Homens e cavalos a aprenderem a viver na prisão

Reuters/JIM URQUHART
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Na cidade norte-americana de Florence, a cerca de 225 quilómetros da fronteira com o México, ainda o sol não nasceu e já vários reclusos saíram para o exterior do edifício prisional. Estes homens, a maioria com passados violentos, começam o dia a lavar e a escovar cavalos que ainda não estão habituados ao contacto humano: são mustangues selvagens que há duas semanas viviam em liberdade no meio do deserto e que agora, tal como os reclusos, ainda estão a aprender a viver num recinto fechado.

Billy, Rocky e Patches são três destes cavalos entre dezenas, que fazem parte do programa Wild Horse Inmate. Durante quatro a seis meses são treinados para se habituarem aos freios e às selas e a responderem a ordens de trote e galope de forma a desenvolver alguma agilidade que irá ser útil no terreno áspero da região. 

Brian Tierce tem 49 anos e recebeu uma sentença de sete anos por violência doméstica. Passado cinco anos na prisão, percebeu que os cavalos lhe ensinaram "muitas coisas que não sabia que tinha em si, como paciência, perseverança, bondade e compreensão”, contou à Reuters. "Acabamos por trabalhar mais em nós do que neles", disse Rick Kline, que cumpriu cinco anos de uma sentença de sete anos e meio por roubo de carros. Já Bret Karakey, com 35 anos, está na prisão por roubo de identidade e recentemente partiu a anca quando foi atirado de um cavalo. Mas, após a recuperação, voltou sem hesitar. "Eu preciso disto", disse.

Para além dos prisioneiros, que desenvolvem habilidades e técnicas que poderão ser úteis mais tarde, fora da prisão, também os guardas beneficiam com este programa. Depois de treinados, os cavalos são adoptados pela Patrulha de Fronteira dos EUA, a um preço acessível.

A Patrulha de Fronteira dos EUA é o único e maior comprador de mustangues deste programa de treino de cavalos por reclusos. Pelo menos 80% dos 400 cavalos da Patrulha de Fronteira vêm destes programas, realizados tanto no Arizona, como nos estados de Colorado, Kansas e Nevada. Os cavalos são indispensáveis para que os agentes consigam percorrer terrenos desnivelados onde os veículos não conseguem chegar, de forma a detectar passagens ilegais de migrantes e tráfico de droga. Os mustangues não só têm um passo firme sobre o terreno íngreme, como conseguem atravessar pequenos riachos e esmagar cobras venenosas. "Parece mesmo que estamos no faroeste", disse Bobby Stine, supervisor da Unidade de Patrulha de Cavalos do sector de San Diego. "Não há muita presença policial, excepto a nossa".

Um terço da fronteira é assinalada por uma vedação com cerca de mil quilómetros. O resto é definido por montanhas, rios, propriedades privadas e paisagens selvagens. A tarefa dos reclusos que treinam os cavalos é, às vezes, irónica, pois alguns dos prisioneiros são homens de nacionalidade mexicana apreendidos na fronteira por crimes relacionados com as drogas. Contudo, muitos dizem não se importar com o facto de os cavalos ajudarem na aplicação da lei pois assim os animais já não morrem à fome ou sede no meio do deserto. "Aquela ideia de que os prisioneiros estão contra os polícias não é verdade", disse Kline. "Eles estão apenas a fazer o seu trabalho e nós estamos a fazer o nosso. Estes cavalos dependem de nós".

Florence começou o programa de treino de cavalos em 2012 e, embora seja muito cedo para avaliar os efeitos a longo prazo, dos 50 ou mais reclusos participantes que foram libertados, nenhum voltou à prisão, disse Randy Helm, coordenador do programa Wild Horse Inmate. Helm diz ver transformações reais nos reclusos que todos os dias treinam os cavalos. "Muitos deles nunca criaram empatia com uma pessoa, muito menos com um animal", disse. "Tem sido muito interessante observar estas pessoas a transformarem-se".

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