Num Dakar exigente, Rodrigues e Gonçalves tentam travar a KTM

Arranca nesta segunda-feira, em Assunção, no Paraguai, a 39.ª edição da prova, que contará com a presença de 11 motards portugueses e quatro navegadores, divididos pelos automóveis e camiões.

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Paulo Gonçalves em acção numa das etapas da edição do ano passado do Dakar. Este ano o percurso será mais duro REUTERS/Jean-Paul Pelissier

Serão 11 motards portugueses em prova, dois deles candidatos à vitória, mas pela primeira vez desde que o Dakar se mudou para a América do Sul, Carlos Sousa não vai participar na competição, deixando o segundo mais mediático evento motorizado do planeta — apenas é superado pelo Mundial de F1 —, sem nenhum piloto nacional nos automóveis. Com as atenções nacionais centradas nas duas rodas, Hélder Rodrigues, em Yamaha, e Paulo Gonçalves, em Honda, são duas das principais ameaças à KTM, que tem dominado por completo o Dakar neste século: a marca austríaca não conhece a derrota na competição desde 2001.

Quase quatro décadas depois de Thierry Sabine se perder com sua moto no deserto da Líbia durante uma competição — o gaulês ficou fascinado com as paisagens dos desertos africanos e, após regressar à Europa, desenhou um percurso que deu origem, a partir de 1978, ao Rali Paris-Dakar —, a mítica prova terá o seu início hoje no Paraguai, o 29.º país a receber a caravana da competição. Vão ser 491 participantes, distribuídos por 316 veículos, 12 etapas e quase 9000 quilómetros percorridos, sendo que quase metade do percurso será cronometrado e servirá para definir os vencedores nas quatro classes da 39.ª edição do Dakar: automóveis, motos, camiões e quads.

Depois de a última edição ter sido menos exigente do que o habitual devido às alterações provocadas pelas recusas de Chile e Peru em receber a prova, o percurso deste ano promete ser, segundo a organização, um dos “mais difíceis de sempre”. Para além de metade das etapas serem percorridas acima dos 3000 metros de altitude, sendo que em algumas das especiais os pilotos vão ultrapassar a barreira dos 4000 metros, o único dia de descanso, que acontecerá no próximo domingo, será passado em La Paz, a mais alta capital do mundo: a cidade boliviana está situada a 3660 metros de altitude. Outra dificuldade com que os participantes se vão deparar é a especial “Súper Belén” que ligará, já na Argentina, Salta a Chilecito. Com 98% da etapa a ser percorrida fora da pista, esta especial maratona pode revelar-se decisiva para a atribuição das vitórias no Dakar 2017.

No entanto, as dores de cabeça para os pilotos não se vão resumir às dificuldades encontradas no terreno. Para aumentar ainda mais a dificuldade da prova, a organização decidiu neste ano retirar funcionalidades ao GPS e o sentido de orientação e navegação dos participantes ganhará uma importância redobrada. A partir de agora, o dispositivo de localização só irá guardar na memória o último quilómetro do percurso realizado pelos pilotos que, se se perderem, terão que tentar regressar ao último ponto de controlo sem ajudas electrónicas. O GPS deixa também de ter uma seta que direcciona para os waypoints e os concorrentes terão apenas a informação do quilómetro a que se encontram, sem saberem se estão em frente, à direita ou à esquerda do destino que pretendem alcançar.

Peugeot favorita

Com um contingente luso menos numeroso do que em edições anteriores, estarão 15 portugueses na partida de hoje, sendo que 11 serão motards e quatro navegadores, divididos em igual número pelos automóveis e camiões. Se nos automóveis o destaque é a ausência de Carlos Sousa, nas motos a grande baixa é Rúben Faria, segundo classificado em 2013. Vítima de uma grave lesão no pulso na última edição, o piloto algarvio viu-se forçado a não competir, mas continuará a ter um papel importante na Husqvarna: será o “team consultant” da marca sueca no Dakar. Sem Rúben Faria, as hipóteses portuguesas de lutar por um lugar entre os primeiros passam a recair por inteiro nos braços de Hélder Rodrigues e Paulo Gonçalves.

Na 11.ª participação consecutiva, Hélder Rodrigues é o português com mais vitórias em etapas (oito) e volta a liderar a Yamaha. Com dois pódios no Dakar, o lisboeta assume a ambição de vencer e fazer a marca japonesa regressar aos tempos áureos da década de 90, quando o francês Stéphane Peterhansel venceu a competição por seis vezes. Segundo classificado em 2015, Paulo Gonçalves é outro dos pilotos com capacidade para intrometer-se no habitual domínio da KTM, mas o motard de Esposende terá que começar o Dakar na sombra de Joan Barreda. O espanhol é o chefe-de-fila da Honda e já afirmou publicamente que não acredita que os seus companheiros de equipa venham a ser os seus principais rivais na edição 2017. Vencedor em 2016 e líder da todo-poderosa KTM, o australiano Toby Price assume-se como o grande candidato.

Para tentar repetir o triunfo na classe Maratona e o honroso 13.º lugar final na tabela geral, o beirão Mário Patrão vai liderar a equipa KTM Portugal, que contará com mais quatro pilotos nacionais: Gonçalo Reis, Luís Portela de Morais, David Megre e Fernando Sousa Jr. Joaquim Rodrigues (Hero), Rui Oliveira e Fausto Mota (ambos em Yamaha) Pedro Bianchi Prata (Honda), o último a confirmar a sua presença, completam o contingente português.

PÚBLICO -
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Nos automóveis, a Peugeot, com um renovado 3008 DKR, parece estar um passo à frente da concorrência e volta a apostar numa equipa de luxo para revalidar o título: Peterhansel, Sainz, Loeb e Despres. A principal ameaça ao construtor francês parece vir do Hilux da Toyota, que contará com três nomes de peso: Giniel de Villiers, Nani Roma e Nasser Al-Attiyah. A X-Raid de Sven Quandt será liderada por Mikko Hirvonen e terá ao seu dispor o novo Mini John Cooper Works Rally, que irá substituir o All4 Racing, mas teve uma baixa importante: Bryce Menzies não recuperou de uma fractura no ombro e ficará fora do Dakar. A espanhola Cristina Gutierrez Herrero, ao volante de um Mitsubishi Montero, será a única mulher da categoria.

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