Arquitectura que ultrapassa os limites da pobreza

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Ao percorrer as ruas improvisadas de Rafael Uribe Uribe, uma cidade-subúrbio degradada e extremamente populosa a sul de Bogotá, na Colômbia, o fotógrafo espanhol Victor Enrich não pôde ficar indiferente à visível precariedade da construção habitacional. A maioria das estruturas são edificadas pelos próprios moradores, à base de tijolo oco, chapas metálicas onduladas e cimento de muito baixa qualidade. Ao colocar o museu nova-iorquino Guggenheim junto às favelas colombianas, o fotógrafo Victor Enrich chama a atenção para o facto de estarmos perante uma manipulação de imagem fisicamente plausível, mas socialmente onírica. “As imagens falam da acumulação de riqueza que se verifica hoje em dia no mundo. A minha intenção é misturar dois espaços que, na realidade, seriam muito difíceis de juntar”, explicou, em entrevista. O fotógrafo escolheu o museu Guggenheim por ser um símbolo de sofisticação, planeamento, riqueza, um símbolo do mundo ocidental - o oposto diametral de Uribe. A referência ao ocidente não é casual. Durante a estadia de 30 dias no subúrbio colombiano, Enrich detectou uma contradição muito particular: apesar da gritante pobreza da região, os jovens de Uribe vestem-se à imagem do que se encontra nas ruas da baixa de Bogotá. “Este é o ponto-chave para compreender quantos dos jovens locais querem livrar-se dos seus modos do sul e abandonar Rafael Uribe Uribe. Desejam mudar-se alguns quilómetros a norte e construir uma nova identidade.” Os jovens vêem os hábitos e tradições que os pais trouxeram das aldeias de onde são originários como obstáculos às suas aspirações sociais. “A realidade [circundante] não contribui para a manutenção de uma identidade e esse é o ponto mais doloroso aos olhos do fotógrafo. Uma vez terminado este estágio de "ocidentalização", a identidade de Rafael Uribe Uribe e as todas as suas "nuances" ter-se-ão perdido para sempre.” Ana Marques Maia