Solução para o "Brexit" é mais integração, defendem Renzi, Merkel e Hollande

Reunidos na ilha de Ventotene, os lideres de Itália, Alemanha e França insistiram no relançamento do projecto europeu após a saída do Reino Unido.

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Os três líderes europeus falaram aos jornalistas a bordo do porta-aviões Giuseppi Garibaldi REUTERS/Remo Casilli

Um primeiro esboço daquela que poderá ser a resposta da União Europeia ao desafio representado pela saída do Reino Unido do bloco começou esta segunda-feira a ser desenhado numa mini-cimeira estival entre os líderes da Itália, França e Alemanha, os três maiores países – e as três maiores economias – do futuro clube dos Vinte e Sete.

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Um primeiro esboço daquela que poderá ser a resposta da União Europeia ao desafio representado pela saída do Reino Unido do bloco começou esta segunda-feira a ser desenhado numa mini-cimeira estival entre os líderes da Itália, França e Alemanha, os três maiores países – e as três maiores economias – do futuro clube dos Vinte e Sete.

O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, recebeu François Hollande e Angela Merkel na ilha de Ventotene, ao largo da cidade de Nápoles, para lançar as bases da discussão, ainda no plano dos princípios, antes da cimeira informal de 16 de Setembro em Bratislava, que será a primeira conferência de chefes de Estado e de Governo sobre a estratégia negocial a adoptar com Londres para a concretização do "Brexit".

A escolha de local adicionou uma camada extra de simbolismo à reunião trilateral em período de férias: foi na prisão da pequena ilha de Ventotene, durante a Segunda Guerra Mundial, que dois proeminentes intelectuais anti-fascistas italianos, Ernesto Rossi e Altiero Spinelli, redigiram o manifesto onde argumentavam a favor da unificação e federalização da Europa. O documento, de 1941, seria uma das peças mais influentes na construção da União Europeia (e Spinelli, que está enterrado em Ventotene, chegaria a comissário europeu).

E é precisamente o projecto europeu consolidado ao longo das últimas quatro décadas que os três líderes pretendem defender, e com isso travar a onda de eurocepticismo que pode alimentar a multiplicação de iniciativas semelhantes à do referendo britânico. Num primeiro encontro informal em Junho, no rescaldo da votação do Reino Unido que classificaram como uma "derrota" e um "abanão", Renzi, Merkel e Hollande defenderam um "novo impulso" para a União Europeia, que tem de ser capaz de contrariar "forças centrífugas que podem ter consequências imprevisíveis".

"A Europa não acabou com a tempestade do 'Brexit'. Respeitamos a escolha dos britânicos, mas agora vamos virar a página para escrever um novo futuro", garantiu o anfitrião do encontro, Matteo Renzi. "Os nossos desafios são tremendos", notou Angela Merkel, enumerando, para além do "Brexit", as questões de defesa e segurança, nomeadamente a ameaça do terrorismo. "O maior risco que corremos, na Europa e outros países, é de fragmentação, de egoísmo", salientou, por seu lado, o Presidente francês.

As manifestações de unidade não escondem, porém, a existência de diferenças assinaláveis no que diz respeito à melhor fórmula para preservar a integridade da União Europeia com 27 Estados-membros. "São muitos países e com agendas [internas] muito diferentes. Não vai ser fácil chegar a uma conclusão, porque dificilmente haverá consenso sobre o que deve ser feito" na sequência da saída do Reino Unido, notava o economista-chefe do ING, Rob Carnell, à Bloomberg.

Prova disso foram as declarações dos três líderes sobre as consequências do "Brexit" feitas aos jornalistas a bordo do porta-aviões Giuseppe Garibaldi, onde foi servido um jantar – o navio italiano é a peça central da operação naval europeia "Sophia" no mar Mediterrâneo. François Hollande considerou "fundamental" ultrapassar o actual período de incerteza e instabilidade provocado pelo resultado do referendo britânico, e insistiu que isso passa por medidas "com efeitos imediatos na vida das pessoas" – "medidas fortes para relançar o crescimento e lutar contra o desemprego jovem", sublinhou. "Temos de regressar à Europa dos valores e não da finança", concordou o primeiro-ministro italiano.

"A Europa ainda não se tornou o local mais competitivo para muitos sectores", observou Angela Merkel, para quem a estratégia passa por ajustar o antigo lema "mais Europa" à nova realidade pós-"Brexit": a tónica, segundo a chanceler alemã, deve ser "melhor Europa", o que na sua opinião não implica reformas estruturais nem mexidas na estrutura da UE, mas antes a "aplicação inteligente e pragmática" dos mecanismos e políticas já existentes.

Juncker pede combate aos nacionalismos

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pediu um esforço colectivo para contrariar a actual deriva populista e nacionalista na Europa, lembrando que a História ensina que essas são tendências nefastas e que inevitavelmente conduzem à guerra. "Temos o dever de barrar o caminho ao avanço do populismo e a obrigação de combater o nacionalismo", sublinhou, descrevendo a integração como o antídoto para prevenir a expansão dessas ideias.

No seu discurso de boas-vindas aos participantes no fórum europeu Alpbach, na Áustria, que este ano tem como tema o "Novo Iluminismo", Juncker reconheceu que a Europa e a União Europeia atravessam actualmente um período de crise, que se manifesta por exemplo na sua incapacidade de concertar uma solução para os milhões de refugiados que buscam segurança e prosperidade no seu interior. Essas populações merecem solidariedade, e não que as fronteiras se fechem à sua passagem. "As fronteiras foram a pior invenção dos políticos", considerou.