Governo britânico não vai divulgar listas de trabalhadores estrangeiros mas quer tê-las

Após o anúncio da polémica medida, Conservadores garantiram que não vão divulgar números nem nomes.

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Theresa May durante a convenção do Partido Conservador Toby Melville / Reuters

O Governo britânico garantiu que não pretende tornar públicas a quantidade e o nome dos trabalhadores estrangeiros em empresas nacionais. Mas não abdica de saber quantos são e quem são. Os esclarecimentos surgem depois de uma semana de duras críticas contra os planos dos Conservadores, apelidados de “repugnantes”.

O domingo parece ter sido reservado pelos tories para um controlo dos danos desencadeados pelo discurso da ministra do Interior, Amber Rudd, durante o congresso do Partido Conservador, na semana passada. Uma das medidas mais controversas pretende obrigar as empresas britânicas a revelar a quantidade de trabalhadores estrangeiros que empregam. O objectivo, disse Rudd, é assegurar que os trabalhadores estrangeiros “não estão a fazer trabalhos que os britânicos poderiam ter”.

A proposta foi duramente criticada pela oposição trabalhista, mas também por alguns sectores conservadores. Steve Hilton, ex-conselheiro de David Cameron, classificou a medida como “repugnante” e “divisiva”, e disse que mais valia o Governo anunciar que “os trabalhadores estrangeiros vão passar a ser tatuados com números nos braços” – uma referência à prática do regime nazi em tatuar números de identificação nos prisioneiros nos campos de concentração.

A ex-ministra da Educação tory, Nicky Morgan, disse que “o problema com este tipo de políticas é a mensagem que envia sobre o partido”.

A questão é que é bem possível que seja esta precisamente a mensagem que os Conservadores querem passar. No seu discurso, a primeira-ministra, Theresa May, lançou as bases para uma mudança ideológica que o partido deve acolher, motivada pelo processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Na cúpula do Partido Conservador persiste a crença de que a vitória do “Brexit” representou uma reacção de grande parte da sociedade contra a imigração.

“Se acreditam que são cidadãos do mundo, então são cidadãos de lado nenhum. Não entendem o que a própria palavra cidadania significa”, declarou May, numa das passagens mais polémicas do seu discurso. A revista Economist define a visão de May como um “conservadorismo revolucionário” e disse que “em alguns momentos, [a primeira-ministra] lembrava Nigel Farage”, líder do partido eurocéptico e anti-imigração UKIP.

A viragem dos tories é materializada por políticas como a que foi apresentada por Rudd. Durante o congresso, a ministra disse que as empresas devem ser “claras quanto à proporção da sua força de trabalho que é internacional”, o que deixava a porta aberta a uma obrigatoriedade por parte dos empregadores em revelar listas com a nacionalidade dos seus trabalhadores.

Não é isso que vai acontecer, veio este domingo esclarecer o ministro da Defesa, Michael Fallon. “O que posso assegurar de forma absoluta é que não iremos pedir às empresas para listarem, publicarem, nomearem ou identificarem em caso algum o número de trabalhadores estrangeiros que têm”, disse numa entrevista na BBC.

Os contornos da medida permanecem, porém, ainda por concretizar. Fallon disse que já existe um “teste ao mercado laboral residente” a que as empresas estão sujeitas. Esta cláusula dá actualmente preferência a trabalhadores nacionais em detrimento de imigrantes, “mesmo que o migrante seja mais habilitado ou experiente”, de acordo com a regulação em vigor. Aquilo que o Governo pretende agora, disse Fallon, é “ter uma imagem melhor da dependência exacta de trabalhadores estrangeiros em cada sector”.

“Isso iria significar, por exemplo, pedir às empresas que simplesmente reportem os seus números, que não iríamos publicar, não iríamos identificar ninguém”, acrescentou. A ministra da Educação, Justine Greening, também veio esclarecer que “não haverá qualquer identificação caluniosa de nomes”.

Nos últimos dias, Rudd continuou a defender a sua medida e reiterou que as empresas britânicas têm uma “responsabilidade em relação ao emprego local”. “Não podemos ignorar o facto de que as pessoas querem falar sobre imigração e se falarmos de imigração não me chamem racista”, acrescentou a ministra.

Os avanços e recuos dos tories mostram que o Governo está “desorientado”, disse a ministra “sombra” do Interior, Diane Abbot. “O programa anti-estrangeiros dos tories é uma distracção das suas políticas falhadas e vão contra os melhores interesses da sociedade.”

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