Uma separação em que, quando se fala de dinheiro, todos se arriscam a perder

São várias as ameaças económicas de um "Brexit". No curto prazo, o simples facto de não se saber o que irá acontecer poderá agravar as quedas que já se vêm a registar nos mercados.

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AFP PHOTO / BEN STANSALL

Citi, Deutsche Bank, JP Morgan, Goldman Sachs, HSBC, Barclays, Royal Bank of Scotland e Lloyd: nos maiores bancos do Globo, ninguém quer deixar ao acaso a resposta ao resultado do referendo que se realiza no Reino Unido. De acordo com a Reuters, todas estas instituições financeiras têm já em prevenção equipas formadas pelos seus corretores, analistas e gestores mais qualificados, para estarem nos seus locais de trabalho a partir das 22h do próximo dia 23 de Junho, quando começarem a ser divulgados os primeiros dados da votação, até ao início da manhã do dia seguinte, quando os mercados voltarem a reabrir.

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Citi, Deutsche Bank, JP Morgan, Goldman Sachs, HSBC, Barclays, Royal Bank of Scotland e Lloyd: nos maiores bancos do Globo, ninguém quer deixar ao acaso a resposta ao resultado do referendo que se realiza no Reino Unido. De acordo com a Reuters, todas estas instituições financeiras têm já em prevenção equipas formadas pelos seus corretores, analistas e gestores mais qualificados, para estarem nos seus locais de trabalho a partir das 22h do próximo dia 23 de Junho, quando começarem a ser divulgados os primeiros dados da votação, até ao início da manhã do dia seguinte, quando os mercados voltarem a reabrir.

Estes planos de contingência, que provavelmente se estendem a outros sectores de actividade, são mais uma prova de que, para a economia e para os mercados – não só do Reino Unido mas de todo o Mundo – aquilo que os eleitores britânicos decidirem sobre o futuro do seu país na UE conta. E muito.

Em geral, a maior parte das análises oficiais aponta para a existência de consequências económicas e financeiras negativas no caso de a opção ser pela saída do Reino Unido da UE. Governo britânico, Casa Branca, Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional, grandes bancos internacionais, agências de rating e bancos centrais têm apresentado nos últimos meses sucessivos relatórios traçando cenários bastante assustadores para um futuro pós “Brexit”.

Aumentar

E, nos mercados, as descidas das bolsas que se verificaram nas últimas semanas, à medida que nas sondagens o “Brexit” foi mostrando de forma consistente estar em vantagem, revelam que a ideia predominante entre os investidores é a de que uma saída do Reino Unido da UE seria um acontecimento bastante negativo a nível económico e financeiro.

Estas projecções negativas – que naturalmente não são partilhadas pelos defensores do voto pela saída – dependem ainda de muitos factores ainda por clarificar num cenário de saída do Reino Unido da UE e estão por isso, como é habitual em todas as projecções económicas, envoltos numa grande dose de incerteza.

Alguns dos efeitos poderão ser sentidos logo no curto prazo, mas outros – talvez os mais importantes – podem levar muito tempo para se confirmar, já que o próprio processo de saída, com muitas questões burocráticas e diplomáticas por resolver, seria certamente bastante longo.

De acordo com a generalidade das análises feitas, são seis os principais canais através dos quais se poderão fazer sentir, tanto no Reino Unido como no resto da União Europeia, os impactos económicos de uma eventual opção pelo “Brexit”.

Incerteza com efeito rápido

Sejam as previsões para o impacto económico do “Brexit” mais positivas ou negativas, uma coisa parece certa: o simples facto de não se saber exactamente o que irá acontecer num Reino Unido fora da UE e numa UE sem o Reino Unido será só por si suficiente para que se assista, de forma imediata, a dias de turbulência nos mercados internacionais.

Nas bolsas, quando existe incerteza, geralmente vende-se. E, com declarações como as do presidente do Conselho Europeu, que disse esta semana que um voto pela saída poderia significar “o início da destruição não apenas da UE mas de toda a civilização política ocidental”, não admira que nas últimas semanas, com o “Brexit” a subir nas sondagens, as bolsas europeias tenham registado descidas fortes e a libra tenha caído de forma acentuada face ao dólar e ao euro.

As expectativas entre a maior parte dos analistas é a de que, embora já muitos dos efeitos negativos estejam incorporados nas actuais cotações, se possa a assistir a um agravamento dessas tendências caso a opção pela saída vença no referendo.

Outro efeito rápido da incerteza, embora ainda mais difícil de antecipar, pode sentir-se ao nível do investimento e do consumo. Empresas e consumidores podem retrair-se na hora de tomar as suas decisões e isso pode ter consequências negativas na evolução da actividade económica, tanto no Reino Unido, como no resto do Mundo, em particular na União Europeia.

Comércio ameaçado

Uma das consequências mais óbvias de uma eventual saída do Reino Unido do espaço económico comum que contitui a UE é a criação de maiores obstáculos no comércio entre o país e os seus parceiros europeus, com potenciais consequências negativas para a generalidade dos intervenientes. No entanto, esta é uma das áreas em que ainda faltam muitos dados para se perceber o que é que irá exactamente acontecer. E mais informação poderá demorar bastante tempo a chegar.

Depois do voto no referendo passar pelo parlamento britânico, o Reino Unido fica com dois anos para negociar com as autoridades europeias os termos da sua saída. E só depois é que devem ser realizadas as negociações para a definição de uma nova relação comercial entre as partes.

O Reino Unido poderá, por um lado, ficar com um acordo comercial com a UE ao estilo da Noruega,  em que mantém o acesso ao mercado único mas em que é obrigado a seguir a maior parte das regras que estão por trás de uma opção pelo “Brexit”. Outra hipótese, considerada mais provável, é um acordo ao estilo daquele que a Suíça tem, em que são feitos acordos bilaterais em sectores específicos.

Aquilo que se prevê, contudo, é que do lado dos outros países da União Europeia não haja muita vontade de facilitar a vida ao Reino Unido, depois deste se ter decidido pela saída, até para evitar que outros Estados membros vejam essa opção como viável.

O mais provável, por isso, é que, a prazo, um “Brexit” tivesse impacto negativo no volume e nas condições das trocas comerciais entre o Reino Unido e o resto da União Europeia. Cerca de um décimo das exportações da UE vão para o Reino Unido, ao passo que quase metade das exportações do Reino Unido vão para UE, o que torna evidente que são os britânicos que têm mais a perder com mais obstáculos no comércio.

Mas mesmo assim, não se deve minimizar o efeito negativo para os outros países da UE, até porque o Reino Unido é um país que regista um défice comercial significativo com a UE (compra mais do que vende), e que é especialmente acentuado (cerca de 30 mil milhões de euros) com a Alemanha.

Recuos no Investimento

Para além do impacto imediato negativo trazido pela incerteza, são várias as outras consequências possíveis de um “Brexit” nos fluxos de investimento no Reino Unido e na UE. Ficando fora do mercado único, é possível que muitas empresas a operar a nível europeu e residentes actualmente no Reino Unido, sintam necessidade de se deslocalizar para a Europa continental.

Isso constituiria certamente um problema para a economia britânica. Mas também para essas empresas, em vários casos provenientes de outros países europeus, isso constituiria um custo adicional.

A mais longo prazo, há também quem argumente que o Reino Unido, liberto das regulações europeias, pode tornar-se mais agressivo (em termos fiscais por exemplo) na tentativa de atracção de investimento proveniente de outros continentes, concorrendo deste modo com os outros países da União Europeia. Por isso, é ainda difícil avaliar quem poderia neste caso sair vencedor.

Menos contributo para o orçamento

O Reino Unido é um contribuinte líquido para o orçamento da União Europeia e por isso não é difícil perceber que a este nível, o Brexit pode significar um ganho financeiro potencial para o Reino Unido e uma perda para os restantes Estados membros da UE.

Este é um dos argumentos mais usados para a saída durante a campanha do referendo, mas as contas não são tão simples como parecem e dependem, mais uma vez, do tipo de relação que irá ser estabelecida entre o Reino Unido e a UE depois da separação.

O contributo líquido britânico representa actualmente um valor próximo de 0,5% do PIB do país, mas países como a Noruega e a Suíça, para terem acesso ao mercado único, também acabam por ter de contribuir financeiramente para a UE, o que pode limitar os ganhos britânicos e as perdas da UE.

Riscos para City

O mercado financeiro britânico é de longe o mais importante a nível europeu, deixando muito para trás os seus concorrentes alemão e francês.

Entre os defensores da manutenção, alerta-se para o risco de muito operadores saírem de Londres, como resposta às limitações criadas por estarem fora da UE. Se tal acontecesse, Frankfurt e Paris poderiam ganhar alguma coisa com a saída, reforçando as suas bolsas.

Ainda assim, tendo em conta a supremacia actual da City londrina, é considerado muito improvável que esta venha a registar uma perda de influência muito acentuada e rápida.

Migração condicionada

O tema da imigração está no centro das discussões no Reino Unido e poderá ser um dos que maiores consequências pode trazer a nível económico.

Do lado britânico, são várias as estimativas que apontam para o prejuízo económico do fim do fluxo de entrada de mão-de-obra jovem, barata e, nalguns casos, qualificada. Nos outros países da União Europeia, sendo Portugal um dos casos relevantes, um cenário em que se registasse um regresso de emigrantes e uma saída de britânicos poderia conduzir a uma perda ao nível das remessas financeiras.