Theresa May abre a porta a um acordo transitório com a UE

Primeira-ministra admite que um "cenário de precipício" – o fim das negociações sem um acordo – seria muito prejudicial para as empresas.

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May voltou a afirmar que não revelará detalhes do seu plano para o "Brexit" antes do início das negociações Stefan Wermuth/Reuters

A primeira-ministra britânica garante estar a trabalhar para que a saída do Reino Unido da União Europeia não coloque as empresas perante a ameaça de um “precipício”, naquele que é o sinal mais forte dado até agora por Theresa May de que pretende negociar um acordo transitório com Bruxelas, para vigorar no período imediatamente a seguir ao “Brexit”.

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A primeira-ministra britânica garante estar a trabalhar para que a saída do Reino Unido da União Europeia não coloque as empresas perante a ameaça de um “precipício”, naquele que é o sinal mais forte dado até agora por Theresa May de que pretende negociar um acordo transitório com Bruxelas, para vigorar no período imediatamente a seguir ao “Brexit”.

Este é um cenário admitido há vários meses por responsáveis europeus perante o risco de que as negociações conduzam a um vazio perigoso – o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que May se comprometeu a accionar até ao final de Março, prevê que a saída ocorra no prazo máximo de dois anos, a menos que os restantes Estados-membros aceitem por unanimidade prolongar o prazo. E se Londres insiste que vai discutir em simultâneo os procedimentos para a separação e o futuro das relações com Bruxelas, as instituições europeias afirmam que são dois processos separados e que só depois do divórcio consumado será possível negociar o futuro das relações comerciais entre os dois blocos, uma tarefa que, avisam, irá demorar vários anos.

Um acordo temporário permitiria que, findo o prazo de dois anos, o Reino Unido deixasse a UE tendo assegurado os termos da convivência durante o período necessário para a conclusão das negociações comerciais, o que poderia incluir a continuação do acesso ao mercado único mediante determinadas condições.

Theresa May e um imbróglio chamado "Brexit" 

“Estou consciente de que há questões que precisam de ser tratadas e que as pessoas não querem ser confrontadas com um precipício, querem ter algum grau de certeza sobre como as coisas vão avançar, e isso fará parte do trabalho que temos pela frente nas negociações”, disse a primeira-ministra num discurso perante a confederação industrial britânica (CBI), uma das entidades patronais que mais se mobilizou contra a saída da UE.

Apesar de todos os apelos para que explique, pelo menos, quais são os objectivos que pretende atingir, a líder conservadora insiste que não vai revelar os seus planos antes do início das negociações, o que tem levado a sucessivas especulações sobre até onde pretende ir na ruptura com a UE. Uma recusa que May manteve – “Estou certa de que toda a gente nesta sala que já esteve envolvida em negociações sabe que não se revela absolutamente tudo o que se quer atingir logo no início” –, ao mesmo tempo que tentou tranquilizar os industriais: “Queremos chegar ao acordo que funcione o melhor possível para o Reino Unido e para as empresas britânicas.”

Saída desorganizada

As palavras da primeira-ministra surgiram em resposta ao presidente da CBI que, na intervenção anterior, tinha alertado para o grande risco de as negociações chegarem ao fim sem um acordo – a chamada "saída desorganizada". “O que acontece no dia a seguir ao 'Brexit'? E quando o relógio bater a meia-noite e os dois anos para negociar se esgotarem? Hoje as empresas confrontam-se obrigatoriamente com este cenário de precipício – uma transformação súbita das condições comerciais”, afirmou Paul Drechsler. Acrescentou ainda que mais do que saber se haverá um “hard Brexit” (saída de todos os mecanismos europeus, incluindo o mercado único) ou um “soft Brexit”, aos empresários interessa que haja um “Brexit sereno”.

As garantias de May foram deixadas no mesmo dia em que o seu ministro para o “Brexit” se reuniu pela primeira vez em Bruxelas com Michel Barnier, que irá liderar as negociações em nome da Comissão Europeia. Um encontro, explicou David Davis, que não visa antecipar as negociações (que só podem começar depois de accionado o artigo 50), mas “preparar o terreno com vista a um diálogo construtivo e uma saída calma e ordenada, como é interesse de todas as partes.