Empresários e oposição britânica mobilizam-se contra um "hard Brexit"

Governo insiste que recebeu mandato dos eleitores para controlar imigração e recusa que Parlamento possa votar sobre os termos das negociações com a UE.

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O ministro para o Brexit disse que os deputados serão consultados sobre as negociações, mas o “Governo rejeitará qualquer tentativa para reverter o resultado do referendo" AFP

Após meses de hesitação, o Governo britânico começou a definir o que pretende das negociações que vão conduzir à saída do país da União Europeia. Só que o rumo escolhido – um "hard Brexit" que privilegia o controlo da imigração sobre o acesso ao mercado único europeu – está a alarmar as empresas e os políticos que se bateram pela permanência.

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Após meses de hesitação, o Governo britânico começou a definir o que pretende das negociações que vão conduzir à saída do país da União Europeia. Só que o rumo escolhido – um "hard Brexit" que privilegia o controlo da imigração sobre o acesso ao mercado único europeu – está a alarmar as empresas e os políticos que se bateram pela permanência.

O último alerta partiu da associação de retalhistas que nesta segunda-feira avisou que o preço da alimentação e do vestuário vai disparar se o Governo não negociar um acordo de comércio que garanta tarifas reduzidas para as importações. Sexta-feira, na mesma altura em que a libra caia a pique, atingindo um novo mínimo em 31 anos face ao dólar, os responsáveis das principais confederações patronais insistiam que o acesso ao mercado de 500 milhões de consumidores europeus “é vital para a economia britânica”.

Mas o Governo de Theresa May insiste que o mandato que recebeu dos eleitores, no referendo de 23 de Junho, foi claro, não só sobre a inevitabilidade de saída da UE, como também sobre a necessidade de reassumir o controlo sobre as fronteiras, o que à luz da lei europeia deixará Londres fora do mercado único. Uma interpretação que levou a ministra do Interior, Amber Rudd, a anunciar no congresso do Partido Conservador que as empresas teriam de passar a revelar quantos trabalhadores estrangeiros empregam – intenção que acabou por ser abandonada após um coro de críticas.

Mas essa não é a leitura da oposição trabalhista e liberal-democrata que, com o apoio de um punhado de deputados conservadores, diz que os eleitores só se pronunciaram sobre a saída, não sobre o tipo de acordo que Londres terá de firmar com a UE. O Governo “não tem qualquer mandato” para impor ao país um “hard Brexit”, disse Ed Miliband, o ex-líder trabalhista e um dos promotores da ideia para que o Parlamento possa votar os termos das negociações com a UE. Ouvido em Westminster, David Davis, o ministro para o "Brexit", recusou a exigência, garantindo que os deputados serão consultados, mas o “Governo rejeitará qualquer tentativa para reverter o resultado do referendo”.

A repetida promessa de reduzir a imigração está a render apoio aos tories – uma sondagem divulgada nesta segunda-feira dá ao partido de May uma vantagem de 17 pontos percentuais sobre o Labour, a maior diferença entre os dois partidos desde 1992 –, mas cai mal junto dos restantes líderes europeus que, numa expressão cara ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson, repetem que Londres “não pode comer o bolo e ficar com ele”. “Nenhum país da UE cederá sobre questões de princípio”, repetiu o ministro das Finanças francês, Michel Sapin, cerrando alas com o colega holandês, Jeroen Dijsselbloem, para quem um “hard Brexit será uma opção britânica”, não a opção da UE.