Socialistas espanhóis acusam Podemos de ter "fechado a porta" a um possível acordo

Iglesias vai fazer um referendo interno no partido para avaliar acordo entre Sánchez e Rivera - anunciou que vai votar contra.

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Iglesias anunciou um referendo, mas o Podemos em bloco vai votar contra AFP

As negociações para a formação do novo governo em Espanha entre PSOE, Podemos e Cidadãos parecem ter chegado a um fim anunciado. Depois de uma primeira ronda negocial falhada na quinta-feira, um possível acordo está cada vez mais longe e a tensão entre os três partidos é cada vez maior.

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As negociações para a formação do novo governo em Espanha entre PSOE, Podemos e Cidadãos parecem ter chegado a um fim anunciado. Depois de uma primeira ronda negocial falhada na quinta-feira, um possível acordo está cada vez mais longe e a tensão entre os três partidos é cada vez maior.

No final da reunião, a primeira que juntou representantes dos três partidos à mesma mesa, o partido de Albert Rivera apressou-se a culpar o Podemos pelo fracasso das negociações. Os socialistas reagiram esta sexta-feira, no Congresso dos Deputados, e acusaram o Podemos de ter “fechado a porta ao acordo”, considerando a atitude de Pablo Iglesias nas negociações como uma “artimanha”. “Nós sempre tivemos boa vontade, mas constatamos com indignação que Iglesias não queria o acordo”, afirmou Antonio Hernando, porta-voz do PSOE no Congresso, criticando a atitude do líder do Podemos que, no seu entender, não foi “franca, nem autêntica, nem sincera”.

Hernando acusou ainda o Podemos de querer forçar novas eleições, o mesmo desejo que, segundo o próprio, é manifestado pelo PP de Mariano Rajoy. “Ambos querem eleições, porque o Podemos vive melhor com Rajoy no Governo e com Sánchez na oposição, o que contrasta com o desejo de milhões de espanhóis”, afirmou.

Esta postura crítica dos socialistas deve-se ao facto de Pablo Iglesias, que não fez delcarações após a reunião de quinta-feira, ter anunciado um referendo interno, que deverá acontecer entre os dias 14 e 16 de Abril, onde os militantes do Podemos pronunciar-se-ão sobre o pacto estabelecido entre PSOE e Cidadãos, que não reúne uma maioria no Congresso dos Deputados. Indicou também o seu sentido de voto - votará contra -, que deverá ser unânime dentro do partido.

Numa conferência de imprensa, o líder do Podemos justificou esta medida devido à relutância dos seus parceiros negociais em aceitarem as suas propostas. “Opuseram-se a qualquer fórmula de Governo que incluísse o Podemos. As propostas do Podemos foram recebidas com imobilismo e saímos muito decepcionados da reunião. O PSOE não admitiu a possibilidade de seguir um caminho diferente ao do seu acordo com o Cidadãos”, afirmou Iglesias, citado pelo El País.

Para além disso, o líder do Podemos referiu que divergências em matéria económica contribuíram para o fracasso das negociações, mas apontou o dedo sobretudo à intransigência do Cidadãos, que, nas palavras de Iglesias, “não está disposto a apoiar um Governo em que esteja o Podemos”.

As reacções do lado do partido de Albert Rivera confirmam a dificuldade de um hipotético acordo entre os dois partidos. “Impossível” e “inviável” foram os adjectivos utilizados por José Manuel Villegas, vice-secretário-geral do Cidadãos, para qualificar a possibilidade do seu partido aceitar as medidas do Podemos, muito opostas às suas. Neste sentido, um novo encontro entre os dois partidos parece estar definitivamente posto de parte.

Perante a crispação entre Rivera e Iglesias, o PP, que há algum tempo desempenha um papel de mero espectador do “ménage à trois”, pode entrar novamente na equação. “É importante que o PP desça do monte e negoceie. Se o PP não quiser negociar, teremos novas eleições”, afirmou Rivera em entrevista à rádio A-3. “Numa reunião entre PP, PSOE e Cidadãos haverá divergências, mas também muitos pontos de acordo. Falemos”, acrescentou. Não obstante, esta solução será também bastante complicada, devido à oposição do Cidadãos na continuidade de Mariano Rajoy enquanto chefe de Governo, algo que PSOE também não aceitaria.

Também a vice-presidente do Governo em funções, Soraya Sáenz de Santamaría, reafirmou a importância do PP numa alternativa governativa, apelando a que Pedro Sánchez “chame Rajoy” para evitar novas eleições. Citada pelo La Vanguardia, afirmou que as negociações a três “não levam a lado nenhum” e insistiu numa “grande coligação” entre PP e PSOE, liderada por Rajoy.

Neste ambiente de desentendimento entre os partidos, que têm menos de vinte dias para formarem um novo Governo, o cenário cada vez mais provável é o de eleições antecipadas. Nesse sentido, qualquer passo em falso poderá ser fatal, com os socialistas a estarem numa posição particularmente frágil, uma vez que, a sucederam-se novas eleições, correm o risco de ver aumentada a sua distância para o PP, com o Podemos à espreita para se tornar na principal força de esquerda no Parlamento.