Marcelo sobre as sanções: partidos "dizem o mesmo por palavras diferentes, é muito português"

As comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, que se celebra a 10 de Junho, já foram oficialmente abertas pelo Presidente da República. Marcelo que, lembrou, não é comentador de si próprio e que vai à Lituânia visitar as tropas portuguesas.

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Ao final da manhã desta quinta-feira, depois de ter dado início às comemorações do 10 Junho, o Presidente da República foi confrontado com o facto de os partidos da direita e da esquerda não se terem entendido para elaborarem um documento único que rejeitasse eventuais sanções de Bruxelas a Portugal por défice excessivo. Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou, preferia que houvesse um texto único, mas insistiu que o importante é que todos condenem eventuais sanções.

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Ao final da manhã desta quinta-feira, depois de ter dado início às comemorações do 10 Junho, o Presidente da República foi confrontado com o facto de os partidos da direita e da esquerda não se terem entendido para elaborarem um documento único que rejeitasse eventuais sanções de Bruxelas a Portugal por défice excessivo. Marcelo Rebelo de Sousa desvalorizou, preferia que houvesse um texto único, mas insistiu que o importante é que todos condenem eventuais sanções.

“Os portugueses costumam dizer que o bom é inimigo do óptimo. E, portanto, se não tendo uma posição traduzida num texto único, mas através de vários textos, disserem o mesmo, é bom, embora não óptimo. Fico satisfeito, preferiria o óptimo, mas o bom já é bom”, declarou aos jornalistas, em Lisboa.

Marcelo não admite, porém, que tal seja uma falha nos consensos que tanto tem pedido: “O consenso na substância, isto é, no conteúdo está lá, na forma não. Dizem o mesmo por palavras diferentes, é muito português”, declarou, acrescentando que “o que interessa na vida é a substância, o conteúdo, não é a forma”. Ainda assim, admitiu que “se a forma acompanhar o conteúdo, melhor, mas é preferível haver acordo na substância – não às sanções – do que propriamente haver acordo na forma, mas não no conteúdo”.

Marcelo Rebelo de Sousa também não acredita que o desentendimento entre as bancadas da direita e da esquerda fragilize a posição de Portugal lá fora: “Lá fora, percebe-se que todos estão de acordo ao dizerem não às sanções.” É isso que lhe interessa: “A mim, Presidente da República, e a nós Portugal, o que interessava é que dissessem o mesmo. Se disserem o mesmo através de palavras diferentes, cá está, é bom. O que interessa é que lá fora se oiça que todos os partidos políticos portugueses pensam o mesmo. Uns dizem de uma maneira, outros dizem de outra.”

À hora em que o Presidente falava, os deputados tinham acabado de falhar as negociações para chegar a um texto único. Face ao insucesso, PSD e CDS mantiveram o seu voto de condenação conjunto, tal como PS, PCP, BE, PEV e PAN mantiveram o seu. No final, os dois foram aprovados na Assembleia da República, com votações diferentes. E foi o PS a viabilizar os dois textos.

“Não há milagres” nas exportações

Aos jornalistas, Marcelo disse ainda que, “em princípio”, está pensada uma ida à Lituânia para visitar as tropas portuguesas que lá estão, embora não haja ainda uma data oficial. Sobre as dificuldades que enfrentam as exportações portuguesas repetiu o que tem dito: “A situação internacional não está boa e, quando não está boa nos países que são destino das exportações, não há como fazer aumentar as exportações. Se esses mercados estão em crise, e é o que todas as organizações internacionais dizem, vamos esperar que melhorem. Mas, neste momento, estão em crise mercados importantes, tradicionais, das nossas exportações, não há milagres aí.”

O Presidente da República foi ainda questionado sobre o facto de ter escolhido o Terreiro do Paço para estas comemorações, que se estendem até amanhã, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. “O Terreiro do Paço foi sendo utilizado em várias ocasiões pelas Forças Armadas Portuguesas, pelos vários ramos das Forças Armadas”, disse, acrescentando que o “que há de novo” é que, em vez de ser uma utilização “ramo a ramo”, é uma cerimónia que cobre todas as Forças Armadas.

Por causa do início destas comemorações, o trânsito estava caótico de manhã. No Cais das Colunas, Marcelo assistiu à cerimónia militar do içar da bandeira, ao som do hino nacional. Depois, visitou uma exposição das Forças Armadas na Ribeira da Naus, ouviu todas as explicações, desfez-se em cumprimentos, até provou pizza.

Passou pelas várias tendas de campanha ali montadas. Na secção de treino e reconhecimento e activação de engenhos explosivos, ouviu com atenção as explicações que lhe vão dando, como a de que a arma mais usada no mundo é um lança-granadas. Marcelo rumou à próxima tenda: “Ora bem, explique lá então.”

Na padaria de campanha do exército – que é móvel de forma a ser atrelada a qualquer carro –, Marcelo não perdeu a oportunidade para provar uma das várias pizzas e pães que tinha à frente. Escolheu uma com ananás. “Isto é uma tentação, o problema é a dificuldade da escolha.” O veredicto veio após a primeira dentada: “É óptimo. Grande capacidade, grande qualidade. Muito bom.”

A seguir, entrou num simulador de voo de um helicóptero da marinha. Seguiu para um simulador de navegação: na altura em que o barco passava junto à Torre de Belém, de repente, a chuva ameaçou e Marcelo agarrou-se ao leme. Não ficou por aqui. Também espreitou um avião da Força Aérea Portuguesa. Fez e experimentou tudo, como tem sido hábito desde que é Chefe de Estado.

Mesmo no final, veio a metáfora esquerda-direita. Marcelo assistia a um treino de orientação feito aos pilotos, no qual se sentam numa cadeira giratória. Quem está lá sentado, fica de olhos fechados e gira e gira na cadeira. Às tantas, perguntam-lhe se está a girar para esquerda, para a direita, se está parado. Baralha-se. Girou para direita mas, quando parou, pareceu-lhe que estava a girar para a esquerda. Marcelo não perdeu a oportunidade para a piada: “É a vida, roda para a direita e parece que é para a esquerda.” E aconselhou-o a confiar sempre nos instintos.

Instintos à parte, recusou fazer um balanço dos primeiros meses como Presidente: “O próprio é sempre suspeito a fazer balanço. O próprio ouve e lê os balanços que fazem. O próprio não é comentador de si mesmo. O Presidente cumpre a sua missão e, depois, aqueles que são especialistas em comentar a actuação dos governantes dirão a sua opinião.”

“Vem sem medo”

“Não faz mal, vem sem medo”. Assim se chamava a música com que Marcelo foi recebido, já à tarde, quando chegou ao Forte do Bom Sucesso para visitar o Museu do Combatente. O grupo era da Escola de Artes, Sinfonias e Eventos do Montijo. Se no início da visita o Presidente foi recebido ao som de guitarras, no final assistiu a um grupo de raparigas da mesma escola que dançou hip hop.

Marcelo Rebelo de Sousa visitou a capela e o memorial, cada canto do museu. Antes, com a Torre de Belém ao fundo e vários turistas a fotografá-lo, o Presidente passou por uma banca de livros, encostada ao forte, e escolheu algumas obras. “Este tenho, este também tenho”, ia dizendo. Levou oito para ler.