Tibete: o que resta da tradição nómada do "tecto do mundo"

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O Planalto do Tibete, conhecido como "o tecto do mundo", situa-se a uma altitude de 4500 metros e é considerado o maior e mais elevado planalto do mundo. Trata-se de uma região rica em ouro e cobre, onde abundam fortes caudais de rios, perfeitos para exploração hidroeléctrica. Aí residem, há cerca de quatro mil anos, diversas comunidades nómadas que se dedicam sobretudo à criação de gado e pastoricia — nomeadamente de iaques, cavalos, cabras e ovelhas. O seu estilo de vida encontra-se, há já várias décadas, sob ameaça, sobretudo devido a factores de natureza política, económica e ambiental. A introdução de novas leis, por parte do governo chinês, puniu severamente estas comunidades e colocou em risco o delicado equilíbrio ambiental da região. A explosão demográfica chinesa fez aumentar a necessidade de produção de carne, o que levou à ocupação privada de áreas anteriormente exploradas por nómadas. Foram implementadas leis para o seu realojamento, foram privatizadas as terras que exploravam e colocados entraves à sua mobilidade, o que causou conflitos violentos entre as comunidades nómadas e as autoridades estatais. A exploração mineira proliferou nos últimos anos, o que originou alterações profundas nas paisagens e na qualidade do ar. Os nómadas atravessam processos que os arrastam cada vez mais para um mundo moderno. Entre 2006 e 2013, segundo relatório da Human Rights Watch, 413 mil nómadas do Planalto do Tibete foram relocados. O objectivo, segundo as autoridades chinesas, é "ajudar economicamente, combater o sentimento separatista e aumentar o controlo político sobre a população rural do Tibete". Em consequência, as condições de vida desta comunidade mudaram significativamente. Têm acesso a cuidados de saúde, serviços de veterinária, educação e acesso a infra-estruturas para vender o seu gado. Vivem em casas, têm abrigos para os animais e mantêm parte das suas tradições, especialmente durante o Verão, período durante o qual tornam a habitar em tendas e a promover corridas de cavalos e iaques. Estradas e transportes facilitam as suas peregrinações anuais. Muitos tentam abandonar essas novas estruturas e migrar para as grandes cidades, mas a maioria das vagas de emprego é preenchida por chineses não-nómadas. Acabam marginalizados pela falta de experiência noutras áreas que não a da criação de animais. O projecto "Nomadic Life Threatened on the Tibetan Plateau" mostra-nos o que resta da tradição nómada no Planalto do Tibete. A série fotográfica do canadiano Kevin Frayer foi vencedora do Sony Awards 2016, na categoria "People". Ana Marques Maia