo Pinheiro, "mostra uma súmula de alguns dias passados [na companhia de 78 residentes] da Casa Corcel, um albergue da Caritas onde gente sem-abrigo, optando por não ficar a vaguear pelas ruas, escolhe comer uma refeição quente, tomar um banho ou simplesmente dormir numa cama decente." O português radicado em Macau há seis anos viveu na sua companhia durante alguns dias e acompanhou o quotidiano dos residentes. "Uns não quiseram dar o rosto à história, preferindo o anonimato. Outros, alguns, que aqui estão fotografados, não se mostraram minimamente preocupados em aparecer."

A pobreza é incomum, em Macau. "Numa terra onde o PIB per capita é um dos maiores do mundo, é expectável que haja pobres?", reflecte Gonçalo. "Numa terra onde a taxa de desemprego levita, há anos, entre os 1 e 2%, porque existe ainda tanta miséria? Mas afinal o que é ser pobre numa terra de ricos? Porque há quem durma em frente às luxuosas montras das lojas de marca ou perto de um dos luxuosos casinos do território? Mas afinal o que é ser pobre numa terra onde a abundância vem da indústria do jogo em catadupa, aos milhões e onde existe oportunidades para todos?" Nenhuma organização ou autoridade consegue responder de forma concreta a estas questões, segundo Lobo Pinheiro. "O que vi, e senti, foram rostos fechados, resignados, com vontade de gritar a qualquer momento. Por eles todos, rostos de gente a quem a vida já deu tudo, presto assim a minha humilde homenagem." O projecto Macau 5.0, também da autoria do fotojornalista e que retrata o quotidiano da região autónoma especial chinesa, pode ser revisto aqui.