Emoções ao rubro no Guimarães Jazz

Dirigida pela pianista e compositora Carla Bley, a histórica Charlie Haden´s Liberation Music Orchestra fechou da melhor maneira a edição comemorativa dos 25 anos do festival.

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A Charlie Haden's Liberation Jazz Orchestra Paulo Pacheco

A assinalar este ano o seu muito especial 25.º aniversário, o Guimarães Jazz apresentou, ao longo de duas semanas, uma programação diversificada e desafiante, reafirmando-se como um dos mais importantes eventos no calendário jazz nacional. O PÚBLICO esteve presente nos três últimos dias do festival.

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A assinalar este ano o seu muito especial 25.º aniversário, o Guimarães Jazz apresentou, ao longo de duas semanas, uma programação diversificada e desafiante, reafirmando-se como um dos mais importantes eventos no calendário jazz nacional. O PÚBLICO esteve presente nos três últimos dias do festival.

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A expectativa era grande para o espectáculo do jovem trompetista Ambrose Akinmusire, em parte devido às pistas deixadas no seu mais recente álbum, The Imagined Savior Is Far Easier to Paint (Blue Note). Acompanhado por Sam Harris (piano), Harish Raghavan (contrabaixo) e Justin Brown (bateria), Akinmusire impressionou de imediato com um tom vibrante e um controlo absoluto de dinâmica e vibrato. Ao longo de todo o concerto foi a sua voz que mais marcou, notando-se de imediato uma inflexão na energia do grupo de cada vez que o trompetista iniciava um novo solo. Com uma rítmica forte, própria de um projecto ligado à estética do hip-hop e a figuras como Mike Ladd ou Kendrick Lamar, o quarteto hesitou um pouco entre aquilo que se sente ser, naturalmente, a sua própria linguagem (mais interessante), e uma versão descaracterizada daquilo que poderia ser um jazz europeu, à la ECM. No final, e depois de dois encores que incluiram uma versão de Body & soul, venceram o rigor e criatividade de um trompetista que tem muito ainda para dar.

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Na noite seguinte, subiu ao palco o quarteto de Donny McCaslin, saxofonista norte-americano catapultado para o mediatismo pela sua participação no último álbum de David Bowie, Blackstar. Se era já conhecido o enorme talento de McCaslin como saxofonista, nada nos tinha preparado para o verdadeiro sax-hero que se apresentou em Guimarães. Acompanhado por um quarteto em que figuram dois outros músicos que colaboraram com Bowie – Jason Lindner (piano, sintetizador e programações) e Mark Guiliana (bateria) – e ainda Jonathan Maron (baixo), recrutado para substituir o anunciado Tim Lefebvre, a banda arrancou de forma fulgurante com McCaslin a dar (literalmente) tudo, num modo "burning man" que se verificou ser difícil manter até ao fim. Apesar de inúmeros momentos de excepção, dos quais se destacam a versão instrumental de Lazarus (tema de Bowie) e Henry, tema de McCaslin dedicado ao seu filho e interpretado em duo com Lindner, o concerto ficou marcado por uma energia mais próxima do rock do que do jazz, e por um esvaziamento progressivo de conteúdo.

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Para o último dia, sábado 19, estava reservado o melhor e o pior do festival. Da prestação de Adam Baldych com o trio de Helge pouco há a dizer, excepto que se tratou de um enorme equívoco, traduzido no absurdo de serem anunciados como "dos mais dinâmicos e promissores jovens músicos de jazz europeus da actualidade". Mal estaria o jazz europeu se isto fosse verdade. Nem a evidente fluência instrumental de Baldych, jovem violinista polaco, salvou um concerto marcado por uma prestação indigente do trio. O público presente gostou e chamou o grupo ao palco para um encore.

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Last but not the least, subiu ao palco a histórica Charlie Haden's Liberation Music Orchestra, dirigida por Carla Bley. Responsáveis por um dos registos mais fortes do ano, Time / Life (Impulse), homenagem sentida a Charlie Haden, falecido em 2014, esta versão da orquestra inclui inúmeros músicos de excepção, como Tony Malaby e Chris Cheek (saxofones), Marshall Gilkes (trombone), Steve Cardenas (guitarra) ou Matt Wilson (bateria).

Desde os primeiros momentos da noite, com uma versão de Not in our name, de Haden, que percebemos estar perante o verdadeiro espírito do jazz – arranjos bem calibrados e intervenções solistas que nos arrebatam do princípio ao fim, equilibrando inovação e tradição como só os grandes conseguem fazer. Num alinhamento que deu lugar a versões luminosas de Blue in green ou Amazing grace, surgindo ainda pelo meio um breve trecho de Grândola vila morena a evocar a passagem de Haden pelo Festival de Jazz de Cascais de 1971, destacaram-se a elegância de Bley, sempre oportuna, e as improvisações majestosas de Malaby, em noite de particular inspiração. Emoções ao rubro a encerrar o festival.