Pedro Pedro, Alexandra Moura e a moda com vista para o Tejo

Primeiro dia de desfiles do Portugal Fashion foi no Pavilhão de Portugal, com Storytailors, HIBU e Alves/Gonçalves

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No primeiro dia do 39.º Portugal Fashion, a elegância introspectiva de Pedro Pedro e a androginia da HIBU para o Verão 2017 desfilaram com vista para o Tejo, na varanda do Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, em Lisboa. Storytailors no Alentejo, Alexandra Moura com streetwear vitoriano e a dupla Alves/Gonçalves fora do tempo completaram a noite.

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No primeiro dia do 39.º Portugal Fashion, a elegância introspectiva de Pedro Pedro e a androginia da HIBU para o Verão 2017 desfilaram com vista para o Tejo, na varanda do Pavilhão de Portugal, no Parque das Nações, em Lisboa. Storytailors no Alentejo, Alexandra Moura com streetwear vitoriano e a dupla Alves/Gonçalves fora do tempo completaram a noite.

Pedro Pedro fez uma livre adaptação do universo de David Lynch, com o filme Dune (1984) e os cortinados de veludo da série Twin Peaks como inspiração. "É uma colecção mais estranha, mais experimental" do que as anteriores, diz ao PÚBLICO na manhã do desfile. Envolveu as suas mulheres com camiseiros em algodão, camisolas de malha fina com golas caídas e extremidades desfiadas, gabardinas fluídas com cintos, vestidos com corte direito em veludo rosa claro ou amarelo, redes de camurça e tricots desfeitos por cima de outros vestidos compridos. Nos pés, os sapatos da nova colaboração com a marca LeMoke, a combinar com o estilo "descontraído e casual urbano" da sua marca.

"Fiz muita coisa à mão", explica sobre as peças com malhas desfiadas. "Não queria que ficasse muito rústica nem muito anos 1970 ou hippie. Queria que tivesse um ar moderno", acrescenta.

A colecção de Pedro Pedro já esteve num showroom e num desfile no calendário paralelo da Semana de Moda de Milão, mas para a apresentação em Lisboa, o designer criou mais peças e conjugou-as de maneira diferente.

Alexandra Moura não se estreou no Portugal Fashion, mas estreou-se na sua passerelle em Lisboa depois de também estar presente nos showrooms de vendas com apoio do Portugal Fashion em Londres. Agora a desfilar com o evento na capital e em continuidade clara do seu trabalho da última estação, Alexandra Moura continua de olho na rua a vestir "homens e mulheres irreverentes, urbanos e confiantes". São adjectivos que para a designer têm significado disrupção no território do streetwear, tanto mais sofisticado nos materiais quanto confortável no volume da silhueta.

I've got my eyes on you bordou olhos tanto em tules quanto em blusões, num grupo de mulheres de tranças e rapazes de looks soltos que lembraram os anos 1990 pelo olhar de 2017 – é para essa Primavera/Verão que ela está a trabalhar, embora tenha ido beber inspiração à jóia vitoriana Lover's Eyes.

Antes, os Storytailors cumpriram a sua tradição e abriram o evento em Lisboa com a atmosfera de moda narrativa que os caracteriza. Mais um tema em capítulos, desta feita o Capítulo II de Alexithymia, a história da sua personagem JD – na prática e nos corpos de manequins femininos e masculinos, uma explosão de estampados com padrões inspirados na textura das árvores alentejanas. Manchas e pontilhado em tons terra, verde e rosa, muitos plissados e georgettes em vestidos, coletes e calças, que equivalem a raparigas leves e rapazes a condizer, com as cores a acompanhar-lhes os corpos. Tudo a fluir ainda com a luz do dia, Vivaldi a tocar, e surgem referências de sempre, mas com algumas peças em tecido a partir de cortiça: os pinos de ligação metálica a unir as peças de casacos, a apontar para a construção do vestuário medieval e criando aquilo que os clientes de Luís Sanchez e João Branco esperam – ideias de outro tempo com leituras de contemporaneidade.

Fim de noite, a sala com capacidade máxima de 350 pessoas cheia para os clássicos Alves/Gonçalves. O tempo é central para o trabalho actual da dupla, apostada que parece estar em contrariar as expectativas quanto à sua criação. Acabamentos tecnológicos sobre a nobreza das sedas ou georgette, muito brilho plástico em vestidos cheios de assimetrias ou fechos éclair sobre renda branca, longe das mulheres cocktail de outros tempos. Manuel Alves e José Manuel Gonçalves partiram da camisa e, com a modelo Maria Clara a abrir e fechar o desfile, acabaram num espaço em que quiseram criar "novos itens" – por vezes dominados pelas botas, entre os ténis e a neve, escolhidas para calçar as manequins.

O Portugal Fashion prossegue até sábado, a partir de quinta-feira já no Porto, com um dia dedicado à plataforma de jovens talentos Bloom para depois receber nomes como Diogo Miranda, Miguel Vieira ou Carlos Gil na Alfândega – sábado, Luís Buchinho e Katty Xiomara estreiam o Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões no que à moda diz respeito.